A especialidade deste VinhoaCopo Convida foi a inevitabilidade da sua realização. Apesar de uma troca de datas ter feito perigar o evento, a providência pela mão do participante Pedro Silva, encarregou-se de voltar a encarrilar o jantar a tempo dos “passageiros” não perceberem o quão perto esteve de não acontecer. Ou pelo menos, de não se realizar da excelente forma como acabou por decorrer. Ao Pedro, um obrigado pelo acaso da visita a meio da tarde. À equipa do Ágora, um obrigado pelo esforço demonstrado no curtíssimo tempo disponível.
A ementa que nos foi brindada:
- Pão, azeitonas, degustação de azeites, pratinho de Pata Negra
- Carpaccio de Salmão Fumado com lascas de queijo Brinza e azeite de funcho
- Croquetes de sardinha com salada variada e vinagre balsâmico
- Pasteis de bacalhau com molho agridoce e bouquet de salada
- Morcela de arroz frita com xerém e grelos
- Cataplana de bacalhau com mexilhão e poejo
- Tiras de vitela brava ribatejana grelhadas com migas de linguiça
- Túlipa de chévre da Maçussa gratinado com gelado de mel de rosmaninho e nozes
Destaco os croquetes de sardinha pela originalidade, a morcela de grande qualidade, a cataplana que repeti duas vezes e o gelado de mel de rosmaninho que sozinho fazia a festa. A vitela era de excelente qualidade mas teve o senão de chegar no fim de uma refeição que já ia longa. Ou seja, as forças (e a elasticidade estomacal) já não me permitiram “tourear” a dita com as atenções que merecia.
Seguem as notas de prova dos vinhos da noite (pela ordem de prova):
Espumantes
Vértice Reserva 2006 (Douro) – não me atrevo.
Brancos
PV 2005 (Douro) – Aroma contido pouco exuberante com ligeiras notas da madeira. A boca é estranha. O primeiro impacto cítrico é imediatamente cortado para um final amargo e repentino.
Herdade do Sobroso 2007 (Alentejo) – O aroma denuncia fruta tropical a par de algumas nuances citrinas. Algumas notas de rebuçado. Boca é frutada mas com boa acidez.
Tintos
Ad. Coop. Borba Cabernet Sauvignon & Syrah 2004 (Alentejo) – A cor apresenta tons acastanhados a indicar-nos que o tempo de garrafa já fez das suas. O aroma confirma essa imagem apresenta também alguns sinais de cansaço. A boca delgada e sem fruta, mostra que o vinho já passou a sua melhor fase ou esta garrafa em particular, devido às circunstâncias de estágio, envelheceu prematuramente.
Pilheiros 2005 (Douro) – Face ao anterior, no extremo oposto da juventude! Cor bem vermelha escura e aroma muito doce a fruta acabada de fermentar. Toque lácteo. Enganou muita gente na idade do mesmo. A boca mostrou um vinho que irregular. Alguma fruta com razoável acidez a dar vida ao conjunto. Final médio com final licorado e ardente.
Sirga 2006 (Douro) – Aroma pungente a frutos pretos maduros. Tudo muito vivo. A boca confirma esta “novidade”. Esta versão de 2006 parece-me que herdou o aroma e a fruta madura da primeira versão (2004) e acrescentou-lhe o final mais aguerrido e de maior acidez da segunda versão (2005). Está neste momento um vinho muito novo que precisa de uns meses de garrafa para equilibrar. A beber agora necessita de temperatura correcta e prato forte.
Dado 2000 (V. Mesa) – Cor impecável nos vermelhos sem demonstrar sinais de fraqueza. Aroma da noite. Muito fresco com notas balsâmicas suaves. A boca mostra-nos um vinho fino (mas não diluído) com a vida enorme dada pela forte acidez. Excelente cumprimento de boca. Um vinho que continuará mais uns anos em garrafa sem problemas. A forte acidez é que aconselha pratos específicos. A sua maior força é também o que o torna muito selecto quanto à iguaria aconselhada.
Señorio de Peñalba Reserva 1996 (Bierzo-Espanha) – Cor de madeira velho mas sem o brilho característicos destes. Castanho. O aroma é um cockatil explosivo de tudo menos de fruta. Caril, madeira exóticas, barro, ferrugem, etc. A boca é ligeiramente diluída apresentando uma razoável acidez que não o deixa cair na boca. Um vinho que é curiosidade para o fundamentalistas dos vinhos velhos e para quem gosta mais de cheirar do que de beber.
Herdade dos Grous Moon Harvest 2007 (Alentejo) – A cor impressiona ao cair no copo. Carregado! As uvas estavam maduras e eram pretas. Aroma mostra-nos isso mesmo. Muita fruta preta com ligeira notas da barrica de estágio. A boca é uma bomba. Muita estrutura, tudo em potência e pouco em elegância. Final guerreiro de um vinho que precisa de amansar mas que para quem gosta deles com pêlo na venta é um must.
Qt. Crasto Vinhas Velhas Reserva 2006 (Douro) – Aroma típico dos Crastos . Fruta madura em quantidade e ligeira baunilha da madeira. Menos balsâmico que o 2005. A boca é uma continuação do nariz com o vinho monossilábico na fruta madura e um final forte e doce que o torna excessivo. Um pouco decepcionante, e daí a baixa nota. Talvez o tempo lhe traga outra complexidade e harmonize o final.
Generosos
Qt. Infantado LBV 1983 (Porto) – A cor é de um colheita ou tawny 20 anos. Nariz de frutos secos mas sem grande entusiasmo. Corpo delgado, razoável acidez e final ardente a dar-lhe algum prolongamento mas claramente já foi LBV que deu uvas.
Qt. Portal Vintage 2006 (Porto) – Preto na cor. Aroma dentro do estilo clássico. Frutos pretos maduros, balsâmicos e erva-doce. A boca é mais desapontante para gosta (como eu) de beber vintages novos. Muito fechada. Contraído na fruta e com final abrupto. Pouco cordato é daqueles que por agora não dá grande prova. Pode ser que quem atribui notas com previsões a 20 anos consiga fazer mais por ele do que eu.
Foi o jantar convívio mais concorrido. Não terá sido dos mais marcantes ao nível dos vinhos provados. Pelo menos para mim que, pelas notas a cima, ando um esquisitinho. No entanto, pelas peripécias que teve, pelo facto de estarmos os cinco presentes (raríssimo) e pelo facto de termos presentes amigos que não víamos à muito, foi um grande jantar convívio.
Especial no nome, primeiro. Especial na memória, por fim.
p.s. pode ser que haja um VinhoaCopo Convida Especial Ano Novo em Janeiro.