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sábado, agosto 26, 2006

Veneza

Restaurante em Paderne, Algarve. Na romaria estival ao sul, no fim da A2 virar à esquerda no sentido Ferreira-Paderne, de costas para Albufeira. No inicio do Algarve não turístico, encontra-se numa curva escondido dos aceleras mais distraídos um restaurante que já é uma verdadeira instituição no Portugal enófilo. Mais que um restaurante, é uma Garrafeira.

Não cheguei a perguntar ao Seu Manel o porquê do nome. Não existem referências culinárias italianas e tirando alguns dos melhores vinhos transalpinos que se vendem na garrafeira não existem indícios que nos possam ajudar a resolver o enigma. Aqui, pratica-se a gastronomia regional algarvia ao contrário da gastronomia turística algarvia praticada junto ao mar. Cozinha honesta a preços honestos mas sem entusiasmar. Portanto, sejamos sinceros, quem visita o Veneza já vai com ela fisgada: a garrafeira.

Passo a explicar a forma como um apreciador deve visitar o restaurante:

  1. Telefonar a reservar mesa (obrigatório, agora nos meses da canícula). Se possível escolher mesa na garrafeira (juntinho às nossas amigas);
  2. Chegar meia-hora mais cedo e dirigir-se à garrafeira. Namorar as garrafas, pegar-lhes, piscar-lhes o olho e voltar a posá-las – “ainda não é hoje minha menina, uma outra ali mais desavergonhada da prateleira de cima já me conquistou. Fica para próxima.”;
  3. Não é fácil a escolha. Estão lá as referências todas e a preços excelentes. O restaurante pratica uma margem de 5/10 euros em cima da garrafa. Mais do que justo. Escolhidos os vinhos (mesa e Porto) é necessário verificar se estes existem nas caves climatizadas. Como é evidente nem todos os vinhos existentes na garrafeira se encontram nas caves. Caso não existam, pedir para refrescar um pouco;
  4. Escolher os pratos;
  5. Deliciar-se com os vinhos pedidos;
  6. Terminada a refeição, voltar à garrafeira. Escolher uma caixa ou duas de vinhos e voltar para casa. Cuidado com a GNR de Albufeira.

No sábado passado, coincidiu três de nós que fazemos este blog estarmos a banhos em terras Algarvias. Cumprindo a receita acima, marcámos mesa para as 22:00. Escolhemos para beber:

Ázeo 2003
Aroma agradável com os frutos pretos em conjugação com o floral da Touriga. A boca revela algumas notas mais verdes e amargas o que o torna um vinho não consensual. Ainda assim, eu gostei.

Qt. Vale D. Maria 2003
Vinho quente. Muito maduro, muita fruta, muita extracção (15º). Macio, doce, algo excessivo. Controverso na mesa: houve quem adorasse, e eu, sozinho, achei-o desequilibrado. Falta-lhe equilíbrio e classe.

Kopke Vintage 2003
Muito maduro no aroma. A fruta é quem manda. Para mim falta-lhe uma certa complexidade e vigor para ser considerado um dos vintage maiores desta declaração. Esta “calmaria” dá-lhe por agora um excelente beber.

Cockburn’s Vintage 2000
Já se nota alguma evolução. Os frutos secos já começam a marcar o aroma e a prova de boca. Está marcado por uma nota alcoólica mais prenunciada, o que aconselha descanso por mais uns aninhos. Ainda assim bebe-se bem.

O jantar terminou tarde. Facilmente se previa tal desfecho. Quem nos conhece sabe que não somos pessoas de comer, beber e pôr-nos a andar. Nos prazeres da mesa, não há lugar para pressas. Portanto, quando considerámos que estava na hora de cumprir a segunda parta da receita (voltar à garrafeira), há muito que os penúltimos clientes se tinham ausentado.

De modo a abrir as hostilidades - escolher é uma guerra permanente entre a razão e a paixão - o Seu Manel, pessoa conhecedora e apreciadora, abriu uma garrafa:

Dow’s Vintage 1994
Cor impressionante. Parece que os anos não lhe fizeram mossa. Apenas o aroma a figos demonstra que este jovem não foi acabado de engarrafar. A boca confirma o figo maduro e frutos secos. Muito guloso, dá enorme prazer a beber e a cor jovem demonstra que ainda pode evoluir sem medos mais uns anos.


Eu já tinha a debaixo de olho umas garrafinhas e como é evidente, depois de um excelente jantar, a boa disposição está no alto. Não me iam escapar! Ora esta boa disposição custou-me quase cinco vezes mais que o jantar. Saímos do restaurante com caixas de vinhos em braços. Perguntei as horas: eram quase cinco da manhã.

7 comentário(s):

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Caro Rui

Devo confessar que as minhas idas ao Veneza são sempre excelentes. O Sr Manuel é bastante amigo do Director Regional do Algarve da cadeia hoteleira na qual trabalho e tenho lá ido pelas mãos desse meu colega e querido amigo, o que provoca sempre a abertura de "bombas" a preços muitissimo razoáveis. Devo dizer também que a comida não deixa a bebida ficar atrás pois é excelente. Já fiz os meus comentários sobre uma visita a este restaurante nos 5 as 8

http://www.os5as8.com/forum/viewtopic.php?t=1476&highlight=restaurante+veneza

Não deixo de visitar o Sr Manuel sempre que vou ao Reino dos Algarves

Um abraço

Zé Tomaz

rui disse...

