Provas Vinho 2008/1T - Descrições RC
No post anterior foram publicadas tabelas com as notas de prova (rolhas) dos vinhos bebidos por cada um dos membros deste blog no período referido no título. Como sou o mais desavergonhado, apresento, para os leitores mais curiosos, as descrições das provas efectuadas. Como é óbvio, a introdução feita no referido post anterior é valida para as descrições que se seguem.
O texto abaixo segue o seguinte fluxo: vinho -> rolhas -> descrição de prova.
Alentejo
Branca de Almeida - 2004 - 3,5 - Aroma contido. Fruta bem casada com a madeira. A boca assenta no equilíbrio dos vários elementos. Boa performance gastronómica com final ligeiramente especiado.
Marquês de Borba Reserva - 2003 - 4 - Aroma mais frutado que o habitual com a fruta madura a denunciar-nos um vinho guloso. A boca confirma-nos um vinho maduro com fruta de qualidade, madeira bem integrada. Final aguerrido e impositivo. Mais aberto e mais frutado que há seis meses atrás.
Monte Maior - 2005 - 3 - Cor ligeira. Aroma simples e frutado. De corpo ligeiro, a boca é correcta sem pretensões. Frutos vermelhos com boa acidez. Tem a virtude de manter o grau alcoólico baixo, o que nos permite beber umas goladas valentes sem grande esforço, principalmente se lhe baixarmos um tudo nada a temperatura de serviço.
Qt. Esperança - 2004 - 2 - Deve ser o vinho mais medalhado do mercado. Necessita de um sub-rótulo só para os 5 carimbos que apresenta. Aroma frutado com toque da madeira. A boca é confusa. Taninos espigadotes a puxarem para um lado e a fruta para outro. Final com certo ardor alcoólico. Como diz a minha mãe: "Galinha gorda por pouco dinheiro é de desconfiar".
Tinto da Talha Grande Escolha Touriga Nacional+Aragonês - 2005 - 2 - Cor carregada. Roxa. Aroma pouco definido. Provavelmente a Touriga ainda a fazer braço de ferro com a Aragonês. A boca está crua. O vinho ainda está em definição. Confirma-se o que pronunciava o nariz. Final alcoólico e ligeira amargo. Nota-se que houve intenção de fazer um vinho "puxado" com concentração e estrutura, só que nesta fase a construção de não é mais do que um monte de pedras empilhadas. Algum tempo mais em garrafa pode ser que ainda consiga produzir uma escultura jeitosa.
Vinha do Almo Escolha - 2005 - 3,5 - Aroma pouco exuberante sobressaindo a madeira onde estagiou. A boca é correcta com vocação gastronómica. Final com alguma secura da madeira. Bom preço.
Douro
Batuta - 2005 - 4,5 - Aroma muito agradável com as notas de fruta silvestre harmonizadas com a especiaria da madeira. Algum cedro. A boca é cheia apenas com fruta q.b..Final com especiaria e tacto seco da madeira. Em quase todos os grandes vinhos de 2005, a madeira está neste momento mais exposta e a fruta é menos madura e mais envergonhada. Por isso, é um vinho que gosta mais de ter comida por perto que o 2004.
Churchill’s Estate - 2005 - 3,5 - Aroma fresco e equilibrado. Boca frutada com boa acidez num conjunto sem grandes pretensões e de fácil prova. Outro vinho agradável de beber.
Odisseia Reserva - 2005 - 3,5 - Aroma com ligeiros tostados mas ainda algo fechado. A boca apresenta fruta madura com ligeiro doce alcoólico no final. Taninos algo rijos. Percebe-se que este vinho também tem estrutura e pretensões a outros voos. Falta-lhe um pouco de finesse, talvez.
Perfil - 2005 - 3 - Bem casada a madeira com a fruta. Alguma esteva. A boca apresenta um ligeiro rendilhar (a fazer lembrar certo vinhos de Baga ou problemas no engarrafamento). Deixar decantar. Depois, aparece-nos correcto mas sem entusiasmar.
Qt. Baldias - 2004 - 3 - Aroma pouco exuberante com equilíbrio entre a fruta e a barrica. Boca média, ligeiramente frutado com taninos ainda presente e secura da madeira. Final ardente a especiarias e álcool. Um vinho que demonstra uma estrutura com potencial (devido às vinhas velhas) mas que precisa de afinação.
