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quarta-feira, abril 05, 2006

"O Orelhas"

É muito provável que todo e qualquer enófilo português já tenha ouvido falar do restaurante “O Orelhas”. Aqueles que vivem na chamada Grande Lisboa é quase certo que já foram jantar a Queijas. Eu já lá fui duas vezes. Tentei ir mais duas ou três vezes, mas como não tinha marcação bati com a porta na cara e tive que ir afogar as mágoas para outro recanto.

A primeira que lá fui decorria o ano de 2003. Custa-me posicionar o evento na fita do tempo, mas apontava para perto do final desse ano. Tinham acabado de sair diversas novidades que nós aproveitámos para provar nessa visita. Éramos um grupo de oito. Mandámos vir por esta ordem (se ainda me lembro):
Cruz Miranda 2001 (Alentejo)
Dado 2000 (Dão/Douro)
Poeira 2001 (Douro)
Batuta 1999 (Douro) - ou 2000, aqui falha-me a memória
Qt. Vale Meão Vintage 2000

Não vou fazer aqui a apreciação exaustiva dos vinhos, pois a passagem do tempo deixa as suas marcas, mas recordo que achei o Cruz Miranda demasiado maduro e doce, o Dado demasiado taninoso e adstringente, o Poeira equilibrado e bom, o Batuta demasiado alcoólico e bruto, Qt Vale Meão perfeito a acompanhar uma excelente sericaia.

O ponto alto da noite foi a visita efectuada a um das duas garagens repletas de caixas de vinho que o proprietário detém num prédio contíguo ao restaurante. Estava lá tudo. Todos aqueles vinhos que nós queríamos um dia provar. E não eram uma ou duas garrafas de cada marca, eram caixas.

Ontem, voltei lá. Éramos três. Tal como na anterior visita não cheguei a ver a ementa. Só tive direito a escolher entre peixe ou carne. Escolhi peixe. Ainda tentei avançar com a ideia que queria um peixe que aguentasse um vinho tinto mas acho que foi como se estive a pregar aos peixes. O que me chegou à mesa foi uma surpresa: uma posta de garoupa grelhada. Quer dizer, parte de posta já que peixe devia ser enorme. Bom.

Cometi a audácia de pedir a carta de vinhos. Em volume parecia um livro do Saramago. E se nos livros deste é escassa a pontuação, esta carta de vinhos obrigava a constante pontuação por parte do leitor. Pontos de exclamação, tais eram os preços pedidos. Percebi mais tarde que a lista é mais para “inglês ver” do que outra coisa. Primeiro, a lista não tem todos os vinhos que o restaurante tem, segundo, os preços indicados na lista não são realmente os praticados. Convém que tudo seja “falado” com o “orelhas”. Como curiosidade, quem tiver mais de 4.000 euros para gastar pode mandar abrir um Quinta do Noval Nacional Vintage 1963.

Pedi um Quanta Terra 2003 do Douro (não está na lista, nesta só está o 2002). Aroma a fruta madura e compota. A boca confirma o ano quente e apesar de ser um pouco unidimensional, nessa única dimensão – a fruta madura – é muito bom. Guloso. Devia ter sido servido um pouco mais fresco (não medi mas de certeza que passava os 20º) para não potenciar o álcool elevado (14,5º) e torná-lo um pouco pesado e “madurão”.

Com a sericaia, uma especialidade da casa (fininha e nada seca), abrimos um Fonseca Vintage 2003 (375ml). A sericaia é excelente e o vinho é formidável mas a combinação não funciona. O vintage, o qual eu já avaliei aqui neste blog, apresentou-se mais uma vez excelente. A juntar à minha apreciação anterior o facto de desta vez lhe ter notado um forte e interminável final a chocolate preto. Uma delícia.

Em resumo um excelente jantar com preço decorrente dessa mesma excelência. Quem vai ao “Orelhas” não pode ir a contar os trocos que tem na carteira. Até porque não se sabe os preços de quase nada. Mentalize-se que vai comer bem e beber vinhos de eleição (o único reparo é a temperatura de serviço). Aprecie o momento. Mentalize-se que irá ter pouco a dizer sobre o que vai comer e o que vai beber. Deixe-se guiar. Não hostilize o anfitrião. E mais uma vez, aprecie o momento.

19 comentário(s):

João disse...

Meu caro,

Bebemos um Batuta 2000.

