Chafariz do Vinho
Ah e tal, que tal um copo no Chafariz do Vinho depois do trabalho?
"Epá, hoje não posso porque tenho de regar a relva por que ela não gosta da água da chuva.". Depois de vários adiamentos por desculpas deste género, lá se marcou um dia para irmos beber uns copos (de vinho entenda-se) depois do trabalho. Dia escolhido, dia 21 de Março, início da primavera, quem estava estava, quem não podia azar. Curiosamente, esteve quase toda a gente, só houve uma desculpa daquelas mesmo esfarrapadas, estava de férias em Andorra e não dava muito jeito... tretas, são só 2 depósitos de "gásoil".
Passando aos copos propriamente ditos, lá fomos nós para a Enoteca ali na Praça da Alegria. Fomos pedindo uns copitos acompanhados de belíssimos petiscos, que não vou nomear porque já não me lembro de tantos nomes, é a idade!
Eis então o que interessa:
Prova Régia (2004) - Arinto
Confesso que foi a maior desilusão da noite, pouco aroma e pouco citrinos na boca, característica tão típica do Arinto, estava servido a uma óptima temperatura e nem assim se mostrava nada de especial, quase que justificou o comentário que alguém fez "Estas bebidas frescas são boas, mas quando é que vem o vinho?".
Fritz Haag Riesling Kabinett (2002)
O 2º branco da noite, surpreendeu toda a gente com um aroma muito fumado e muito próximo do oleoso, confirmando com uma boa boca, e uma boa persistência, não exageradamente doce, mas o suficiente para lhe dar alguma estrutura. Estava um pouco mais quente que o anterior, mas nada que pudesse estragar a prova. Não sendo eu um conhecedor dos riesling, diria que não é um riesling normal, uma vez que não tem a mesma frescura aromática dos seus irmãos que já provei.
Campolargo (2002)
Este dueto de Pinot Noir e Baga é daqueles casos em que se tem uma opinião extremada, ou se adora ou se odeia, eu confesso que sou dos que adora, sou fan da Baga e do bom vinho que se produz na Bairrada (notem que me referi ao bom vinho da Bairrada, pois como em qualquer outra zona, existe muito mau vinho), tenho para mim que se há um sítio e um vinho onde o chamado "Terroir" se nota este é um deles. Um rendilhado inicial que deixa muitos apreciadores logo fora de combate é para mim um factor demonstrador da sua forte personalidade. É um vinho que se mantém na boca alguns minutos após o bebermos, é aromático qb, onde se nota algum fruto verde e algo seco. Para além de tudo isso temos um vinho que conhece alguma evolução e que poderá melhorar um pouco com alguma decantação (diria 30min), pois a sua "soneca" no copo durante esse tempo isso me provou, uma boca menos agressiva mas com uma complexidade explosiva no final. Não pode deixar ninguém indiferente.
Poeira 2003
Um nome sonante do Douro que, apesar o mercado não lhe dar, na minha opinião, o seu devido valor, rivaliza com os melhores vinhos portugueses. Não terá sido a melhor opção beber este vinho depois do Campolargo, estamos a falar de um vinho que prima pela elegância, pelo aroma a frutos vermelhos e a madeira, sem que no entanto nada se sobreponha aos demais, tem uma boca poderosa e prolongada mas com uma evolução natural. É um Douro na sua plenitude, que seria muito melhor classificado pela crítica se tivesse um preço exorbitante e que pudesse ser exibido aos amigos como uma compra cara que se tem na garrafeira. No entanto, e para mim, ainda bem que isso não acontece, pois assim posso comprar lá para casa umas garrafas para beber com realmente aprecia.
Fonseca Guimaraes Vintage 2001
Uma questão me assola regularmente na cabeça, para quando uma medalha de mérito para o Rui por serviços prestados ao vinho do Porto? Se não fosse a paixão do Rui pelo vinho do Porto não estaria eu aqui a escrever sobre este maravilhoso Fonseca Guimaraes que tivemos a oportunidade de esgotar do stock. Sabem quando bebem aqueles vinhos que acompanham uma boa conversa mas que de repente se tornam o centro dessa mesma conversa? Foi o que me aconteceu, estava a falar com dois compinchas sobre um assunto que agora não interessa e serviram este porto, deixei de pensar no que estava a dizer, nada mais fazia sentido. Um porto delicioso, mas que não é guloso, um porto com um aroma complexo que não se deixa apanhar logo à primeira, um sabor intenso sem o ser demasiado, que termina em grande e que dura uma eternidade (ainda bem porque só havia uma garrafa e deu pouquinho a cada um). Começa a ser para mim uma casa referência, com grande destaque em relação à maioria.
