Grand Jury Europeen
Acredito que, para a maioria dos que nos lêem, não é novidade nenhuma dizer-vos que, muito recentemente, andaram em provas, por terras lusas, os membros do denominado Grand Jury Europeen.
Para quem não sabe o que é, penso que resumo de forma correcta se vos disser que se trata de um grupo de provadores de vários países europeus, entre produtores, jornalistas, negociantes, escanções e grandes apreciadores, que de tempos a tempos se reúnem para provar um conjunto de vinhos. Essas provas costumam ter um determinado objectivo, quer seja avaliar uma região ou fazer uma confrontação entre regiões. Desta vez o objectivo era provar os vinhos da região do Douro e dos Vinho Verdes, tendo sido feitas também provas de Vinho do Porto (vintage 1970 e vintage 2003) e a avaliação do suposto grupo de melhores vinhos tintos Portugueses (exceptuando os da região do Douro). Não terá sido por acaso a escolha de Portugal e da região do Douro nas congeminações deste grupo de provadores, pois o único representante Português no painel permanente de provadores GJE é o Douro Boy, Dirk van der Niepoort.
O que este grupo de provadores tem de especial em relação aos muitos outros é facto de produzirem no final de cada sessão um relatório resumo da mesma. Definição de objectivos, quem participou, como se processaram as coisas, que vinhos foram provados e que classificação obtiveram. Tudo isto seria normal. Ora, o GJE vai mais longe. Um dos seus membros permanente é professor de estatística em França e para cada sessão faz o tratamento estatístico dos resultados. E é este tratamento estatístico que é muito interessante. Não só analisa estatisticamente a classificação dos vinhos como também é alvo de análise o comportamento dos provadores.
Um dos gráficos mais interessantes é relativo ao posicionamento dos vinhos tintos do Douro. Depois de ler relatórios antigos em Inglês (o relativo à prova portuguesa apenas existe em Francês) percebi que o eixo do X corresponde ao posicionamento classificativo de cada vinho (quanto mais à direita, melhor) e o eixo do Y corresponde ao grau de confiança da nota final obtida (quanto mais perto do zero mais unânime foi o vinho).
Posto isto não podia de deixar de surripiar o gráfico (clicar no mesmo para aumentar) referido e dizer-vos que se percebe o seguinte:
- O Qt. Nova da Nossa Sra. do Carmo Grande Reserva 2005 foi o vencedor, seguido de perto do Xisto 2005.
- O Vértice Grande Reserva 2005 foi o último a milhas do penúltimo. Ainda por cima foi mais ou menos consensual (está perto do zero no eixo do Y) o merecimento desta posição.
- O Qt. Touriga Chã 2005, Qt. da Romaneira 2005, CV 2005 e La Rosa Reserva 2005 foram os vinhos mais polémicos.
- O Batuta 2005 e Qt. Noval 2005 tiveram as notas todas dentro sua média. Ou seja, foram extremamente consensuais.
Além deste gráfico, tem outros também interessantes relativos às restantes provas. Como não quero ser processado por utilizar abusivamente conteúdos protegidos, não apresento aqui mais gráficos e aconselho a que estiver interessado a consultar o site. Este e outros relatórios estão disponíveis para download a quem se registar no site. É totalmente gratuito. Deixo, no entanto, aqui os vencedores das outras provas realizadas:
- Porto Vintage 2003: Qt. das Carvalhas (Real Companhia Velha)
- Porto Vintage 1970: Niepoort
- Região Vinhos Verdes: PROVAM Alvarinho 2007
- Tinto Portugueses (exceptuando Douro): Cavalo Maluco 2005
Aparte as notas que são sempre uma curiosidade mas que não possam disso mesmo, é mais uma sessão de provas como muitas outras, o que me levou a fazer este post foi a forma descomplexada como este grupo de provadores (apesar de pouco modesto na escolha do nome) olha para as estatísticas de prova. Sem medo das conclusões, conseguem, ao mesmo tempo que, desmistificar a ideia que, a análise dos números, é uma coisa inventada por “engenheiros” desprovidos de paixão pelo vinho. Como se reverência cega ao esotérico e à poesia, fossem prova provada de um maior gosto e de uma maior paixão. Eu não acredito nisso. Acho que isso é significado de outra coisa.
p.s (1) Em cima, citei o ano de colheita (dos vinhos tintos do Douro provados) tal como estão identificados no relatório do GJE. Achei estranho o ano de alguns (nomeadamente, Qt. Noval e Vértice) mas podem ter sido provados em advance. Ou então, a razão mais simples: o relatório está errado.
p.s.(2) Depois do Pera Manca, agora o Cavalo Maluco. Eu já tenho um projecto idealizado (quando me sair o Euromilhões) para fazer um conjunto de vinhos com designações de animais "especiais". O Cabra Cega branco e, num golpe genial de marketing, a quando do novo DVD, uma edição especial do Gato Fedorento tinto.:)
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