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sexta-feira, janeiro 25, 2008

Restaurante/bar Néctar

Não deve ser surpresa para ninguém dizer que, de vez em quando, recebemos na nossa caixa postal mails a divulgar este ou aquele estabelecimento. Não deve faltar muito para fazer um ano que nos chegou um mail dos responsáveis de um novo bar dedicada ao vinho. Chamava-se Néctar winebar. Deixámos passar um tempo até o pó da inauguração assentar e resolvemos fazer uma visita esta sexta-feira.

Este pequeno winebar, como é auto denominado, situa-se na zona da Baixa de Lisboa, na Rua dos Douradores, uma paralela entre a Rua da Prata e a Rua dos Fanqueiros. Mais perto da Praça da Comércio do que da Praça da Figueira. Segundo nos disse o solícito empregado brasileiro que nos recebe, esta sexta-feira, curiosamente, a casa estava praticamente vazia. Sinal que o pessoal gastou o dinheiro todo na passagem de ano?

“O forte da casa são os petiscos/entradas. São bem servidas, a maioria das pessoas pede várias e fica servido”, foi assim que nos foi passada a mensagem. Ora, perante tão peremptório discurso não olhámos sequer para os pratos e concentrámo-nos na escolha dos petiscos. Decidimo-nos pelo pequeno prato de queijos (Ilha, Niza e um amanteigado de Castelo Branco), os filetes de polvo (muito bons), a alheira de caça com alecrim e compota de maçã e os camarões com molho Provençal (curiosamente, o menos conseguido de todas as entradas). Esta primeira investida, conjuntamente com pão e azeite (todas as mesas têm uma garrafinha de bom azeite virgem extra que podemos ir servindo numa pequena tigela) fez lastro para primeira selecção de vinhos da noite.

Na hora de analisar a carta de vinhos, tenho que confessar que fiquei um pouco desiludido. Primeiro as boas notícias: bons preços, a maioria vende-se a copo e estão todos em garrafeiras climatizadas. Então quais são as más noticias? A diversidade da oferta. Acredito que para a maioria dos consumidores portugueses, e alguns dos turistas que por lá passam, apresentar uma lista de vinhos com duas/três referências de cada região é suficiente. Mas para um enófilo, um aficionado, quando vai a um auto intitulado Winebar, apesar de saber que não tem fígado para tanto, está à espera de ter 20/30 referências por região. Isto é obviamente um exagero mas para vos dar um exemplo no caso do Vinho do Porto, apenas havia na carta: um tawny da Casa Stª Eufémia, um ruby de um produtor do qual não me recordo e o LBV 95 da Warre’s. Para galo, este último estava esgotado. Para o resto da oferta, podem consultar o site que está muito próximo da carta real.

Por tudo o enunciado em cima, como nos vinhos portugueses não houve nenhum que me “roubasse” o coração, decidi fazer um comparativo de Merlot entre um Francês e um Nova Zelandês (isto escreve-se assim?). Assim, lado a lado, tivemos:

Chateau Heyrauds 2003 (Bordeuax, França)
Cor violeta escura sem sinais evidentes da passagem do tempo. No aroma, a fruta está harmoniosamente casada com uma camada vegetal que, não tivesse lido o rótulo antes, diria típica do Cabernet de Bordéus. Enganava-me, pois este é dos poucos vinhos franceses que explicitamente refere a casta: Merlot. A boca é viva, equilibrada entre a fruta e tal vegetal sempre presente. Taninos presentes mas correctos. Muito agradável francês a um preço très jolie (cerca de 17€ no restaurante).

Kim Crawford Merlot 2005 (Hawke's Bay, Nova Zelândia)
Apesar de mais novo que o vinho francês, a cor deste Merlot é um pouco mais ligeira e até apresenta umas nuances atijoladas. Nariz completamente diferente, apesar de curiosamente também apresentar um “frisante” vegetal mas doce, com os tostados da madeira muito impositivos. A boca é estranha. Confesso que tenho dificuldade em descrever algo que me pareceu muito indefinido. Pareceu-me algo artificial em que os elementos base (que deviam ser as uvas) estavam escondidos debaixo de uma camada de madeira que não o favorece em nada. Não gostei e até é mais caro que o de cima (cerca de 20€ no restaurante).

Obviamente, quatro homens de bons fígados não se ficam por duas garrafinhas. Para fazer boquinha para uma terceira “senhora” pedimos uma salada de pimentos com queijo de Niza (bem temperados os pimentos marron) e uns ovos mexidos com espargos verdes (impecável o tempo de cozedura dos espargos). Abandonámos o Merlot, que já era tempo, e decidimo-nos por uma maioria de Sangiovese acompanhado de Cabernet, Merlot (olha afinal não nos livrámos dele) e uma pitada de Syrah.

Villa Antinori 2003 (Toscana, Itália)
Cor menos carregada que o Merlot francês. Aroma de maior complexidade com fruta mais séria e a madeira melhor incorporada. Boa estrutura com notas de fruta madura e boa acidez. Um vinho muito gastronómico. O mais caro dos três (cerca de 25€ no restaurante).

A sobremesa ficou-se apenas por uma fatia de tarte de queijo de Niza que não esteve mal mas também não entusiasmou. Sentiu a falta do LBV da Warre para o qual eu já ia com ela fisgada quando me disseram que tinha esgotado no dia anterior. Coitada da tarte, faltou-lhe uma dimensão extra que compensasse o desapontamento.


Em resumo, penso que é um espaço agradável para comer uns bons petiscos e provar alguns vinhos sem grande pretensão ou expectativas de encontrar algo diferente. Os preços são razoáveis, aplaude-se a temperatura mas fica um amargo de boca na hora da (falta) de escolha. Uma pena, pois se o target for os aficionados, acredito que quase todos terão a mesma reacção do que eu. Ter mais olhos que barriga (neste caso fígado) faz parte do apaixonado de vinhos.


p.s. Referir, em jeito de rodapé, que a casa também disponibiliza uma ampla selecção de chás. Para apreciadores ... :)

2 comentário(s):

Mr. Brightside disse...

Tenho para mim a impressão que se diz Neo Zelandês.

rui disse...

Claro. Mas assim não tinha piada. :)

Um abraço,
RC

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