Vinho Madeira - partir à descoberta
A alguns dias de descanso no Funchal, juntou-se uma primeira incursão pelos famosos Vinhos Madeira, que me eram até então quase desconhecidos (grande falha minha eu sei, mas que pretendo ir corrigindo com o tempo). Como primeira impressão, apenas posso dizer que terei de lhes dar novas oportunidades, pois esta primeira abordagem não se revelou muito profícua, por duas razões, a primeira deveu-se ao facto de o terceiro elemento da família ainda se encontrar dentro de uma barriga, e como tal, a companhia para as provas (a dona da barriga) se encontrar limitada, o segundo factor tem a ver com a própria estratégia de promoção, distribuição e vendas do próprio vinho, que vou descrever mais à frente, e que me limitou um pouco a qualidade dos vinhos a provar.
Como o raio de acção para estes dias estavam à partida limitados, pelo primeiro factor acima referido, tentei optimizar a pesquisa pelos ainda desconhecidos Vinhos Madeira, procurando nos restaurantes (dentro e fora do hotel) provar alguma variedade interessante de amostras. Daqui surge a primeira questão, estamos perante uma indústria para turista estrangeiro, em quase todos os restaurantes de gama média-alta que frequentei (não tive oportunidade para nenhum dos altamente recomendados) servem de aperitivo um Vinho Madeira, corrente, em copo de taberna (grosso) e a temperaturas impróprias, que impressiona qualquer um dos ingleses e franceses que abundam na região, mas que me deixam a pensar que nem ali se pensa mais à frente em termos de turismo. Após estes aperitivos, que obviamente começaram a ser colocados de lado, ou mesmo rejeitados, comecei a indagar acerca da disponibilidade de melhores exemplares do afamado vinho, e deparei-me com uma situação muito semelhante ao que encontramos no continente com os vinhos do Porto, um ou outro 15 anos e pouco mais (no hotel, onde encontrei a melhor oferta), francamente pouco para restaurantes que cobram cerca de 25€ por pessoa (sem vinho). Cheguei então à triste conclusão de que tinha tido muito azar na escolha dos restaurantes e que por ali não me safava.
Virei-me então para a visita às lojas e caves dos produtores, uma loja da Empresa Barbeitos e as caves da Madeira Wine Company. Aqui encontrei duas estratégias distintas:
- por um lado a loja ligada à Barbeitos aposta num formato de garrafeira genérica que aposta forte no atendimento especializado e que além dos vinhos da empresa disponibiliza também algumas (poucas) ofertas de concorrentes e outros tipos de vinhos (alguns preços interessantes para alguns vinhos da moda, principalmente Porto e Douro), nesta loja passei cerca de 1 hora a conversar com um simpático funcionário que me falou sobre algumas curiosidades da produção do vinho e me deu a provar alguns vinhos com 10 anos para tentar perceber um pouco a diferença entre as castas, muito educativo;
- por outro lado encontramos o gigante da região a Madeira Wine Company, uma cave muito bonita e com uma oferta extraordinária dos vinhos da empresa (na loja que dá para a rua tinha também alguns, poucos, vinhos do continente). Tinha no interior das instalações 2 garrafeiras distintas, uma de vinhos mais correntes, onde o serviço de vendas não era mais do que despachar garrafas e garrafas de vinho a turistas ansiosos por levar de recordação os vinhos que eles gratuitamente disponibilizavam para prova, e uma outra sala de vinhos especiais, mais vazia, com prateleiras de vinhos antiquissimos(90% deles mais velhos que eu) e que servia qualquer um deles a copo (mediante um preço), e foi aqui que fiquei mais desiludido, o atendimento é muito a despachar e mais orientado para a venda de garrafas do que propriamente para uma escolha mais pormenorizada dos vinhos a comprar. Um oferta extraordinária mas que não oferece a quem quer pagar para provar estes vinhos, as condições de prova que eles indicam como indispensáveis para que os vinhos sejam realmente apreciados, copos decentes, vinhos decantados e temperatura correcta.
Quantos ao vinhos propriamente ditos, são vinhos com uma acidez tremenda e que, quando não controlada, se torna extremamente enjoativa, principalmente quando conjugada com uma doçura quase artificial que alguns vinhos mais correntes apresentam. De uma forma geral pareceram-me vinhos com aromas muito delicado e muito variados e com um potencial tremendo de envelhecimento, pelo menos a julgar pelos vinhos com 30 anos que provei e se apresentavam com uma jovialidade tremenda. Quanto às castas, destaco pela positiva a malvasia, que se revelou um "porto seguro" e pela negativa a muito comum Negra Mole que me parecia vinho de laboratório, em que tudo parece artificialmente misturado.
Resumindo, são, de facto, vinhos muito especiais e que merecem que dedique algum tempo a aprender a apreciá-los, pois ainda não me sinto preparado para um julgamento muito efectivo. Por outro lado, parece-me que a oferta está muito vocacionada para vinho de fraca qualidade o que torna difícil encontrar os bons vinhos para quem é um apreciador, uma situação a rever, do meu ponto de vista.
Nota: Este post já vai longo, por isso vou deixar para outro post algumas informações sobre o Vinho Madeira que podem ser úteis a quem, como eu, está a “entrar” neste meio. Quanto aos vinhos provados podem ver o post anterior com as notas de prova do trimestre.
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