Qt. Crasto Vinhas Velhas Reserva - 2005 - 3,5 - O aroma apresentou-se algo preso. Algumas notas animais. Após arejamento do vinho é a madeira que sobressai. Alguma baunilha e tostados. Estruturado com fruta madura e taninos ainda guerreiros. Final um pouco rebelde. Mesmo esquecendo os problemas iniciais acho que este vinhas velhas é capaz de estar um furo abaixo dos anos anteriores.
Qt. de La Rosa - 2006 - 3 - Aroma a frutos vermelhos com toque de madeira e alguns balsâmicos. Boca frutada, macia, fácil de beber. Apresenta um final doce que pode afastar alguns e por isso deve-se beber um pouco mais fresco. Um vinho de fácil agrado.
Qt. Infantado - 2005 - 4 - Aroma fresco com toque vegetal muito agradável. A boca é também ela fresca com boa acidez e muito bom beber. Muito agradável e nada cansativo. É mesmo destes que eu gosto de beber “à vontade”, até porque o grau alcoólico contido ajuda. Excelente preço para quem conseguir encontrar (cerca de 5€).
Qt. Leda - 2005 - 3 - Aroma carregado de madeira nova. Muito baunilha e alguns tostados. A boca apresenta-se com a fruta madura em conjugação com notas dadas pela madeira. Fiquei algo decepcionado porque faltou-lhe frescura e nem parecia o mesmo vinho que provei no Convento do Beato (e que na altura aqui gabei). Até a cor me pareceu agora muito mais carregada. Estranho.
Qt. Monte Travesso Reserva - 2005 - 3 - Aroma marcado pela baunilha. Boca morna com fruta madura. Final ligeiramente agressivo e pouco domado (travesso, portanto). Precisa de mais tempo para integrar a barrica.
Qt. Seara d'Ordens Reserva Touriga Nacional - 2004 - 3,5 - Aroma floral com a Touriga a dizer presente. Alguma madeira discreta. A boca é viva, "traquinas, com fruta em primeiro plano sempre com uma envolvência floral a dar-lhe frescura. Ainda assim, encontro nos vinhos da Qt. Seara D'Ordens uma certa falta de definição, de harmonia. Caso contrário, podiam almejar mais alto.
Qt. Vale Meão - 2003 - 3,5 - Provado no mesmo almoço que o irmão mais novo de 2005. As diferenças foram grandes e mostraram a diferença de anos. Aroma mais pesado com notas mais quentes a madeira. A boca é poderosa, mais musculada com taninos salientes e final ligeiramente ardente.
Qt. Vale Meão - 2005 - 5 - Aroma perfumado. Fica-se meia hora de volta de flores, violetas e até de notas citrinas. Muito fresco. A boca é extremamente fresca, elegante e fina. De longe o Vale Meão mais fino que já bebi em novo. Excelente acidez e final a pedir mais um copo. Uma das melhores 5 rolhas que já aqui atribuí.
Qt. Vallado Touriga Nacional - 2005 - 4 - Aroma com ligeira madeira e toque floral da Touriga. Na boca predomina a fruta madura apoiada numa razoável acidez que não faz cansar a prova mas que ainda assim acho que devia ser mais elevada para tornar o vinho mais espevitado e menos pastelão. Provavelmente foi aqui prejudicado pela temperatura de serviço menos correcta. Não era preciso olhar para o rótulo para perceber que este era o vinho até aí provado com maior arcaboiço e por conseguinte com maiores pretensões.
Redoma - 2004 - 4 - Aroma frutado com notas discretas da madeira. A boca é cheia com fruta madura. Poderoso, com taninos domados mas presentes. Um vinho que precisa de naco de boa carne pouco passada.
Redoma - 2005 - 3,5 - Provado no mesmo almoço que o irmão mais velho de 2004. As diferenças não são muito grandes mas mostraram a diferença de anos. Aroamas menos frutado, mais contido e com a madeira mais impositiva. Algum mato seco. Boca menos exposta com taninos de orelhas de fora. Final seco e um pouco "amadeirado". Um vinho que funciona melhor com comida por perto.
Rhea - 2005 - 2 - Aroma pouco definido. Alguns frutos silvestres com toque da madeira de estágio. A boca não está casada com os vários elementos pouco ligados entre si. Final curto e destapado, a dar-nos uma sensação alcoólica sem razão téorica para tal (o vinho até apresenta "apenas" 13º).Um vinho que deveria ser barato, fácil, para o dia-a-dia mas não cumpre o seu objectivo. Precisa de afinação.
Talentus - 2005 - 3,5 - Aroma pouco exuberante com a madeira ainda a dominar a fruta. A boca apresenta um vinho onde a fruta madura predomina. Final ligeiramente químico. Falta-lhe alguma definição para escalar para o patamar seguinte.
