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domingo, julho 16, 2006

O Crítico, o Critério e a Crítica

O que é um crítico de vinhos? Como se torna uma pessoa um crítico de vinhos? Existe um curso? Um percurso? Uma fórmula?

Para se ser um crítico (de vinhos ou de outra coisa qualquer) é necessário ter uma característica fundamental: essa pessoa deve ser percepcionada como tal por outrem. Não basta ter conhecimentos, experiência, saber escrever e falar. Isso tudo não chega. É imprescindível ter público e ser aceite, por esse público, como crítico de vinhos (não contam amigos, familiares e animais de estimação, como é óbvio). É um conceito que tem na sua génese a existência e a aceitação do mesmo por outros.

Quais são os critérios na avaliação dos vinhos pelo crítico? Quais devem ser? Quando aparece alguém a provar vinho e a dar notas (como nós fizemos nos post anteriores), existe sempre quem pergunte:”Quais são os critérios?” A maior parte das pessoas obtém uma certa paz de espírito e um certo conforto mental quando lhe vêm respondida esta questão. É um alivio saber que foram usados critérios. Querem uma resposta. Se a resposta for: “Os critérios são: cor, aroma, acidez, doçura, final, etc”, alguém fica satisfeito? Isto diz alguma coisa? A mim não me diz nada. Quer dizer, fico a saber que o crítico não analisou a forma com o vinho escorre pelo gargalo abaixo ou a propensão de cair uma gota de vinho tinto em tolhas de cor branca face à mesma probabilidade de um vinho branco. Ou seja, qualquer pessoa analisa o vinho que bebe segundo aquelas características. Um verdadeiro critério seria se quantificássemos essas características em valores de referência. Como é impossível “acertar” esses valores e nós não temos na língua um sensor perfeitamente calibrado, estamos condenados a “análises de critério” como esta: “o vinho tem boa acidez.”. Mas o que se entende por boa acidez? Não tem uma acidez muito alta nem muito baixa, é a resposta. Ora isto não nos leva a nada. Ou melhor, leva-nos a mais perguntas. Tudo depende do crítico e da sua interpretação do que é uma boa acidez. Depende da confiança que temos no crítico enquanto provador.

A crítica não é mais do que a comparação de vinhos. Do vinho em prova com a ideia do vinho ideal, do que deve ser aquele tipo de vinho para o crítico. Sempre o crítico, sempre as suas concepções, as suas ideias, as suas capacidades, as suas experiências, os seu preconceitos e os seus gostos. Sim, os seus gostos. Se assim não fosse, não haveria a “guerra” de críticos entre a escola europeia e a escola denominada novo mundo. Como é referido, varias vezes, nas revistas da especialidade, existem diferenças enormes na avaliação de vinhos quando o júri é internacional. Na crítica não existe verdade, há apenas coerência. Não existem critérios, há apenas bom senso. Não existem certezas, há apenas honestidade. Não existem máquinas, existem apenas pessoas: o crítico e aqueles que o “ouvem”.

13 comentário(s):

avental disse...

Não podia estar mais de acordo. Ainda assim, os provadores com quem nos identificamos escrevem numa linguagem próxima da nossa.

Anónimo disse...

Muitos parabens. Disse aquilo que eu gostaria de ter dito.

Mas se me permite no fim o resultado é - Gostos não se discutem - seja tratando-se de vinhos, mulheres ou outra coisa qualquer. O que para mim é excepcional para outro pode ser uma grande mer....

avental disse...

Voxx, os gostos educam-se e depois podem discutir-se. Uma coisa é não gostar de vinho, outra é de achar o vinho de pacote o máximo, quando nem para cozinha serve :)

rui disse...

Para ser rigoroso, considero que o gosto não se devia educar. O que se devia era educar a pessoa a provar, e esta, a partir daí, construía o seu gosto. No entanto, o que a maioria dos “opinion-makers” faz é educar o gosto dos seus “alunos” à imagem do seu gosto pessoal.

E aí de quem levantar o dedo para questionar o que for...

avental disse...

Educar no sentido cultural, e não no sentido de ensinar, de formatar cabeças para.

rui disse...

Foi um preciosismo da minha parte. Aliás, comecei por dizer que ia ser rigoroso.:)

Anónimo disse...

Um critico tera' tambem capacidades inatas ao nivel das memorias olfactiva e gustativa acima da media; um palato mais sensivel que o da maioria das pessoas.

rui disse...

Li, há pouco tempo, um artigo em que o autor afirmava que o Robert Parker tinha dito que se lembra de todos os vinhos já provados. A ser verdade que o Robert Parker afirmou isto, confirmo para mim que mais do que ter inatas capacidades de memória olfactiva é preciso é ter convicção, pouca vergonha, um pouco de sobranceria e muita confiança.

É verdade que quem nunca cheirou violetas na vida não pode saber qual o aroma de violetas. Quem passou a anos a treinar o nariz para cheirar violetas reconhece mais facilmente o aroma a violetas do que quem apenas as cheirou esporadicamente. Quem diz violetas, diz outra coisa qualquer. Isto parece-me óbvio.

Já li tb que estudos científicos demonstram que realmente algumas pessoas têm alguns dos sentidos mais apurados que a média. Mas será que estas tornaram-se todas em críticos de vinhos? Dava a minha melhor garrafa para satisfazer a minha curiosidade de saber quantos críticos de vinho têm realmente essas capacidade inatas. Pena que não haja uma junta médica onde possamos pedir um certificado de habitações físicas para desenvolvimento da carreira de crítico de vinhos. :)

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

Eu posso ter uma excelente aptidao para o futebol mas, como nao me interesso por essa area, nunca a vou explorar! Tambem aqui o trabalho e a dedicacao sao essenciais, mas sem ovos nao se fazem omeletas. Quem ja provou vinho com pessoas possuidoras de um palato mais sensivel sabe do que estou a falar... A junta medica acaba por ser formada pelos teus pares na profissao - se te reconhecem habilitacoes, e' por que elas la estao. Alias como em qualquer outra area... Tudo o resto, ja dizia o outro, sao sombras de coisa nenhuma.

rui disse...

Por ser como qualquer outra área é que eu sei que nem sempre os “pares da profissão” são inteiramente correctos na apreciação dos seus colegas. Quem é que não conhece incompetentes “adoptados” e protegidos pelos seus “pares”? Ou pessoas competentes que por inveja, arrogância ou preconceitos dos seus “pares” são impedidas de singrar?

Bom, de qq maneira e nesta questão do vinho, pessoalmente acredito mais no trabalho, dedicação, aprendizagem e erro constante do que nas faculdades físicas especiais. Acredito especialmente naqueles que colocam a hipótese de estarem errados.

Um abraço,
RC

cj disse...

isto é como qualquer crítica:
tenho os que sigo no cinema, na literatura, etc.,e obviamente os de vinho que já sei terem um gosto semelhante ao meu.
mas até sabermos isso demora uns tempos.

Anónimo disse...

Continuando com a linguagem futeboleira: desde o Zidane ao jogador mais desconhecido da 2a divisao B, todos sao jogadores de futebol. O barrigudo que todos os dias anda com o Record debaixo do braco, nao. Por mais que pense o contrario, nao passa de um treinador de bancada, if you know what I mean... A diferenca entre o Zidane e o tal da 2a divisa? Sheer ambition, m'dear, sheer ambition.

rui disse...

Nisso estamos de acordo, a ambição faz-nos sair da “bancada” Não será a única coisa, mas é com certeza decisiva.

Um abraço,
RC

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