Taylor’s Quinta das Vargellas Vintage 2001
Sem ser um especialista, existem duas casas que consigo identificar quase sempre, uma é a Poças e a outra é a Taylor's. São duas casas que para o bem e para o mal fazem o vinho todo muito parecido, para o bem porque é sempre uma garantia de qualidade e sabemos sempre o que estamos a comprar, e para o mal porque podem correr o risco de fazer "enjoar" os consumidores, ora se isso pode acontecer mais com a Poças com a Taylor's esse risco não é grande, estamos a falar de um belíssimo porto (muito parecido com o Taylor's vintage 2003 que já provei) mas em que as grande qualidades do "irmão mais novo" aparecem com menos força. Uma doçura suficiente mas mais enjoativa, um final mais curto e em decrescendo e finalmente (ou neste caso inicialmente) um aroma menos cativante, não deixa de ser uma belíssima prova que tenciono repetir. Resumindo, tecnicamente perfeito mas a faltar-lhe "um bocadinho assim...".
No final da prova, mais uma agradável conversa com "o senhor alemão" que nos faz o favor de lembrar todas as vezes que temos excelentes vinhos entre nós.
Boas provas.
1 comentário(s):
Ricardo, na vez da medalha de mérito, preferia que me oferecesses uma garrafitas de vintage do bom. Que tal?
Relativamente ao vinhos provados, porque também eu partilhei a conta, segue a minha humilde opinião (peço desculpa, desde já, pela minha deficiência ao nível dos brancos) :
Prova Régia Arinto (2004) – fraquinho.
Fritz Haag Riesling Kabinett (2002) – resultou melhor pela curiosidade. Cheiro a fumo de escape de um motor TDI. Na boca apresentava-se doce e com ligeiro mineral.
Campolargo (2002) – a prova seguiu em ritmo de curiosidade e controvérsia. Depois do brancos um dueto Pinot Noir/Baga não foi de todo consensual. Como o Ricardo já referiu aquele “rendilhar” na boca típico da Baga não agrada a todos. Neste caso o “rendilhar” até era muito fino e com o tempo quase desvaneceu. Notas vegetais, mais verdes, confirmadas depois na boca. Fresco, persistente, diferente do mais habitual “forte e fruta madura”. Não fui um daqueles que detestou. Gostei, mas não acho que seja um grande vinho. (3 rolhas)
Poeira 2003 – este “amigo” já é a 3ª vez que o provo. Nunca me encheu as medidas. Acho-o algo indefinido. Desta vez, seguido do Campolargo, apresentou um nariz em que a fruta era bem mais evidente, como seria de esperar. Na boca, pareceu-me sem frescura (não sei se provocada pela menor acidez relativamente ao vinho anterior), o que retirou uma certa graça à fruta madura apresentada. De qq forma um bom vinho. (3 rolhas)
Fonseca Guimaraes Vintage 2001 – quantas mais houvesse mais se bebiam. Só havia uma. Que pena! Além da fruta e algum floral, apresentava notas lácteas no aroma, a que lhes chamei “leite condensado”, o Nuno “chocolate branco”e um outro amigo “leite gordo”. Positivo. Bastante fresco na boca, terminava num misto de chocolate e café delicioso. Ficava-se uns minutos a “esfregar a língua e o céu da boca” a apreciar o sabor a toffa. Dos melhores vintages novos que já provei. Comprar e consumir à grande! E agora que está no ponto.(5 rolhas)
Taylor’s Quinta das Vargellas Vintage 2001 – a Taylor’s gosta de fazê-los mais musculados. Muita fruta madura no aroma. Directo. Sem complexidades. Confirmou na boca toda a fruta do aroma. Mais quente, mais alcoólico, sem a classe do Fonseca. Num estilo diferente também é um bom vintage. (4 estrelas)
P.S. Ricardo, olha que a critica até tem sido bastante “benévola” com o Poeira.
JPM – 6/7; JA – 92; RV -18.
Enviar um comentário