No post anterior foram publicadas tabelas com as notas de prova (rolhas) dos vinhos bebidos por cada um dos membros deste blog no período referido no título. Como sou o mais desavergonhado, apresento, para os leitores mais curiosos, as descrições das provas efectuadas. Como é óbvio, a introdução feita no post anterior referido é valida para as descrições que se seguem.
O texto abaixo segue o seguinte fluxo: vinho -> rolhas -> descrição de prova
Tintos
Herdade do Esporão Garrafeira Private Selection 2003 (Alentejo) - 4,5 - Aroma subtil com todos os elementos bem integrados, longe do habitual madurão Alentejano. Na boca é o Alentejano que mais gostei. Equilibrado com fruta, especiaria, complexidade e facilidade de prova. Muito bom. Falta-lhe alguma assinatura final para lhe dar a nota máxima. Ando exigente...:)
Herdade dos Grous 23 Barricas 2005 (Alentejo) - 2 - O aroma é muito efusivo com as notas de fruta madura e doce da madeira a saltarem do copo. A boca confirma o lado doce, um pouco excessivo ao nível da extracção. Muito novo. Não gostei de todo este excesso de "lantejoulas". Pode ser que o tempo lhe dê algum "bom senso".
Malhadinha 2004 (Alentejo) - 4 - Quer o aroma e depois a boca apresentam-nos muito chocolate e fruta madura. O final aguerrido e cheio confere-lhe uma projecção extra que o permite escapar da mera bomba de "fruta-ó-chocolate". A beber rigorosamente à temperatura certa para evitar enjoos.
“O Mouro” 2000 (Alentejo) - 3 - Evolução na cor e já se notam os acastanhados. A lembrar aroma de LBV com alguns anos. Frutos seco. Figo. A boca inicialmente é doce a figos secos mas rapidamente o doce desaparece para dar lugar a um final seco a mato. Uma curiosidade. Um vinho que ganhou projecção quando saiu porque segundo a "lenda" resultou de um lote de vinho da Qt. do Mouro que tinha sido desconsiderado por ser demasiado ácido mas que o Dirk Niepoort numa visita que fez à quinta considerou como um vinho digno de engarrafamento. Teve o “hype” próprio da novidade e da estória associada e depois foi esquecido. Encontrei-o numa garrafeira do Porto aquando da visita ao Jantar de Entrega dos Melhores do Ano e à Essência do Vinho 2007.
Terrenus 2004 (Alentejo) - 4 - Nariz com fruta madura mas complexa. Fruta negra e silvas. Grande estrutura de boca. Com muita fruta mas com a acidez, os taninos e a austeridade das vinhas velhas a conferirem-lhe os predicados necessários para não se tornar mais do que um vinho com muita fruta. Um alentejano com carácter. Bom. Para mim, faltam-lhe aquelas especiarias e apimentados finais que consigo apanhar nos melhores Douros e que confesso tornam esta região a minha preferida.
Calda Bordaleza 2004 (Bairrada) - 3,5 - Aroma fechado. Algumas notas verdes proveniente do Cabernet. A boca é excessiva com os 15º de nível de álcool a mostrarem-se presentes. Fruta madura, chocolate, muita estrutura e taninos poderosos. Tudo em grande. Tudo excessivo. Daí ter sido prejudicado na nota que lhe dou. Pode ser que o tempo "amanse" o excesso de álcool. Agora: opte por pratos fortes.
Lokal Silex 2004 (Beiras) - 2 - Aroma a violetas e notas de pinheiro. Na boca, existe um rendilhado taninoso próprio dos vinhos de Baga que este não tem. Estranho! Algo cru. Ainda por domar, é um vinho estranho já que o tinha em casa à mais de ano e ainda assim me parece que está por "casar" os vários elementos, terminando mesmo com sensação alcoólica. Ou falta casamento ou já houve divórcio.
CARM Reserva 2003 (Douro) - 3,5 - No trimestre passado bebi este mesmo vinho no mesmo restaurante, com os mesmos copos e com o mesmo género de comida. Se anteriormente o considerei muito guloso com a fruta madura em evidência, desta vez, achei-o com uma muito maior acidez com um final com notas verdes e algum amargor. Baixei-lhe a nota. Ainda assim, uma boa relação qualidade preço.
CV 2004 (Douro) - 4 - Fechado no aroma. Algumas notas de frutos silvestres. A boca é elegante com uma grande estrutura mas não pesada. Frutos silvestres e bom equilíbrio com as notas da madeira. Falta-lhe uma maior definição dos elementos para se tornar “grande”. Bebe-se facilmente.
Encosta Longa Reserva 2004 (Douro) - 2 - O nariz já apresentava uma ligeira nota alcoólica incomodativa. A boca mostra-nos um vinho cru, rugoso, um pouco alcoólico com os elementos a puxarem cada um para seu lado. Estive a rever as minhas notas e é um dos raros Douros que não gostei.