Na altura provámos sem saber de que vinho se tratava. Lembro-me muito bem do sabor alcoólico ligeiramente em excesso, mas compensado por um sabor e um corpo que nos enche totalmente a medida.
Foi, penso que para a maioria dos presentes, a primeira vez (de muitas, felizmente) que provámos um vinho de "topo", daqueles que alguns anos antes nem nos atreviríamos a pedir.

O Cruz Miranda é interessante para uma prova, mas desconfio de alguém que consiga beber meia garrafa à refeição. Mais parece um lbv.

O Poeira foi maravilhoso. Ainda hoje o é. Engraçado como é um vinho que faz continuamente parte das nossas provas. Eu, pelo menos, é dos que mais utilizado para comparações do tipo "quase tão fino como o Poeira ...".

O Dado continua a não me entusiasmar. E bem que eu gostava que assim não fosse, visto que tenho ainda umas 5 garrafas em casa e raramente opto por as abrir.
Para mim foi um vinho que ficou mais conhecido pela experiência da junção Dão/Douro ou Álvaro de Castro/Dirk Niepoort do que propriamente pelo resultado final.

O Qta do Vale Meão Vintage 2000, ainda hoje o saboreio.

Não há nada como as primeiras recordações e este jantar decerto que ficou na memória de todos os participantes.

Isto é como perder a virgindade, e a minha 1ª vez no que se refere aos Vintage e ao Batuta foi e sempre será no "Orelhas".

Anónimo disse...

Confesso que sempre me fez imensa impressão o estrondodo sucesso de um restaurante como o «Orelhas». Mais estranho ainda que esse sucesso, pelos vistos, se deva em grande parte aos supostos «amigos do vinho». É que sendo certo que a lista dos vinhos é de facto impressionante e estão lá todos os nomes sonantes, dificilmente imagino um restaurante onde a prova desses vinhos seja tão penosa. É a temperatura em que os tintos são servidos, é o barulho ensurdecedor próximo de uma tasca, são as baforadas de fumo, é o ambiente...etc, etc. Nada daquilo aconselha a degustação de grandes vinhos naquelas condições.
Depois o truque de fazer os preços conforme a cara do freguês, o convite à negociação do que se paga pela garrafa, a espertice saloia de um eventual segundo vinho sugerido já não ter sido negociado e o preço vir escaldado na conta, atira a coisa mais para um departamneto da Medida de Tunes do que para um restaurante que quer servir produtos de referência.
Na minha opinião, o facto de ser o restaurante eleito pelos executivos engravatados da nossa praça em comerem rótulos da moda, só mostra a sua pobreza em termos de exigência eno-gastronómica.

teste disse...

Caro Jgr,

antes de mais gostaria de lhe dar as boas vindas a este espaço de discussão que, como é fácil de ver, é bastante plural.

Quero-lhe dizer que concordo com muitas das críticas que faz ao restaurante Orelhas, tenho a opinião de que o dono poderia fazer muito melhor se fosse ele, também, um apreciador de vinho (que não é, segundo palavras do próprio não bebe vinho porque não gosta).

Discordo de si no "volume" da crítica, passo então a explicar, parece-me que não sendo o sítio mais adequado para beber vinho, é, provavelmente, o sítio que conheço onde os grandes vinhos podem ser bebidos mais em conta. Não sei que experiência teve no Orelhas, mas comigo nunca um segundo vinho sugerido veio a "escaldar" na conta. Não sendo eu, nem nenhum dos elementos deste blog, um executivo engravatado, temos de nos deslocar a locais onde os grandes vinhos nos são colocados da forma mais acessível. Desta forma, prefiro beber um Batuta no Orelhas por 100€, mesmo com o barulho e com algum excesso de temperatura (não me parece que seja muito frequente mas acontece) do que, pelos mesmo 100€, beber vinhos de muito menos qualidade só porque é um restaurante mais elegante e como tal com menos aspecto de “cantina”. Acredite que já tivemos episódios bem mais desagradáveis em restaurantes com pretensões de nível superior, e que se cobram como tal.

Relativamente a outros aspectos do restaurante, parece-me que tem um adequado serviço de copos e tem uma comida de bom nível de qualidade, embora com níveis de criatividade e apresentação reduzidos. O atendimento é simpático, embora com algum nível de pretensiosismo por parte do dono, que gosta de se exibir para os clientes.

