Desde do início do ano tenho efectuado uma ronda pelos tops, guias, prémios, rankings, escolhas dos principais opinon makers do panorama vínico português. Escolhi para fechar este ciclo o guia de vinhos elaborado pela equipa 5às8: Rui Falcão, Pedro Gomes e Tiago Teles.
O projecto 5às8 foi o primeiro movimento “associativo”, de amigos apreciadores, que aproveitou a internet como veiculo para a expressão das suas ideias sobre o vinho. Se não foi o primeiro, pelo menos, foi o que teve mais sucesso e o que garantiu esse lugar no nosso imaginário. A cultura do blog ainda estava para chegar e, se calhar, por isso um site com fórum de discussão acoplado foi a solução engendrada.
A iniciativa teve relativo sucesso e foi o bastante para dar origem a um guia de vinhos publicado pela ASA. O Guia 2004 de Vinhos Portugueses & Estrangeiros apresentava na capa: “Renovar ideias e conceitos na crítica de vinhos, de uma forma independente e rigorosa.” E apesar da equipa já ser 3às8, pois já se apresentava despojada de dois elementos, o guia foi recebido com entusiasmo pela comunidade enófila portuguesa pois este marco representava a voz do consumidor independente.
O primeiro guia sofria das maleitas intrínsecas a qualquer guia feito à margem do apoio de uma publicação especializada em vinho: representatividade da maioria dos vinhos portugueses. Ainda assim, foi um esforço louvável. E até causou algum “bruá” porque se “atreveu” a pontuar determinados vinhos com notas muito abaixo do “normal recorrente” das outras publicações.
Os guias seguintes falharam por não conseguirem dar um passo que os elevassem para outro patamar, que não apenas o da novidade. Essa passa depressa. Entretanto o Rui Falcão abraçou um novo projecto paralelo e tornou-se jornalista/crítico da Blue Wine (lá se foi a independência enquanto mero consumidor ou, pelo menos, o poder reclamar esse título) e o guia foi-se arrastando até chegar a este último de 2007. Foi anunciado, pouco depois da saída do guia para o mercado (desta vez publicado pela Presença e muito atrasado em relação aos restantes guias do mercado), que o projecto 5às8 acabava e que os seus elementos iriam empreender novos projectos, desta vez, a solo.
Deixo aqui os vinhos que melhor pontuaram na escala de classificação adoptada pelo guia (nota igual ou superior a 17 valores e provados em 2006):
Portugueses 1
Portugueses 2
Estrangeiros
(apenas os que apresentam nome do importador para Portugal)
Apresento também um quadro com as notas que me faziam comprar o guia: as contra-sistema. Aquelas que, mal ou bem, saem fora do habitual. Aquelas que, mal ou bem, dão azo à discussão. Aquelas que, mal ou bem, conseguem criar uma maior empatia com o leitor porque, por vezes, este julga reconhecer nestas uma prova das suas capacidades. É maior o nosso apreço por quem concorda connosco que o vinho não é assim tão bom como a maior diz. Todos gostamos de ser aqueles que detectaram a “fraude”. É a natureza humana.
“Apenas?”
(as maiores surpresas - vinhos abaixo de 16 valores)
P.S. Existem mais dois ou três guias no mercado (geralmente a tentarem alguns nichos – os melhores abaixo de 5 euros ou os x vinhos melhores de Portugal) mas penso que ainda não têm expressão no mercado português. Espero que novos guias aparecem, sobrevivam, tenham sucesso e, se me permitem sonhar, sejam elaborados por meros consumidores. Representavam o gosto do povo.
2 comentário(s):
Não deixa de ser um pouco irónico estar agora a fazer um comentário a um guia já depois dos seus autores terem anunciado publicamente o fim do projecto.
De qualquer forma, apesar da sua contabilidade, penso que falta referir o que para mim é o mais importante: a quantidade de vinhos portugueses provados pela tripla de criticos é muito pequena, insuficiente para se dar uma panorâmica global do se lançou este ano e portanto pouco útil para o consumidor. Compara-se com a concorrência e veja-se a diferença quantitativa. E mesmo assim recuperam-se notas a vinhos já provados em anos anteriores e que estarão concerteza desactualizadas.
Poder-se-á dizer que essa lacuna é compensada pela presença de muitas criticas a vinhos estrangeiros. Mas também aqui a relação com o nosso mercado é muito ténue. Tem interesse eu passar um dia pela Grécia e um provar uma só vinho grego que 99,9% dos meus leitores provavelmente nunca encontrarão na vida? Duvido.
Caro JGR,
concordo inteiramente com o que dizes. A quantidade de vinhos portugueses é muito baixa em relação a outros guias. Realmente aproveitam muitas provas anteriores (de 2005 e mesmo de 2004 em vinhos estrangeiros - geralmente os nomes sonantes). Penso até que o atraso de lançamento(face aos outros principais guias) deveu-se provavelmente já ao esperado fim.
Concordo tb que, para o leitor de pouco serve apresentar notas de prova de vinhos estrangeiros que não se vendam em Portugal, daí eu ter apresentado apenas aqueles que tinham importador definido.
É capaz de haver mesmo uma ironia neste caso: se eles não tivessem acabado se calhar não falava no guia e tinham passado "incólumes" (como diz o outro dos Gato F.).
Um abraço,
RC
p.s. agora reparo que acabo de concordar com tudo o que disseste. Isto já alguma vez tinha acontecido? Devo andar distraído. :)
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