Atanvá
Inserido numa zona construída a régua e esquadro, nova e sem tradição em restauração, encontra-se o restaurante Atanvá, concorrendo aí com restaurantes feitos para agradar a uma geração fast-food, cujo o conceito de comida fina são “secretos de porco preto”. Este restaurante, situado no Parque das Nações em Lisboa, tem uma ligeira costela alentejana (através do pastor estilizado que apresenta no seu logótipo) e pretende cativar um cliente que não pretende comer o mais barato e rápido possível de modo a não chegar atrasado ao happy-hour dos vários bares que se encontram no passeio marítimo.
Aqui, a carne é rainha. Vaca, o animal sagrado. Aqui, o termos “novilho” e “vitela”, socialmente mais educados, não têm “idade” para tomar o trono das principais raças portuguesas de gado bovino: Arouquesa, Barrosã e Mirandesa. O Atanvá providencia as três. A carne é boa e bem grelhada. Os acompanhamentos são escolhido à parte e também são bons, apresentando uma grande variedade. Peca porventura nas sobremesas já que a variedade não foge muito ao vulgar de um restaurante “corrente”, apenas se diferenciando na apresentação no prato ao cliente. No preço, facilmente se chega aos 20 euros sem bebidas e sobremesas.
A carta de vinhos está distribuída por características organolépticas dos vinhos. “Como assim?” Bom, por exemplo, pegou-se em termos como “Taninoso”, “Frutado”, “Fresco”, “Novo”, “Encorpado”, “Macio”, “Complexo”, e, agrupando-os em pares de forma a fazer sentido, distribuíram-se os vinhos por essas categorias. Esta apresentação tem uma virtude: elucida o cliente sobre o vinho que escolhe. Tem um defeito intrínseco a essa virtude: pode ser enganador; basta o enquadramento do vinho não ser o mais correcto. Como não há nada perfeito na vida, louve-se a ideia.
A distribuição das regiões, na carta, é a normal dos restaurantes em Lisboa (mesmo aqueles que, com este, até apresentam uma selecção de vinhos acima das duas dúzias). Predominam os vinhos do Douro e Alentejo, salpicados por algumas referências do Dão. “Os preços?”. Não são os melhores. Das três vezes que o visitei, sempre me refugiei no CARM Reserva (este último, o 2003) pois é, da lista, uma das melhores relações preço/qualidade. Ou seja, é algo que verifico em outros restaurantes que frequento: até têm uma variedade acima da média mas depois o preço leva-me a escolher sempre o mesmo. Haverá assim verdadeira “democracia” de escolha? Os copos são bons, falhando apenas na temperatura de serviço. Ressalve-se, no entanto, que a pedido prontificam-se a baixar a temperatura do vinho através da técnica do balde de gelo. Pelo menos não nos olham de lado como se fôssemos maluquinhos: valha-nos isso!
Em resumo: é uma boa opção numa zona da cidade de Lisboa em que me parece haver uma falha na oferta de restaurantes com tradição ou vocação enófila. A comida não é de autor mas é honesta à base de grelhados de boa carne de vaca DOP. Neste particular, eu que até não sou muito “carneiro”, recomendo uma posta Arouquesa, não muito passada, que acompanha muito bem um dos vinhos tintos da categoria “Vigorosos e Taninosos” (se não me engano). Pena é, não ser mais barato.
4 comentário(s):
Boas,
O método de categorização de vinhos na carta parece-me original e de valor se a mesma estiver bem feita.
Penso que os restaurantes teriam a ganhar se colocassem um pequeno resumo da nota de prova dos vinhos disponíveis em carta. Por vezes dou por mim indeciso entre dois vinhos que desconheço totalmente, e acabo por escolher um pouco ao acaso. (Por vezes ninguém num restaurante sabe informar um cliente do carácter de um vinho porque não os conhecem, triste mas verdade)
1 abraço
Caro Luis,
a ideia do resumo da nota de prova tb é uma boa ideia, no entanto, havia sempre a questão de saber: a nota de prova feita por quem? De qq maneira penso que um grupo de dois ou três adjectivos mais objectivos que ilustrassem o tipo de vinho são sempre bem vindos.
Um abraço,
RC
Resta dizer que o "Atanvá" tem mais do que uma costela alentejana, deve ter o tronco todo, basta atentar no nome. Segundo julgo saber um dos donos é o fadista José da Câmara. Resta dizer também que se situa na correnteza de restaurantes da zona norte do Parque das Nações.
Fui lá há alguns anos e gostei, pese embora os preços não sejam dos mais meigos.
Caro Kroniketas,
referi apenas uma "costela" porque de alentejano só tem realmente o nome e o pastor estilizado que referi no simbolo do restaurante. Entra-se no restaurante, vê-se o menu e percebe-se que a lembrar o alentejo só mesmo um ou dois berloques pendurado na parede. Ou seja, o nome pode enganar o visitante que vá à procura de comida típicamente alentejana. Quanto à localização e ao "owner", estás correctissimo.
Um abraço,
RC
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