Anónimo disse...

Obrigado pelas boas vindas que de resto já tinham sido apresentadas por ocasião de uma outra intervenção minha anterior. Isto também para vos dizer que felicito vivamente este blog pela atitude descomplexada em relação ao vinho e à gastronomia e que por isso me têm como leitor fiel.
Ao ler a sua resposta, percebi que podia ter ficado com ideia que aquela referência aos «executivos engravatados» que frequentam o «Orelhas» era alguma critica pessoal. Longe de mim presumir algo de pessoas que não conheço e só me merecem estima pelo que li delas. Era mesmo uma constatação de um facto: das vezes que lá fui, fiquei com a ideia que a maioria da pessoas que frequentam o restaurante o fazem para beber rótulos ou para impressionar o parceiro.
Mas admito que o «volume» do meu desagrado seja maior que o vosso. É apenas uma questão de sensibilidade.
Continuação de boas provas.

rui disse...

O ricardo em cima, no geral, já disse quase tudo. De qq forma deixo aqui a minha opinião:
- O “orelhas” não tem as melhores condições para beber vinhos de topo. A sala a partir de determinada altura fica muito quente e existe algum fumo vindo da cozinha, que é aberta para a sala. Do barulho não me queixo pq geralmente sou dos que faço mais barulho (como falo alto até é bom que haja barulho para que as pessoas do lado não ouçam o que eu digo).
- Não gosto muito da atitude “empregado chico-esperto” do “orelhas”. Mas acredito que haja pessoas que se dêem bem com essa atitude e, depois de criarem com ele alguma “amizade”, aumentem os níveis de familiaridade e pertença.
- O regatear dos preços até pode ser engraçado mas é preciso ter espírito para a coisa (quem já foi a Cuba, Republica Dominicana ou Marrocos e não gostou, está “lixado”!)
- Não gosto do facto de não saber o preço daquilo que vou comer. Deixo esse aviso no post.
- O pior para mim, e tb o referi no post, é facto do vinho não ser servido à temperatura mais correcta. Infelizmente, não é defeito só do “Orelhas”. Em restaurantes dedicados ao vinho este problema deve ser, como é óbvio, ainda mais veementemente criticado.

Então o que é que o “Orelhas” tem de bom? Resposta: tem todos os vinhos portugueses de qualidade que eu quero beber. Dirão alguns que só tem as novidades. Óptimo. Peço desculpa, mas por norma não gosto do tinto com mais de 6/7 anos de idade. Haverão outros restaurantes, especializados em “relíquias”, aos quais pessoas como eu vão jantar e criticarão o facto de não terem na carta as últimas novidades do Douro ou facto do vinho mais recente ser de 1997.

Sei que saiu um vinho qq e que não consigo arranjar no mercado, então vou ao “Orelhas”. A probabilidade de o beber é enorme. Tem que ser este o espírito. E é nisto que ele é bom. Nisso e na sericaia.

teste disse...

Caro Jgr,

quero dizer-lhe que entendi perfeitamente o comentário dos executivos engravatados, até porque tenho uma opinião semelhante sobre os frequentadores, a minha resposta foi no sentido de afirmar que, não sendo um deles, frequento o restaurante pelos motivos que referi (com grande destaque para a grande carta de vinhos).

Anónimo disse...

Caros Amigos,

Sou frequentador assiduo do "Orelhas" à mais de 5 anos. Antes de existir o "Orelhas" já existia na mesma localidade "o Quicas" do mesmo dono e com o mesmo "staff" e já lá eu comia.

Não sou executivo engravatado, mas gosto de comer bem, e ai acho que temos que fazer distinções e saber ao que vamos.

Se queremos comida "bonita" vamos ao Eleven, ao Terreiro do Paço ou a outros tantos, mas se queremos comida de "tacho", o Orelhas, na grande Lisboa é sem dúvida a melhor opção.

Já agora, aproveito para informar-vos que desde Setembro do ano passado, o "Orelhas" fez obras, contando agora com uma sala moderna, com uma muito melhor extracção de fumos da cozinha e de uma excelente e imponente montra de vinhos "refrigerada", para culmatar o problema da temperatura do vinho e imaginem, até já tem copos decentes para o tinto., o que não aontecia até então.

Não posso deixar de concordar convosco, no facto de não sabermos o preço do que comemos ou bebemos, mas tambem não é todos os dias que nos "despejam" em cima da mesa duzias de entradas,de sobremesas e nos deixam também a garrafa de vintage ou de whisky em cima da mesa, à descrição.

