Como é vista a nossa pinga lá fora
É sabido que o vinho licoroso português, goza lá fora uma ampla dimensão e de um enorme prestigio. Isso é visível na reputação dos vinhos da Madeira, e particularmente no nosso ex libiris - o vinho do porto.
Podemos dizer que este tipo de generalizações, pode facilmente ser posto em causa, porque também existem maus Madeiras e maus Portos. É óbvio que sim, da mesma maneira que também existem maus Bordéus e maus Borgonhas. Mas isso é certo em qualquer região onde se faça vinho (quanto mais não seja porque também é necessário fazer qualquer coisa às uvas menos boas :) )
No entanto, eu não quero ir pela excepção, mas sim pela percepção generalizada das pessoas que gostam de vinho, e que não conhecem muito dos vinhos Portugueses (particularmente os de mesa).
Após pesquisar alguns artigos, deixo aqui um que expressa esse sentimento, sobre os vinhos de mesa portugueses:
“Most Portuguese wines reach a good average standard but they are seldom comparable with the fine wines of either France or Germany. However, in stating this there are a select few private estates that produce quite fine wine reserved for private consumption that never reaches the general public. The Portuguese production of over 10.000. 000 hectolitres places it as the seventh greatest producer of wine in the world.”
Podia citar muitos outros, mas a ideia geral é sempre a mesma. “Portos e Madeiras tem-nos e bem bons, o resto é zurrapa, tirando umas brincadeiras de garagem”
Fico feliz por notar uma certa evolução na crítica aos vinhos de mesa, de há uns anos para cá, onde já se reconhecem projectos de grande valor, embora não tenham expressão internacional.
Fico ainda mais feliz, por de vez em quando poder beber um Batuta, um Chryseia, um Pintas, um Vale Meão, etc (infelizmente é só de vez em quando :(
Deixo um pergunta no ar:
Se estes vinhos tivessem outra dimensão, será que poderia continuar a prová-los de vez em quando, sem pedir um grande aumento?
11 comentário(s):
Não será bem assim. O problema do vinho português nos mercados internacionais não é ser considerado «zurrapa» ou algo parecido. Não tenho dado conta nas revistas e apreciações que tenho lido sobre os vinhos criticas assim tão negativas. O problema do vinho... é ser desconhecido. E como todos sabemos, o que não é conhecido não existe.
Falta portanto imagem, visibilidade, notoriedade.
O João Paulo Martins contou numa das suas crónicas da Revista de Vinhos que num concurso internacional tinham apanhado um lote de garrafas em que 2 (ou 3, já não me lembro) estavam intragáveis mesmo depois de a garrafa ser substituida, e um dos juizes internacionais que estava presente afirmou perentoriamente que os vinhos em causa seriam portugueses... e não é que eram mesmo.
Obviamente que "zurrapa" é um termo provocatório, mas quantos vinhos de mesa portuguseses é que têm 100 pontos na Wine Spectator, ou 99, ou 98, ou 97, ou mesmo 96?
E quantos Portos e Madeiras tem acima de 96 ou mesmo 100?
O contraste é por demais evidente.
Concordo que falta imagem, visibilidade, notoriedade e acrescentava volume a alguns dos nossos projectos bem conseguidos, mas de reduzida dimensão.
Daí a minha pergunta no final do post, dado que como sabemos os grandes nomes em França, por exemplo, são sem dúvida bem mais caros que alguns dos "nossos projectos de consumo interno".
Penso que os produtores que têm o tipo de projectos acima referido, enfrentam um desafio interessante e complicado: Ou conseguem aumentar drasticamente o volume, mantendo a qualidade, e fazendo um grande esforço de promoção no mercado externo, (o que é muito difícil por si só) ou então não vale a penar aumentar a produção de forma pouco significativa, dado que os custos são bastante elevados e apenas iria “saturar” o “mercado interno” , reduzindo assim o valor marginal destes vinhos de topo.
Infelizmente ainda não tivemos nenhum produtor que tenha conseguido realizar a primeira opção. Será que é possível? Aceitam-se apostas.
Não posso concordar com este post... só posso pensar que vivemos numa realidade diferente e apenas isso.
Tive o prazer de percorrer umas quantas adegas do Alentejo no ano passado com dois amigos meus, um Espanhol e um Mexicano, gente dedicada à prova mais atenta e rigoroso, conhecedores de Chateaus e Novos Mundos.
Curiosamente por onde fomos passando os vinhos foram dados a provar sem qualquer problema por donos e enólogos, provas de novidades e de amostras, tudo a bem da divulgação do nosso vinho.