Claramente é restaurante a visitar. Recomendo mesmo, à ida para o restaurante, a total limpeza da bagageira do carro de entulho estival pois toda a capacidade será necessária à saída do restaurante. Os preços marcados da garrafeira são mesmo bons (em quase todos os vinhos) e quando a noite vai alta, o copo puxa palavra, as garrafas saltam das prateleiras com mais velocidade e os preços vão descendo (nunca descem para aquilo que nós queríamos, claro).

Como alguém disse no tópico que referiste: “só é possível o Seu Manel fazer os preços que faz no restaurante porque depois quase todas as pessoas não saem de lá sem passar pela garrafeira”. Eu, como aprecio o conceito, cumpri a minha parte à risca.

Um abraço,
RC

NOG disse...

É curioso. Passei pelo Veneza na semana passada e também escrevi um post (mas apenas sobre o Herdade do Peso Reserva).

É, efectivamente, um lugar fantástico.

NOG

(Saca)

Anónimo disse...

Uma das minhas três jóias da coroa no Algarve. Comida típica da serra algarvia com vinhos (quase) a preço de garrafeira -- esta magnífica, diga-se de passagem.

Como foi referido, a comida, apesar de excelente, torna-se acessória perante as magníficas possibilidades de provar tais "pomadas" a preços razoáveis! E se houver dúvidas na escolha, pode sempre pedir uma sugestão ao Mestre Manel, sempre prestável e apaixonado por estas coisas do Vinho.

Relativamente à comida, nunca comi um secreto (grelado) de porco preto tão bom. O lombinho com alho, o xerém (papas de milho) e as batatinhas fritas tipo pala-pala, são também surpreendentes para quem não conhece.

Restaurante a não perder de modo algum.

Hélio

rui disse...

Caro Hélio,
não resisto a perguntar-lhe quais são as outras 2 “jóias da coroa”? É que nem sempre se encontram “pérolas” destas no Algarve.

Um abraço,
RC

P.S. Bem Vindo.

Anónimo disse...

Caro Rui,

Antes de mais, muito obrigado, é um prazer contribuir para este blogue.

Ora bem, eu não desenvolvi ontem as minhas outras "jóias da coroa" porque tratam-se de restaurantes que, parece-me, estão um pouco aquém do objecto deste blogue, os prazeres de beber e bem servir o Vinho. De facto, ambos (o segundo mais que o primeiro), não fazem do vinho a aposta que lhe é devida. No entanto, aqui vão pois são, de facto, cada um à sua maneira, uma delícia (de local e de comida)!

São ambos bastante conhecidos, muito provavelmente até já os frequentou. Eis o que anotei, na altura, sobre eles:

- A bordo com o Carlos (Benagil, Lagoa):

Simplesmente, o meu restaurante preferido. Não hesite e escolha o menu fixo do Capitão. Delicie-se com as múltiplas entradas frias e quentes e choque, devagar (sim, pois trata-se de um dos poucos membros Slow Food em Portugal), contra a sopa de cação ou o pato com laranja. Finalize com a tábua de sobremesas -- onde destaco o mousse de goiaba. Se não lhe for espontaneamente oferecido, não seja tímido e peça para terminar com uma das melhores aguardentes de medronho que já provei -- se não for adepto deste, prove antes o abafadinho, que também é muito agradável. Ah, um segredo: durante as entradas peça gentilmente ao Capitão Carlos um pouco daquela maravilhosa manteiga de ovelha que ele vai expressamente comprar a Azeitão. Restaurante a não perder de modo algum. Nota: o vinho da casa (principalmente o branco) é muito agradável.

- A Azenha do Mar (Azenha do Mar -- fica entre a Zambujeira do Mar e Odeceixe -- ...opps, afinal não é Algarve...mas é perto):

Um lugar mágico num sítio mágico. Em época alta, chegue (muito) cedo, caso contrário arrisca-se a apanhar uma centena de pessoas à espera. Vá por mim e peça uns perceves como entrada e parta depois para o melhor arroz de marisco que conheço! Tudo muito fresquinho, apanhado, no dia, ali mesmo ao lado, e a preços decentes. Raspe-se dali para fora enquanto ainda tem luz e maravilhe-se com uma caminhada até o porto de pesca e arredores.

;) Um abraço!

Hélio

Anónimo disse...

Bem eu também já visitei o Resaurante Veneza. Agora uns Lombinhos de porco fritos com alhos em óleo bem,isso come-se em qualquer lado. O Pato do Campo é Congelado. e as batatas fritas ,pois essas são do pacote.
O preço é bom,mas,só para o Sr.Manel. Agora os Senhores não devem preceber lá muito de culinária. Jota Pinto

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