Contudo, acho que um dos maiores defeitos do "Orelhas" e já o disse ao Paulo (Orelhas) (Dá para entender quem é), é não saber o preço do que se pede.
Acho que uma maior transparencia não lhe fazia mal nenhum.
Ninguem deixaria de lá ir, mas pelo menos sabia o que estava a pagar e não se sentiria enganado.

Aconselho a conhecerem o "Orelhas" ao almoço pois tem os pratos do dia que o cozinheiro António Travassos faz como ninguém.
Marque para uma lampreia quando estiver na epoca.
Coma uma boa dourada do mar escalada.
Mas sobretudo...beba uma bom vinho !

Seja atrevido. Diga até quanto está disposto a pagar pelo vinho. Ele têm belos vinhos a 10€.

Quando vier a conta, não pense mais nisso, esqueça o "barulho" a mais que ouvio (o vinho tem destas coisas) e aprecie tudo o que de bom comeu e bebeu.

Aproveite enquanto espera por mesa para ver as molduras das fotos das pessoas conhecidas, dos artigos em que já foi alvo de publicação e dos prémios que já ganhou.

Resta-me acrecentar que são frequentadores assiduos: Mister Scolari, Selecção Portuguesa, Equipa do Benfica, quase toda a SIC e TVI, Fernando Mendes (que tanto fala do Orelhas nos seus programas), Visão (como duzias de reportagens publicadas), etc, etc. Isto só para salientar que não é ferquentado só por "engravatados".

Boas provas.
1 Abraço.

PS. A minha "virgindade" de Vale de Meão Vintage Port tambem foi no "Orelhas".

Anónimo disse...

Sim, sou um "engravatado". Conheci o "Orelhas" através de uma colega "engravatada" que, por coincidência, é familiar dos donos deste simpático espaço degustativo.
Fui sózinho ao almoço de um Sábado, primeiro cliente da casa nesse dia (cerca de meia hora depois chegaram os segundos), o que me permitiu iniciar conversa com Pai e filho e alguns elementos do "staff". Algum distânciamento frio nos primeiros minutos, simpatia franca e aberta daí em diante. Fui lá aconselhado pela comida, não pelos alcoóis. No entanto que surpresa, senhores! Os vinhos estão mesmo lá todos (pelo menos todos os que interessam). Acompanharam cherne grelhado e cabrito assado no forno (primoroso de confecção, suculência e sapiência, sem rodriguinhos nem "truques na manga"). Fui mesmo á sericaia no final, sem deixar de provar um dos excelentes digestivos (oferta da casa).
De seguida, visita a um apartamento vizinho todo ele cheio a abarrotar de vinhos. Da casa de banho á cozinha!!! Que sonho...
Sim, o espaço é acanhado e com os vizinhos de ocasião demasiado ao nosso lado, sim, o barulho é muito, sim, há fumo. Mas... entre este e um qualquer outro estirilizado e estilizado espaço degustativo cheio de "pareceres" e dando menos importância ao "ser-se", não tenho dúvidas. "Orelhas" sempre. Obrigado.

Anónimo disse...

Um dia também quiz ir ver o fenomenal orelhas.
Sim senhor! Comida caseira, bem tratada, mas sem concorrer com muitas casas de Lisboa, onde se come igualmente bem. Mas, e concordando com algumas críticas que li e já ouvi a outros que como eu foram certificar-se do que ouviam, o que me surprendeu mesmo foi o seguinte:
-Como é possível que um "engravatado" ou um menos formal se sinta bem numa tamanha confusão de barulho e espaço reduzido de pedir licença para passar entre as mesas,
- como é aceitável num país onde se fala tanto de qualidade e de inspecções de higiene alimentar, se vejam deambular, as cericaias e o respectivo molho com meixas de mesa em mesa, bem como outras sobremesas
-Como é possível e aceitável que
que uma tão grande garrafeira com todos os requintes de "novo riquismo",não tenha todavia o vinho que se pede mas, curiosamente "um outro equivalente" mas ao pagar a conta com um valor bem superior ao solicitado.
Como é possível, letrados e falsos simplórios embarcarem em semelhantes teatradas.Pior, tão contentinhos que ficam que até se vão embora na paz dos anjos sem pedir uma factura, etc....
-Como é possível tanta permissividade!!