Evel Grande Escolha 2003 (Douro) - 4 - Bebi este vinho uma semana depois de beber o Malhadinha 2004. Se no anterior o chocolate já era abundante, neste o chocolate é rei. Não me lembro de ter bebido nos últimos tempos um vinho tinto com tanto chocolate. Quer no aroma quer na boca. Muito guloso é vinho de agrado fácil numa mesa de consumidores "principiantes". Eu também gosto apesar de ter preferido a versão anterior (2001), tinha menos chocolate, notava-se mais fruta. É vinho um pouco monodireccional mas feito de chocolate preto dos melhores cacaueiros. :)
Ferreirinha Colheita 1998 (Douro) - 3 - Denota já grande evolução com a cor longe dos "normais" opacos. Aromas de alguma madeira, vegetal e pouco fruta. Na boca é suave, equilibrado e nada cansativo. É um vinho que não dá grande prazer beber a solo mas combina facilmente com pratos de sabor não muito intenso. Contracorrente. Foi buscar a descrição que fiz há dois trimestres atrás porque achei o vinho igual à prova anterior.
Passadouro 2003 (Douro) - 3,5 - Aroma com muita fruta vermelha e bem madura. A boca igual. Apesar de não ser um Reserva e já ter uns anitos, o vinho parecia que tinha chegado ao mercado agora tal era a vivacidade da fruta que brotava da garrafa. Parece-me que lhe falta uma certa acidez para aguentar as agruras do tempo, pois a fruta, essa, não lhe falta.
Poeira 2004 (Douro) - 3 - Sei que parece uma heresia para muitos: ainda não houve um Poeira que me tenha enchido o goto. E desta vez, este 2004 (já o tinha provado anteriormente) é capaz de ter produzido a pior prova de todos. Muito indefinido. No aroma, apesar de algo fechado, foram os fumados da madeira tostada que sobressaiam. A boca algo rude e incaracterística, apresentou um final agressivo. Uma prova que terminou positiva mas ainda assim decepcionante.
Pólvora 2004 (Douro) - 3 - Uma marca nova. É um vinho corrente agradável e fácil, com notas de alguma baunilha no aroma e fruta q.b. na boca. Uma boa opção num restaurante onde os vinhos de gama superior sejam inalcançáveis devido ao preço.
Qt. Fafide Reserva 2004 (Douro) - 3,5 - Equilibrado. Alguma madeira baunilhada no aroma. A boca equilibra fruta e acidez. Um bom vinho corrente a que recorro com regularidade nos restaurantes.
Qt. Fafide Reserva 2003 (Douro) - 3 - Em relação ao 2004 que provei pela mesma altura neste já se nota a perda da fruta e com isso um aumento da acidez. Ou seja, sendo um vinho corrente, opte pelo ano mais recente onde o vigor da fruta consegue manter o vinho mais simpático.
Qt. Roriz Reserva 2003 (Douro) - 4,5 - Aroma subtil com notas de fruta ligeira e com madeira muito bem integrada pois não se notava (excelente!). Na boca parecia veludo. Taninos bem domesticados apesar de se notar que é um vinho com grande estrutura. É do tipo que ultimamente valorizo: fácil de beber e pouco cansativo. Ando a fazer o percurso inverso da maioria dos enófilos: a maioria procurar cada vez mais vinhos mais difíceis ou diferentes ou extremados ou originais (o que é que quer que isso seja). Eu cada vez aprecio mais os que têm menos “espinhas”, que aliam complexidade e facilidade. Se me apanho a dizer no início do copo, “Epá, gosto disto, era capaz de beber uma garrafa sozinho!”, então é garantido uma boa classificação da minha parte. Faltou-lhe apenas um maior final de boca para eu lhe dar o máximo.
Qt. Touriga Chã 2003 (Douro) - 3,5 - Aroma quente. Apresentou mesmo algumas notas animais mais “presas” que precisaram de arejamento para desaparecer. Depois, sobressaíram as notas fumadas da tosta com fruta madura. A boca também ela quente, pouco elegante, muito Douro profundo, com a fruta madura a fazer-se sentir com algum ardor alcoólico final. Um vinho forte e aguerrido.
Qt. Vale D. Maria 2004 (Douro) - 3 - Aroma fechado com notas de fruta silvestre. Agradável. Na boca é o contrário do nariz. Desconjuntado, com pouca definição, fruta com taninos aguçados e amargor final. Falta-lhe definição. Não percebi o vinho, confesso.
Hexagon 2003 (Setúbal) - 3,5 - Cor longe das bombas do Douro. Aroma com ligeiro mato e feno. Frutos Vermelhos. Na boca a presença de uma acidez viva e bem presente devido ao Tannat. Boa persistência.
Generosos
Graham's 2003 (Porto) - 3,5 - Alguns anisados. Cheiro a massa de fartura. Laranja? A boca não é tão potente como outros 2003. Algum tanino mais "ruidoso". Fruta e ligeiro chocolate. Não é daqueles que dá mais prazer beber agora pois não agrada nem a gregos nem a troianos, ou seja, nem é fácil e guloso nem é impressionante e poderoso.