Ágora
Por questões pessoais, a zona do Parque das Nações, tornar-se-á em muito breve trecho “a minha zona” em Lisboa. Já aqui escrevei que é uma zona nova e desprovida de cultura gastronómica. Por isso, na zona, a busca por um restaurante que associe a boa comida a uma boa garrafeira a preços sensatos em sido a minha procura pelo Santo Graal.
Descobri o Ágora restaurante por acaso. Mesmo na Alameda dos Oceanos, entre a Direcção Geral de Finanças e o centro comercia Vasco da Gama. Os afazeres “fiscais” levaram-me ao local. A fila existente para o balcão 4 e a minha (conhecida) falta de paciência levaram-me a preferir almoçar. Decidi fazer a vontade ao “chato” do meu estômago e entrar no restaurante.
A ementa é constituída por um pequeno conjunto de pratos de peixe e de carne (dentro de um estilo moderno com algumas referências “mais clássicas”), existem quatro tipos de espetadas e, por fim, pode-se escolher entre três bifes (cortes), optar pelo molho e os acompanhamentos: estilo “à lá Lusitânia”. Escolhi o bife da vazia com molho de vinho tinto e três pimentas acompanhado com migas de coentros e legumes salteados. Bom bife, boas migas e bons legumes. Tudo simples mas bem feito, num estilo muito “clean” e sem artifícios de maior. Preços sensatos.
Estava sozinho e, por norma, ao almoço bebo água. No entanto, por cima do ombro reparei que havia uma prateleira ao fundo balcão que apresentava imponentemente aquilo que à distância que parecia uma garrafa de Batuta. “Mau. Tu queres ver que isto, se calhar, até tem algum encanto escondido!” Puxei até mim a carta de vinhos e SURPRESA! Uma lista cuidada com a maioria dos vinhos que me fazem correr às garrafeiras. De todas as regiões e a preços que fazem corar algumas garrafeiras. Por exemplo: Pintas 2004 – 73€; Batuta 2004 – 65€; Poeira 2004 – 35€; Qt. Vale Meão 2004- 45€, Vallado 2004 – 11€, etc, etc. E não é só o Douro que está bem representado. Todas as outras regiões também têm substrato. Por exemplo, e sempre a preços excelentes, no Dão, temos a Qt. Perdigão, Vinha. Paz; na Estremadura, a Qt. de Monte d’Oiro, Chocapalha; no Ribatejo, Mythos e Marquesa de Cadaval; em Setúbal, o Hexagon; no Alentejo, o Esporão Private Selection, Baron B Branco e Tinto; e até de Espanha tem o Pintia e o Alion. Faltam os vinhos do Porto mas vê-se que existe alguém por detrás deste restaurante com conhecimentos enófilos e, como provam os preços anunciados, também com conhecimentos na área da distribuição ou produção. Fiquei de voltar, brevemente, ao jantar.
E voltei logo no dia seguinte. Peguei em mais dois amigos e marcámos para jantar. Ou melhor, marcámos para petiscar. Tinha reparado, numa revisita à ementa depois da surpresa na carta dos vinhos, que o restaurante oferece uma boa panóplia de entradas. Não as contei mas serão perto da dúzia e meia. Escolhemos: Choquinhos de coentrada, Farinheira frita com grelos salteados, Cogumelos salteados com fumados, Batatinhas novas com molho de Erva-doce e no fim veio uma tábua de queijos com compotas doces. Tudo muito bom com particular referência para os choquinhos. E os vinhos? Esses já os tinha escolhido logo no almoço do dia anterior. Já ia com ela fisgada: Qt. Roriz Reserva 2003 e Qt. Touriga Chã 2003. Preços: 33,60€ e 28€ respectivamente. Copos: Riedel. Temperatura: podia ser melhor (para o segundo foi preciso arrefecer um pouco). Cadeiras: horríveis; extremamente desconfortáveis, foi preciso chegar ao segundo copo para me alhear desse facto. :)
Qt. Roriz Reserva 2003 – Aroma subtil com notas de fruta ligeira e com madeira muito bem integrada pois não se notava (excelente!). Na boca parecia veludo. Taninos bem domesticados apesar de se notar que é um vinho com grande estrutura. É do tipo que ultimamente valorizo: fácil de beber e pouco cansativo. Ando a fazer o percurso inverso da maioria dos enófilos: a maioria procurar cada vez mais vinhos mais difíceis ou diferentes ou extremados ou originais (o que é que quer que isso seja). Eu cada vez aprecio mais os que têm menos “espinhas”, que aliam complexidade e facilidade. Se me apanho a dizer no início do copo, “Epá, gosto disto, era capaz de beber uma garrafa sozinho!”, então é garantido uma boa classificação da minha parte. Faltou-lhe apenas um maior final de boca para eu lhe dar o máximo.