Anónimo disse...

Olá,chamo-me cristina travassos,pelo nome dá para ver possivélmente quem sou.Irmã do Orelhas,também eu uma orelhas.Vivo em Arganil,e tal como o meu irmão não gosto de vinho,mas isso não quer disser que ele não tenha muito orgulho naquilo que faz.Poucos restaurantes podem dar aquilo que os clientes vão lá procurar.E eu pergunto fome e sede não passam pois não? O que mais importa.O dinheiro foi feito para se gastar.Cristina Travassos

Anónimo disse...

Subscrevo completamente a opinião do jgr. Poucos são os restaurantes em que prometi a mim mesmo não voltar e este é um deles (assim de repente nem me recordo doutro).

Sublinharia apenas o estrondoso barulho, a recordar uma tasca, o fumo, a temperatura do vinho e (como se pudesse ainda descer mais) o pior, a esperteza dos truques com os preços da refeição e dos vinhos. Digno de malabarista, estão a ver o termo transparência? Aqui estamos no campo da opacidade máxima, e claro, no final uma conta completamente despropositada, em particular se tivermos em consideração o espaço e o serviço.

De fugir (mesmo !!!)

Ricardo Felisberto

Anónimo disse...

Acabado de chegar do "Orelhas", venho aqui deixar mais um contributo, desta feita para concordar com o JGR e com o Ricardo Felisberto. O tal de "Orelhas" é mesmo uma desculpa patética para restaurante, para além de lá não voltar, não o recomendarei nem ao meu pior inimigo e doravante contribuo para desmistificar a suposta "fama" (no meu mundo, o académico, também há muito disto) do sítio.
A juntar ao típico chico-espertismo já aqui descrito, que compreende o atrevimento assaz irritante do pseudo-dono/pseudo-empregado/pseudo-amigalhaço dos fregueses (já que esteve mais vezes sentado numa das mesas a ver o Liverpool contra o Chelsea do que a fazer o que lhe competia), temos ainda um serviço que sinceramente não me parece que tenha existido, o outro empregado, um rapaz Brasileiro, bem que tentou mas pouco percebe daquilo, primeiro que acertasse com o uísque era milagre. Pelos vistos o espertalhão que já mencionei também não gosta que o desajeitado do ajudante mexa nos vinhos, dado ter ido em passo acelerado impedir que o rapaz entrasse no expositor ou pseudo-sala de troféus vinícolas, como se fosse uma coisa de irmãos a batalhar por um brinquedo.
Comida? Abaixo de fraca, não creio que uma "ementa" de "picanha/secretos de porco preto e costeletas de vitela (que só figuraram depois de termos feito uma expressão tipo a de um habitante do Darfur depois um ataque das milícias árabes), uma "garoupa que temos para aí" e um "bacalhau" seja algo que se apresente numa casa que li numas mensagens mais acima ser "a melhor opção" na zona de Lisboa se não quisermos comida desenhada a metro oriunda de academias neo-Bocusianas, como se pratica no Eleven e quejandos. Até no meu frigorífico tenho mais material para cozinhar que o tal de "Orelhas".
Quanto aos vinhos, lá lista têm, agora COMPETÊNCIA para lidar com eles, essa é outra história.
Os erros sucederam-se: na lista desde o enólogo errado no Barca Velha de 64 ou 65 até ao "Chatu" aquando da referência ao Château Petrus até ao acto de decantar na vertical, pelos vistos ali só se sabe mesmo é levar o copo à boca e cobrar a vinhaça consoante a fronha do cliente. Deplorável.
Entradinhas: o melhorzinho, mas as do Poleiro ou as do Galito são muito superiores, assim na ordem de uma goleada Sporting v. Appoel de Nicósia, 16 a 1 (em 1963/64). Os rissóis e pastéis de bacalhau ficaram no prato depois da primeira prova, a farinheira nem em sonhos rivalizaria com a do Galito e as "gambas à guilho" comeram-se.
Os tais pratos principais: carnes que até num centro comercial à pressa lhe são superiores (depois de se comer picanha com palmito no Rio de Janeiro fica-se mal habituado, tudo o resto é inferior), o bacalhau ninguém decifrou se era à brás sem cebola ou assado completamente embebido em azeite, com umas batatas demasiado cozidas (ali impunham-se era umas batatas a murro, coisa que o tal dono disse que não se fazia). A mim coube-me as tais "costeletas de vitela", que afinal era uma costeleta daquelas à Diamantino em Cascais, grande como tudo, moderadamente grelhada (nem me perguntaram como é que a queria, se bem, se mal, se assim-assim), acompanhada de umas batatas fritas e de uma salada que serviam também de acompanhamento ao resto da tropa, claro que o pobre do outro empregado, que pouco ou nada percebe de serviço de mesas, colocou os acompanhamentos todos na minha zona, tal como o vinho, pelos vistos tenho cara de armazém ou então deve ter tido medo do resto da minha rapaziada, só pode.
Sobremesas, bem as sobremesas foram três: atiradas para cima da mesa em três pratos, um de arroz doce (razoável, but where the hell was the cinnamon?), leite creme (eu até gosto assim, mas não deveria ser queimado?) e uma barriga de freira que basicamente salvou o conjunto. A sericaia nem nos foi apresentada e vi serem servidos uns copos com um qualquer líquido para lavar o palato após a refeição, algo que não nos foi servido, pelos vistos a malta da mesa ao lado tinha melhor aspecto.
Assim, ter uma lista de vinhos daquelas para a comida, o serviço, o ambiente e a casa em si SÃO PÉROLAS A PORCOS, desculpem-me a expressão mas é o que me vem à cabeça. Utilizando uma linguagem à Marcelo Rebelo de Sousa, o "Orelhas" nem metade da nota para a prova oral tem.
Eles são o "Orelhas" e nós depois de pagar a conta ficamos com uma grande cabeça.
De facto, é uma casa a jeito de javardos da TVI, apresentadores obesos sem classe nem gosto, dirigentes desportivos e futebolistas igualmente pequeno-burgueses e desprovidos de gosto gastronómico e honestidade, executivos de sapatos quadrados à frente e nós de gravata grandes e outras peças da fauna social de Portugal. Mas pronto, gostos não se discutem e quem gosta, gosta.
A mim é que não me convenceu, mesmo nada.
As bestas da imprensa que andam para aí a escrever maravilhas disto só demonstram ser iguais aos seus colegas do cinema e da música: uns labregos de quinta categoria que deviam era dedicar-se a tudo menos ao que fazem actualmente.
No meio disto tudo até me esqueci do nome do vinho que se bebeu, um tinto alentejano (de Moura), de 1999, Garcia qualquer coisa. É que beber bem mas comer mal, sinceramente não é para mim, só mesmo para alcoólatras.
Fome não se passou, nem sede, mas escrever isso é uma desculpa estúpida que baste quando se cobra o que se cobrou.