O resultado destas provas foi uma notável surpresa mais por parte do Benjamin (Mexicano) do que do Antoliano (Espanhol) já grande conhecedor da nossa realidade, o que levou a por exemplo alguns vinhos serem exportados para o México e alguns para Espanha.
Ora caro Nuno quando referes que « Infelizmente ainda não tivemos nenhum produtor que tenha conseguido realizar a primeira opção. Será que é possível? Aceitam-se apostas.»
Aponto dois nomes, João Portugal Ramos e Herdade do Zambujeiro... penso que chega.
Vamos com calma.
Não se podem comparar os vinhos top de Bordèus ou Borgonha com as nossas estrelas porque estamos a falar de campeonatos completamente diferentes.
Para além dos preços, as principais marcas daquelas regiões míticas tem mais de 100 anos enquanto que as nossas têm 4, 5, 6, 8 ou no máximo 10 anos. Por aqui já vêem que temos que ter a noção da realidade.
Mas ao contrário do que é dito num comentário, são felizmente já frequentes os tops das revistas internacionais com vinhos de mesa portugueses, sobretudo do Douro.
Quanto às zurrapas nos concursos, isso também é verdade mas porque fundamentalmente alguns tentam através desse artifício livrar-se de vinhos que estavam lá em casa encalhados: «pode ser que pegue» é afinal uma atitude muito portuguesa. Mas de uma forma geral os vinhos portugueses nem se têm saído mal dos concursos mesmo comparando com Espanha e Itália, por exemplo, como se viu agora no Internacional Wine Challenger.
Caro JP,
parece-me que o Nuno se estava a referir a vinhos um pouco melhores do que os produzidos pelo João Portugal Ramos e pela Herdade do Zambujeiro, ou seja, estamos a falar dos vinhos que realmente dão um nome de topo aos produtores. Por exemplo, vinhos franceses de topo e que à "nascença" custam 100 ou 200€ são produzidos às várias dezenas de milhares (ou mesmo centenas), que garantem que o publico a nível mundial consiga aceder ao mesmo quando ganham os prémios e ganham as boas referências dos grandes críticos. No caso dos "grandes" vinhos portugueses são produzidos em quantidades tão pequenas (alguns, milhares, alguns, poucos, vão às dezenas) que os próprios críticos internacionais se sentem algo receosos de divulgar, pois os seus leitores muitas vezes não lhes conseguem aceder mesmo que queiram.
Pois nesse campo penso mesmo que seja como eu disse, uma realidade diferente da nossa...
Mas atenção os nosso vinhos podem não ser vinhos com produções centenárias, mas alguns deles já gozam de uma bela qualidade face aos vinhos lá de fora, não todos mas alguns e as surpresas podem aparecer em muitas provas, um vinho por custar 500 euros não tem obrigatoriamente de me dar mais prazer a beber do que um vinho que me custou 100 euros.
Agora não entendo porque se fala sempre dos grandes da borgonha ou bordéus... basta pegar num exemplo que eu muito gosto de usar... Bodegas Vega Sicilia, vinho de nome ALION, com um preço de 30€ em garrafeira mantém uma alta qualidade ano após ano e supresa, são mais de 200.000 garrafas por ano, e disto não temos cá.
Portugal não tem capacidade para competir em volume. É um país pequeno. No Alentejo, onde as herdades têm já tamanho considerável, consegue-se fazer projectos com alguma dimensão internacional. Mas são casos raros e mesmo o João Portugal Ramos está a ter realmente algum sucesso lá fora mas com um vinho cujo nome faz lembrar origem Australiana e não Portuguesa: Tagus Creek.
Temos que esquecer a ideia de exportação com base numa lógica “value for the money” pois nesse particular o Novo Mundo e a Espanha goleiam-nos. Aliás, nem chegamos a entrar em campo e já estamos a perder por 5.
Do que se tem falado lá fora em matéria de tintos? Douro, douro e mais douro. Todos de topo. Vinhos carregados, pujantes, cheios de fruta. Como não há superfície na região para fazer em grandes quantidades, o sucesso está em fazer em quantidade diminutas, é verdade, e trabalhar certos mercados (como por exemplo a Qt. do Crasto faz nos EUA): ganhar para cima dos 90 pontos na Wine Spectator e do Robert Parker, aumentar o preço e colocar esses vinhos nas prateleiras das garrafeiras ao nível dos olhos do comprador. Separado dos espanhóis, como evidente. Acabar com exportação de vinhos baratos que se encontram nas prateleiras de baixo misturados com os roses espanhóis como acontece na maior parte dos supermercados dessa Europa fora. Uma espécie de especialização Suiça, mas em vez de relógios e finanças, em vinhos Tintos e do Porto.