Qt. Touriga Chã 2003 – Aroma mais quente que o anterior. Apresentava mesmo algumas notas animais mais “presas” que precisaram de arejamento para desaparecer. Depois, sobressaíram as notas fumadas da tosta com fruta madura. A boca também ela mais quente, menos elegante, mais Douro profundo, com a fruta madura a fazer-se sentir com algum ardor alcoólico final. Penso que se ressentiu, mais que o primeiro, da temperatura de serviço não ser a mais correcta.
Acredito que este passe a ser o meu restaurante de eleição na zona da antiga Expo. A qualidade e os preços não tem igual na zona (pelos menos que eu conheça) e rivaliza ao nível da garrafeira com qualquer outro restaurante de Lisboa. Vou voltar rapidamente e já tenho alguns vinhos fisgados para uma próxima incursão. Altamente recomendado, apenas ressalvo que a gerência ao fim-de-semana, numa tentativa de captar algum público mais jovem, disponibiliza animação a partir de determinada hora com um DJ: quem não gosta de música mais moderna, e o consequente perigo da existência de grupos mais barulhentos, aconselho os dias mais calmos da semana.
15 comentário(s):
Já tinha ouvido falar bem deste restaurante e depois desta crítica já não tenho desculpa para não o visitar.
Caro Pingamor,
bem-vindo ao nosso blog.
Acredito que não te vais arrepender.
Um abraço,
RC
p.s. Mais uma pessoa a escrever sobre vinhos. Força!
Caro Rui, posso publicitar o teu blog no meu?
Miguel
Claro.
RC
Por razões que se prendem com a politica comercial e uma deficiente distribuição, o Quinta de Roriz é, na minha opinião, um dos segredos mais bem guardados entre grandes vinhos do Douro. Por cerca de metade do preço de outros vinhos que estão no mesmo patamar qualitativo, obtem-se um produto que está claramente sub-avaliado. Do mesmo modo, o Prazo de Roriz é outra excelente aposta nos vinhos inferiores a 10 €
Caro JGR,
sobre a politica comercial, não vou opinar pois não tenho bases para isso. Sobre a distribuição, confirmo que é um vinho difícil de encontrar, tanto o Qt. como o Prazo (por vezes encontram-se mas não os anos mais recentes). O Prazo ainda não provei o mais recente 2004 (se bem me lembro só provei o 2001) mas os vários guias apontam-no como uma boa escolha.
Um abraço,
RC
Eu costumo ser um bocado crítico ao lucro exessivo, a meu ver, da restauração no que toca aos vinhos. Claro que depende muito das casas, mas em geral "metem a unha à força toda". Fiz uma investigação rápida na net, e vi que a Qunta Roriz segundo o DN de 16/03/06, num comentário a este vinho, diz que se encontra esta garrafa por 25 euros. Quanto ao Touriga Chã, Só encontrei na winept.com a reserva 2002, e custava 13,5 euros. Portanto mesmo assim não ficaste a perder muito. Bonito Bonito é aprender a fazer uns petiscos, convidares os amigos, e fazer a patuscada lá em casa. chato é lavar a loiça no dia asseguir, mas vale a pena. Boas Pingas.
