Ainda sobre a prova dos € 4
“Viva!
Chamo-me João Geirinhas e trabalho na RV. Mão amiga fez-me chegar os vossos comentários sobre a prova de tintos até € 4 na RV de Agosto que me suscitam as seguintes observações.
Acho notável o entusiasmo e a paixão com que estes assuntos são aqui tratados mas também acho que a paixão por vezes vos tolda um pouco o discernimento.
Como vocês devem saber vigora em Portugal o regime de fixação livre dos preços das mercadorias. Não há portanto preços fixados administrativamente nem nenhuma forma de alguém na cadeia comercial – produtor, distribuidor, etc - impor um dado preço a um vinho.Portanto quando se diz que um vinho tem um determinado preço, essa informação não é um dogma de fé nem uma verdade científica mas aquilo que toda a gente entende que ela seja: uma indicação aproximada do PVP que o consumidor deve esperar encontrar no mercado.
Dispenso-me de voltar a referir – porque o já fiz noutro espaço que deve ser acessível aos leitores da blogosfera – as razões porque acho que uma revista dirigida aos consumidores pode e deve indicar os PVP’s. É informação relevante e de interesse público.Como sabem essa informação é-nos prestada pelo produtor. Que não é um Zé Ninguém. Tem porta aberta, tem uma marca, um nome no mercado, uma reputação a defender, etc. Mais do que ninguém, é parte interessada no negócio e na sua credibilidade.
No país dos «chicos espertos», entendemos na RV que devíamos responsabilizar os produtores por essa informação. Porque os responsabiliza, precisamente, porque os compromete com o mercado, com os leitores, com os seus parceiros.
Uma coisa vos posso garantir: os preços indicados são sempre uma informação do produtor. E são sempre confirmados, a maior parte das vezes por escrito ou então com o registo do nome da pessoa que na empresa prestou a informação. E são posteriormente confrontados quando se recebem informações dissonantes. Esse sistema é baseado na boa-fé e, não sendo perfeito, tem funcionado. Com excepções, às vezes com enganos, (pouco deles voluntários) e com algumas imprecisões.
Mas tem funcionado. E, sobretudo, funciona como um poderoso condicionador à inflação dos preços. Isto é, comunicando ao mercado, através da RV, que o preço indicado é X, o próprio produtor está a dizer aos consumidores que aquele é o preço correcto do vinho, e que não deve comprar por mais se ele lhe aparecer mais caro. E numa altura em que a concorrência é feroz e quantidade de marcas no mercado ultrapassa o razoável, o próprio retalhista só tem é que procurar outras alternativas quando recusar ter à venda um vinho que o próprio produtor lhe diz valer menos.
Por isso não acredito que haja manipulação deliberada. Seria até um pouco tonto, convenhamos, fazer tudo (leia-se “aldrabice”) para ganhar uma prova e depois desta ganha, desse modo, não poder vir cá para fora tirar partido dessa vitória. Estão ver o vendedor da empresa “mistificadora” tentar vender um vinho que ganhou a prova dos € 4 e dizer que afinal o vinho custa € 5? Não bate certo, pois não?
Dito isto, como é evidente, se a RV soubesse que um vinho numa prova cujo limite é € 4 está no mercado com preço superior a € 5, retirá-lo-ia dessa prova. Admito uma variação - € 4,05 , €4,10, € 4,15, mas acima dos € 4,20, concordo que ele não devia pertencer àquele campeonato. Mas acho demasiado esforçada a tentativa do Rui em chamar a si as putativas dores de outros concorrentes “enganados” que ainda por cima não se manifestaram.
PS: Já agora o vinho em questão está á venda no Feira Nova a € 24,75 a caixa de 6, o que dá o custo de € 4,13 por garrafa. Longe do escândalo, portanto.
João Geirinhas”
Não é primeira vez que a RV, sempre pela mão do seu Director de Área de Negócios, João Geirinhas, comenta, ou procura esclarecer, algumas das questões levantadas aqui no blog. Fico satisfeito porque é este tipo de interacção, sempre saudável, que procuro quando escrevo os meus posts. Pena é que nem todas as publicações da nossa praça tenham humildade para igual comportamento.