Nuno, se isto algum dia se tornar a realidade, nunca mais bebes um vinho português de grande qualidade em Portugal. :)
É bom verficar que o debate fica animado quando é posta em causa a imagem de qualidade dos nossos vinhos.
Podemos dizer que a culpa é dos estrangeiros, de não terem provado os vinhos certos. Mas isso não será também culpa nossa?
Quero apenas esclarecer alguns pontos:
1- O post que apresentei, refere-se à forma como os nossos vinhos são vistos lá fora, genericamente pela crítica e pelo meio enófilo
2 – Não está em causa uma avaliação de qualidade, da minha/nossa perspectiva.
3 - Também ficaria orgulhoso se houvesse vinhos portugueses de grande qualidade, que eu gostasse, e que tivessem uma grande projecção no estrangeiro (desde que cada garrafa não me custasse o preço de um château Mouton Rothschild)
4 - Não gosto particularmente dos vinhos estrangeiros, embora tenha a consciência que conheço muito pouco. Por exemplo, na prova do Douro-Duero da revista dos vinhos, o vinho que mais me marcou foi o Quinta de Sardonia 2003, tendo também gostado muito do Abadia Retuerta (os meus colegas de blog quase me bateram). Foram sem dúvida, os dois vinhos espanhóis que mais me marcaram, e que não caíram naquele estereótipo de vinho espanhol, excessivamente tapado em madeira (pelo menos para meu gosto). De qualquer modo, na generalidade, gostei mais do nosso Douro que a meu ver estava muito mais homogéneo.
5 – Voltando ao post, se não concordam (e mesmo que concordem),peço que comentem, como acham que o nosso vinho é visto lá fora. Mais uma vez não está em causa uma avaliação/comparação de qualidade ou gosto pessoal, mas antes a percepção geral da qualidade dos nossos vinhos vista de fora.
Por exemplo, caro JP, quando me diz: “O resultado destas provas foi uma notável surpresa mais por parte do Benjamin (Mexicano)”, está a concordar com o meu ponto de vista. Pelos vistos o seu amigo Mexicano foi provar os vinhos com algum cepticismo por o vinho ser português e não ter nome. Será que se fosse provar um porto do Noval Vintage por exemplo, também iria com o mesmo nível de cepticismo à partida? Ou iria antes à espera de algo sublime?
Esta é precisamente a questão central do post.
O bom vinho de mesa Português é visto muitas vezes lá fora, como, "uma boa supresa", enquanto nos grandes portos, a grande surpresa, a existir, deverá ser mais pela negativa, porque já se parte de uma certa consciência de qualidade elevada.
PS - Foi como a nossa prova do Pêra Manca
Das conversas que tenho e podendo diferenciar em duas partes distintas arrumo assim a questão.
Dois tipos de pessoas, enófilos conhecedores ou mesmo os Wine Geeks e aqueles enófilos mais generalistas... pois para os primeiros ainda vão conhecendo aqueles vinhos que aparecem na «Wine Speculator» ou que vão lendo na Net ou Imprensa... conheço muito bom Espanhol que conhece e procura os grandes vinhos de Portugal e que se renderam aos encantos da Touriga Nacional ou da Antão Vaz, mas isto são meras minorias.
Os restantes simplesmente não conhecem o nosso vinho, provam sempre de pé atrás a ver o que vai dali sair, já vi a cara de Holandeses, Franceses, Espanhóis e mesmo o Mexicano que já tinha ouvido falar de alguns vinho de Portugal pelas nossas conversas mas que nunca tinha provado os mais mediáticos até vir ao Alentejo como por exemplo os Touriga Nacional do Esporão, Zambujeiro, Quinta do Mouro, Servas, João Portugal Ramos... conclusão: Ficou a gostar e até disse porque é que não divulgam mais estes vinhos lá fora ?
Portanto à tua pergunta de como é visto o nosso vinho de mesa lá fora... a resposta dada pela maioria é, nem sequer o conhecem.
É verdade que os vinhos portugueses têm pouca expressão lá fora e em muitos aeroportos são inexistentes. Mas tenho que concordar com o texto num aspecto. Já bebi muito vinho francês barato, médio e caro... o que posso dizer é que muitos dos vinhos franceses baratos superam em muito os nossos baratos. Um dia ouvi alguém referir que na França até o vinho barato é bom e a verdade é que na maior parte das vezes bebo vinho a copo e vinho da casa porque sei que nunca vou ficar mal. É triste, mas é verdade. Temos vinhos muito bons, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.
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