Caro Pedro,
eu cá acho que não é só as unhas que metem á força toda,a maioria chega mesmo a meter as mãos até aos cotovelos. :)
Confesso que o mais me agradou neste restaurante foi a variedade de vinhos e os baixos preços dos mesmos. Existem alguns vinhos que estão mais baratos que a maioria das garrafeiras (caso inédito , não conheço mais nenhum restaurante onde isso aconteça).
Os preços que indicaste parecem-me muito optimistas. Ou seja, se encontrarem os vinhos que referi a esses preços, é comprar às caixas. Penso que o normal para ambos os vinhos é andaram por voltas dos 30€ (mais 2€, menos 2€). Por exemplo, no VinhoeCoisas.pt o Touriga Chã 2003 está a 27,5€ (e o 2002 tb), o que quer dizer que no restaurante paguei apenas mais 50 cêntimos que se o tivesse mandado vir do Porto. Melhor que isto é dificil.
Agora, tenho que concordar contigo que o que sai mais barato e mais prazenteiro é fazer a festa em casa. Temos é que ter uma mãozinha amiga para lavar a loiça. :)
Um abraço,
RC
Se me deixarem meter a colherada, eu estou como o Pedro. Actualmente, raramente bebo vinho nos restaurantes. Não estou para pagar 9/10€ ou mais por garrafas que custam 3/4€ num hipermercado. Ainda por cima são vinhos de combate.
Então é juntar amigos e fazer uma jantarada ou almoçarada.
Boas,
confesso que tinha muita curiosidade em experimentar o Ágora, e resolvi não esperar mais e ontem lá fui com a minha cara-metade.
Comi de entrada uma morcela com ananás (muito bem preparada) e para a janta escolhi o bife do lombo com molho 3 pimentas e entrecosto com migas de tomate.
Tudo muito bem confeccionado e a bons preços.
Para beber escolhi o Qta Roriz reserva 2003 seguindo a sugestão do Rui.
Foi servido extremamente quente, e ao fim de 1 hora a chambrear, ainda assim continuava. Vinho interessante, mas não mais que isso, com a minha opinião algo influenciada pelo "quente" do vinho servido.
De qq forma dou 4 rolhas ao vinho.
Relativamente à restante refeição, ainda deu tempo para um whiskey e uma aguardente a bons preços.
Como opinião final recomendo a visita a este restaurante, e eu decerto que lá voltarei mais vezes.
Um abraço a todos
João
João,
eu avisei que o Qt. de Roriz não era para o teu gosto. :)
Realmente, para a selecção que tem, é uma pena que não tenha um armário refrigerador de vinhos. É uma falha que, se passar lá a ir algumas vezes, hei-de chatear a gerência com esta questão.
RC
Viva,
O Ágora tem dois armários de frio que infelizmente não estão a funcionar. Mas em conversa com o gerente foi-me dito que vão solucionar este problema rapidamente. Os armários estavam junto à porta de trás do restaurante.
Cumprimentos,
João Chêdas
Caro João Chêdas,
boas noticias, então!
Um abraço,
RC
Caros,
sexta feira à noite lá fui eu experimentar o Ágora. Fiquei muito bem impressionado. Os armários frigoríficos já lá estavam e penso que um deles já estava a funcionar.
Copos riedel muito bons. Bela carta de vinhos por região e que preços... Aqui notam-se algumas diferenças mas é de salientar o esforço feito pelos proprietários para os colocarem a preços tão sensatos.
Jantei um belo bife do lombo com 3 pimentas e legumes salteados. Carne de bela qualidade. Bebi o Qt de la Rosa 2004 a 11.5 euros. Para este segmento este 2004 está simplesmente muito bom!
Ambiente despreocupado e vim cliente de futuro.
Acho até que um futuro jantar de eno bloguistas podia passar por este espaço... Pareceu-me haver abertura por parte da gerência.. Boas provas!!!
Também estive lá outro dia e achei excelente. Fomos depois deliciados com uma sessão de dança do ventre :)
Realmente o único senão são as cadeiras que poderiam ser confortáveis mas é algo que também se esquece com o passar do tempo.
Carta de vinhos excelente a preços sensatos. (160 vinhos salvo erro)
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