V.T. - 2004 - 4 - Aroma frutado com notas especiadas da madeira. Ligeira nota vegetal. A boca tem volume com a fruta madura em evidência sempre acompanhada pelas notas frescas vegetais. Final especiado num conjunto que gastronomicamente funciona muito bem.
Vinhos Generosos
Fonseca Guimaraes Vintage - 2001 - 4,5 - A cor já apresenta os primeiros atijolados. Aroma começa a transitar para os frutos secos. Muita passa e figo seco. A boca é gulosa com notas de figo seco e algum chocolate. Final aguerrido e prolongado. Muito bom nesta fase.
Qt. Baldias Vintage - 2003 - 3 - Alguma erva-doce e giesta. Toque doce a chocolate. A boca é média, doce a chocolate preto. Final ardente e alcoólico. Servir um pouco mais fresco do que o habitual
Qt. Portal Vintage - 2005 - 2 - Aroma simples e frutado. A boca é de porte médio com final frutado mais curto. Fácil mas algo monótono. Tem a seu favor o facto de ser o vintage de 2005 mais barato do mercado (pouco mais de 20€).
Qt. Vale Meão Vintage - 2004 - 2 - Aroma fechado com ligeira percepção alcoólica. Na boca, o álcool toma conta da prova tapando a fruta. Por agora está muito difícil de mostra algo. Algo desapontante.
Taylor’s LBV (filt.) - 2002 - 2 - Aroma doce já com algum fico seco e bem maduro. A boca segue adocicada a figo e final curto a álcool. Servir bem fresco ou com gelo(!).
Taylors Qt. Vargellas Vintage - 2004 - 3,5 - Aroma fechado com matizes balsâmicas e alguma erva-doce. Na boca é a erva-doce que predomina. Final a deixar algumas especiarias. Dá uma prova mais fácil do que apontava o nariz.
Taylors Qt. Vargellas Vintage - 2005 - 3,5 - Aroma marcado pela erva-doce e algum floral. A boca apresenta um vinho de bom corpo mas longe do poder de ano clássico. Está até muito cordato para o típico da Taylor's dando uma fácil prova. Notas de fruta madura e algum chocolate. Correcto e a bom preço (para vintage, claro).
Warre’s Qt. Cavadinha Vintage - 1995 - 3,5 - Cor bem nos vermelhos fortes sem mostrar sinais de declínio. Aroma doce a passas e figo. Na boca mistura de frutos vermelhos com frutos seco. Final doce, agradável e prolongado. Está porreiro, pá!
Estrangeiros (Tintos)
Tawe Malbec - 2005 - 3 - Cor ligeira. Não faz parte dos Malbec carregados. Aroma frutado misturado com notas de baunilha. A boca é média, correcta e de fácil beber. Sem grande história, um vinho que se bebe sem estarmos com grandes pensamentos.
Chateau Heyrauds - 2003 - 3,5 - Cor violeta escura sem sinais evidentes da passagem do tempo. No aroma, a fruta está harmoniosamente casada com uma camada vegetal que, não tivesse lido o rótulo antes, diria típica do Cabernet de Bordéus. Enganava-me, pois este é dos poucos vinhos franceses que explicitamente refere a casta: Merlot. A boca é viva, equilibrada entre a fruta e tal vegetal sempre presente. Taninos presentes mas correctos. Muito agradável francês a um preço très jolie (cerca de 17€ no restaurante).
Villa Antinori - 2003 - 3,5 - Cor menos carregada que o Merlot francês. Aroma de maior complexidade com fruta mais séria e a madeira melhor incorporada. Boa estrutura com notas de fruta madura e boa acidez. Um vinho muito gastronómico. O mais caro dos três (cerca de 25€ no restaurante).
Kim Crawford Merlot - 2005 - 2 - Apesar de mais novo que o vinho francês, a cor deste Merlot é um pouco mais ligeira e até apresenta umas nuances atijoladas. Nariz completamente diferente, apesar de curiosamente também apresentar um “frisante” vegetal mas doce, com os tostados da madeira muito impositivos. A boca é estranha. Confesso que tenho dificuldade em descrever algo que me pareceu muito indefinido. Pareceu-me algo artificial em que os elementos base (que deviam ser as uvas) estavam escondidos debaixo de uma camada de madeira que não o favorece em nada. Não gostei e até é mais caro que o de cima (cerca de 20€ no restaurante).
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