À Volta do Vinho

Restaurante ali para os lados da Assembleia em São Bento. Não é fácil de encontrar, na rua Manuel Bernardes, só lá vai quem conhece ou tem amigos que conhecem. Comigo, aconteceu o último caso. Afirma, no seu sítio na internet, que pretende “fazer uma ligação entre o vinho e a boa gastronomia portuguesa e internacional “.

O restaurante tem às quintas-feiras um menu especial de degustação dedicado ao vinho. Atente-se o da última sessão (09-03-2006):

Entrada
Bacalhau à Brás (Muito bom. No ponto não estava seco nem tinha o ovo cru - considero dos pratos mais difíceis de apresentar em perfeitas condições, é preciso gerir o preciso tempo de retirar do lume, empratar e servir os comensais)

Esporão Reserva Branco 2004 (Alentejo) – revelou-se muito agradável... para branco (sim eu sei, é uma deficiência minha). Não sei avaliar um branco, posso no entanto dizer que me pareceu bastante equilibrado de corpo e acidez, casando bem com o bacalhau que estava bastante gostoso.

1º Prato
Coelho com Feijão Branco

Falcoaria Reserva Tinto 2004 (Ribatejo) – muito novo no aroma e bastante frutado na boca. Bebe-se muito bem e acompanha pratos não muito fortes. A beber agora (durante este ano), não me parece de grande guarda.

2º Prato
Plumas porco preto com Legumes Salteados (Excelentes legumes, adorei. Apesar das minhas plumas estarem bem grelhadas, pareceu-me que houve pratos servidos na minha mesa que vinham com aspecto de terem estado tempo a mais na grelha)

Altas Quintas 2004 (Alentejo) – Um novo produtor a querer fazer um vinho alentejano diferente. Não gostei. Fechado no aroma, apresentava um final de boca amargo, estranho, desagradável. Houve, na minha mesa, quem gostasse. Como é óbvio um vinho que apresenta um preço que o empurra para um patamar superior tem que ter qualidade. E este até acredito que tenha utilizado uvas de qualidade, barricas de qualidade, cuidados especiais e outros mimos tais, no entanto, ou isso tudo não funcionou ou o vinho ainda está muito novo e precisa de uns meses em garrafa para “finalizar”.

Sobremesa
Vol-au-Vent de ovos (Três “dedais” de massa recheada com doce de ovos em molho de framboesa. Não achei piada à massa – porventura se fosse mais estaladiça. Considerei que o melhor era a calda de framboesa – não muito doce com uma ligeira acidez que lhe dava muita graça e frescura. Esta mesma acidez matou a combinação com o vinho do porto servido. Não resultou mesmo nada)

Qt. Noval LBV 1999 Unfiltered (Porto) – tenho com os LBV's da Qt. da Noval alguma conflituosidade. Geralmente, fazem no mesmo ano a versão unfiltered e versão filtrada. A primeira mandam-na para os painéis de prova da Revista de Vinhos e dos guias de vinhos e a segunda versão enviam-na para os supermercados. Geralmente também, a 1ª versão é muito boa, a 2ª é uma zurrapa. Nunca mais me esqueço que provei a versão “rapada” do LBV 1998 e aquilo parecia um clarete extremamente alcoólico que de vinho do Porto não tinha nada, enquanto a versão unfiltered ganhava o painel de prova de LBV’s na Revista de Vinhos. Tenho por isso o hábito de não comprar LBV’s da Noval apesar de me garantirem que a versão”boa” diz sempre unfiltered no rótulo. Quanto à prova, comprova-se que os unfiltered são mesmo bons. Na linha do 1997 e 1998, este 1999 apresenta ainda muita fruta, com a aguardente já muito bem casada e muito guloso sem ser enjoativo. Uma delícia.

Isto tudo por 30 euros por pessoa. Excelente refeição. Boa comida, bons vinhos. O ambiente da sala é muito agradável e decorado com gosto (apreciei os tons vermelhos a proporcionarem um ambiente quente e acolhedor). O dono e anfitrião é um bom conversador, o que torna as coisas ainda mais agradáveis para quem gosta de falar de vinho.

Decididamente vou voltar.


P.S. deixo aqui post scriptum, já que a bebida não é vínica, mas rematei o jantar com um excelente single malt Highland Park 18 anos. A mostrar “o porquê” de ganhar amiúde prémios de melhor uísque de malt em concursos internacionais.