Bem hajam.

Anónimo disse...

Pois, infelizmente sou uma das pessoas que concorda consigo.

A muito custo, e a pedido de um amigo do Algarve, lá fui eu jantar ao tão conceituado "Orelhas". Que desilusão! Carissímo e sem qualidade!
As entradas pareciam interessantes, mas sem surpreender. Pedimos um Rosé e foi-nos servido um "ervideira" já com mostras de estar a ficar "envelhecido" demais (meio acastanhado) (era o único que tinham 2003). Pedimos Peixe (a alternativa era peixe ou carne)e o desgraçado apareceu assado demais. Tivemos de pedir molho de manteiga, pois só assim era possivel o conseguir comer.
Escapou o vinho Tiara, excelente! Mas que apesar de estar marcado na tal carta a 25 €, desconfio que paguei por ele muito mais! E para finalizar, as tais sobremesas colocadas na mesa como imposição!
A conta foi um estrondo! Ainda hoje não sei o que é que paguei.Preferia ter ido jantar ao Porto de Sta Maria, aí tinha a certeza de comer bem e ser bem servida e desconfio que a conta não seria muito maior. Coitado do meu amigo do Algarve que estava cheio de expectativas! No Orelhas foi a primeira e a ultima vez.
Restaurante os Arcos, Casa da Dizima, Casa Gallega, Astrolábio, Porto de Sta. Maria, Furnas do Guincho; Montemar, 100 Maneiras, Beiramar, Faroleiro, Virgula, Jacinto, Galito, ........etc......tantos, todos tão diferentes e tão bem melhores.
Bem, mas valeu pela experiência.
Claro que concordo com quem afirma que o Orelhas é uma garrafeira de luxo, que tem todas as preciosidades. Mas acho que não justifica!