Como é evidente, a RV apresenta as razões dentro de uma argumentação que lhe convém e que considera correcta. O contrário é que seria uma surpresa. Dentro da guerra dos números, pode-se sempre ir buscar promoções, vendas em quantidade, amizades, ofertas, etc, para “puxar” um vinho para perto dos 4€ e esquecer o facto de que, em boa verdade, na maioria do ano o vinho está a rondar os 5€ (ou mesmo superior, como acontece no Continente). Dito isto, muito acima dos 4,20€ tolerados. Isto é um facto!
Acredito que sejam os produtores a indicar os preços. O post referiu isso mesmo. Nunca foi posto em causa o contrário. Eu, pessoalmente, não acredito que o mercado (leia-se, os consumidores) consiga penalizar os produtores que “abusam” da boa fé na indicação do PVP. É neste ponto que, essencialmente, discordamos. Uma ou outra pessoa até o faz. Mas são as massas que fazem o negócio do volume e o que essas retêm é o vencedor do painel e, na hora da compra, até acreditam que mais um eurito que o indicado pode compensar.
Como referi, fiz este post porque a Casa de Santar é reincidente neste comportamento. Aliás, tem passado, também, por este aumento de exposição na RV, o levantamento da moral a uma marca que tinha, até à aquisição por parte da então Dão Sul, perdido notoriedade junto dos consumidores.
Se aos produtores pedi para tomarem vergonha, à RV pedi um aumento de rigor. Achei que tinha direito de o fazer enquanto apreciador exigente, como faz subtítulo na revista, e enquanto assinante da mesma. Mas está claro, a RV também tem todo o direito de considerar que a paixão de alguns leitores não é suficiente para que esta altere os seus procedimentos e repense as suas certezas.
Um abraço,
RC
p.s. O texto foi publicado na intengra conforme nos foi enviado por e-mail. Apenas introduzi algumas quebras de parágrafo de modo a facilitar a sua leitura.
5 comentário(s):
"PS: Já agora o vinho em questão está á venda no Feira Nova a € 24,75 a caixa de 6, o que dá o custo de € 4,13 por garrafa. Longe do escândalo, portanto."
Está a 4,13€ porque está em promoção, leve 6 pague 5...
O PVP é bem diferente carago.
Por favor ó Geirinhas, não nos queiras comer por parvos...
Enerva-me este orgulho do estilo "NUNCA NOS ENGANAMOS"
Caro Grilo,
obrigado pelo esclarecimento. Esse "artifício" estava previsto na minha resposta "Dentro da guerra dos números, pode-se sempre ir buscar promoções, vendas em quantidade, amizades, ofertas, etc, para “puxar” um vinho para perto dos 4€".
Como foi sendo aqui deixado nos comentários pelos leitores do blog, o vinho sem "artimanhas" ronda ou ultrapassa os 5€. Tudo o resto é artificio para justificar argumentação.
Ficou também claro que representantes da RV leram o protesto (se assim o querem chamar).
Portanto, é uma decisão consciente se para o ano a RV continuar a aceitar que vinhos acima dos 4€ (ou mesmo 4,2€) ganhem o painel de prova dos vinhos abaixo dos 4€.
Eu não o fazia até para salvaguardar as conclusões que depois retirava da prova e que escrevia em artigo. Que validade têm?
Façamos um suponhamos:
No próximo evento todos os produtores enviam vinhos de valor acima dos 4,2€ tolerados. O que acontece então?
Para quem respondeu, era ridículo, não se podia fazer pois não tinha sentido, era o descrédito total, etc. Pergunto: então porque se permite agora a alguns?
Para acabar com prevaricadores é colocar uma caixa em que se diz o seguinte: Os vinhos A, B, C foram desclassificados por apresentarem, durante a maioria do ano e na maioria dos estabelecimentos comerciais, PVP superior aos 4,20€ tolerados.
Acredito que no edição seguinte o número de desclassificados iria ser muito menor.
Um abraço,
RC
p.s. por favor, agradecia um certo suavizar do estilo "truculento" utilizado. O objectivo é que haja discussão saudável e bidireccional. Se ofendemos a outra parte é dificil que ela volte a responder. Obrigado!
Concordo plemamente com o post. O produtor em questão está "mamar" à custa da RV. De certeza que este Geirinhas tem alguma parceria com eles.
Parabéns pelo blog.
A resposta óbvia da RV...
Estamos atentos.
Abraço
Caro Atento,
preferia não entrar na acusação pessoal das pessoas da RV nem focalizar totalmente o problema no produtor em questão. Como disse no post, outros produtores fazem o mesmo. Acontece que esses casos são menos óbvios porque não ganham o painel de prova.
Um abraço,
RC
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