Anónimo disse...

Sou cliente do Orelhas.Concordo com todas as críticas, as que o valorizam e as que o desvalorizam. Tudo corresponde à verdade factual. É a tal história de para uns se destacarem os aspectos positivos e outros que vão há procura de defeitos, com se de examinadores se tratassem. São dispensáveis, os exames. A casa é honesta. Apesar de tudo o que pode ser apontado de menos positivo, o facto é que continuo cliente. Porquê? Quem conhece a casa e lá se desloca de boa fé sabe, quanto aos outros, bem, a minha preferência dev ser motivada pelo masoquismo. Para todos, os que gostam e os que não gostam do Orelhas, continuação de boas experiências gastronómicas. Um abraço...

Anónimo disse...

Ayatollah of Rock'n'Rollah ... deve ser mesmo chato viver revoltado com tudo e com todos.... sentindo que se é um ser muito superior ! Deve ser frustrante viver num mundo assim, tão arreliado, em que de repente, sem se "curtir" a vida, se morre, tão arrependido...
O que é certo é que maioria de quem vai ao Orelhas volta...e certo tambem é que está sempre cheio e com fila à porta....sabe o que é....faz-me lembrar a anedota do inergume que vai em sentido contrário na auto-estrada e ouve o aviso na rádio e pensa...."UM ??? Eu vejo tantos ?!" E olhe coma e beba bem enquanto está vivo...porque vai passar muito tempo morto !

Abraços,

Anónimo disse...

Conheço restaurantes de 15 países civilizados e uns quantos noutros países longe da civilização

Já fui 4 vezes ao Orelhas com os amigos, só paguei uma e é óbvio que foi um roubo embora esse nem seja o maior problema pois em mais de metade dos restaurantes com pretensões em Portugal um gajo é roubado.

Em mais nenhuma parte do mundo é possível ter sucesso com um restaurante daqueles. Os vinhos são famosos, sem dúvida o resto é tudo medíocre ou sofrível; os copos, o serviço, o chico espertismo do proprietários, a comida sempre igual, o novo riquismo emergente dos clientes.

Não tem nada de tradicional pois chega a ser boçal.

É uma boa imagem da merda do país que temos.

Anónimo disse...

Anibal Cavaco e Socrates disse...

Ayatollah of Rock'n'Rollah ... deve ser mesmo chato viver revoltado com tudo e com todos.... sentindo que se é um ser muito superior ! Deve ser frustrante viver num mundo assim, tão arreliado, em que de repente, sem se "curtir" a vida, se morre, tão arrependido...
O que é certo é que maioria de quem vai ao Orelhas volta...e certo tambem é que está sempre cheio e com fila à porta....sabe o que é....faz-me lembrar a anedota do inergume que vai em sentido contrário na auto-estrada e ouve o aviso na rádio e pensa...."UM ??? Eu vejo tantos ?!" E olhe coma e beba bem enquanto está vivo...porque vai passar muito tempo morto !

Abraços,





E aprender a escrever, não? E continuo a achar o Orelhas um dos piores restaurantes do país.
E se a "maioria" volta, então é porque se confirma o meu retrato da clientela: cambada de bimbos despojados de gosto e/ou de gente que não quer ser vista em restaurantes dignos, quiçá com medo de algo, mas que gosta de bons vinhos (mas muito mal servidos, infelizmente) ou de idiotas que gostam de ostentar a vinhaça que bebem aos restantes compadres.
Vá mas é ao Solar dos Nunes ou ao Galito e depois mande-me um postal.

O Orelhas é uma tristeza, ponto final.

Anónimo disse...

E essa da contra-mão deve ser para rir (o Sr. na volta deve ser é o idiota do proprietário do Orelhas). O Big Show SIC também tinha percentagens enormes de audiências e não deixava de ser uma porcaria inenarrável de programa.

Jorge Caldeira disse...

Francamente mau! O serviço é muito amador, sitematicamente forçam ao cliente as entradas, colocam na mesa águas com preço exagerado, não existem "ementas", dizem eles, preferem servir travessas de carnes grelhadas, o espaço em si representa o pior que a decoração pode apresentar, faz lembrar os restaurantes da década 80 e terminam com uma carta de vinhos pretenciosa. Do dono ouvi - "se quer ementa vá a uma tasca!".NUNCA MAIS VOLTAR.

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