Opinião Crítica
Penso que já se falou aqui sobre a importância da crítica. Uma opinião encerra um juízo. No caso dos vinhos, uma avaliação feita porque quem, de alguma forma é considerada, mesmo por poucos, sabedora da matéria, pode ter repercussões inesperadas.
Aqueles que, por algum motivo, vão concordando com o que nós aqui escrevemos, não raras as vezes nos mandam mails a pedir a nossa opinião sobre este ou aquele vinho. Ou então, pedem-nos sugestões e listas de vinhos. Outros ainda querem esclarecimentos sobre algo. Penso que isto não será novidade para ninguém, até porque de vez em quando este mesmo tipo de pedidos é efectuado através de comentários aos nossos posts. Nunca falei com isto com os responsáveis de outros blogs mas acredito que lhes acontecerá a mesma coisa. Ou seja, existe um certo poder de influência sobre aqueles que nos abordam mesmo que, e falo por mim, tenhamos todo o cuidado para não ser demasiado absolutistas nas respostas.
Esta pergunta volta a estar na ordem do dia devido a uma nota atribuída a um vinho pela revista Blue Wine. Qual o vinho? Montes Claros Reserva 2004. Qual a nota? 18 valores. E qual o espanto? Bom, esta marca não é novidade nenhuma. É um vinho barato, cerca de 6/7 €, sem grande pretensões ou, pelo menos, em versões anteriores nunca as demonstrou. Esta surpresa, a acrescer o facto da Blue Wine atribuir notas bastante baixas a vinhos muito bem considerados em outras publicações, levou a que se gerasse uma onda de provas do vinho por alguns blogs amigos (1, 2, 3, 4). Uma espécie de contra-análise após um primeiro controlo de doping positivo.
Nós aqui no blog, também curiosos, provámos o vinho. Segue a minha descrição de prova, relembrando mais uma vez que a nossa classificação reflecte uma escala de gosto.
Cor não muito carregada. Abertas duas garrafas pois a primeira apresentava umas notas animais (algum suor de cavalo, se preferirem) que não me agradaram. Na segunda, chamemos-lhes apenas notas de couro pois já eram mais leves e com o tempo no copo tiveram tendência a desaparecer. Depois notava-se um verde incomodativo (não sei se é do Cabernet) que não gostei e que não desapareceu. A boca é de média concentração com fruta misturada novamente com sabores verdes. Final aguerrido com leve ardor alcoólico. Um alentejano estranho que sinceramente não gostei (particularmente do nariz). Abri duas garrafas com o Nuno (aqui do vinhoacopo) e com um amigo que bebe regularmente vinho corrente (é capaz de beber mais vezes do que eu mas apenas vinho até aos 5/6 euros) de modo a ter uma opinião menos pretensiosa do que a nossa (podemos estar a ficar aburguesados). Ninguém gostou. Quer dizer, mentira! Após o jantar, chegou o sogro desse meu amigo que ainda acabou por limpar uma das garrafas. Não que fosse grande coisa, segundo ele, mas sempre era melhor que o vinho do garrafão a que está habituado.
P.S. Com isto, a Adega Cooperativa de Borba tem vendido mais garrafas do que aquilo que, se calhar, estava à espera. Os leitores, por favor, não se guiem na minha apreciação. Leiam as outras, comprem o vinho, provem-no e façam a vossa opinião. Essa é que interessa.
22 comentário(s):
Caro Rui,
O seu PS diz tudo.
Boas provas,
1 Abraço,
Luis
Amigo Rui,
O mais curioso é que a tua descrição - que muito aprecio, como sabes - não é sequer parecida com as outras que citaste, e que também aprecio.
No mínimo, temos aqui um caso de "transfiguração". Agora sim, fiquei com curiosidade de o provar.
N.
Caro Nuno,
em relação à prova do Vinho da Casa, realmente estou algo afastado. Qt à prova conjunta do Pingas no Copo e Copo de 3, se leres com redobrada atenção a descrição deles, consegues encontrar duas referências ao lado vegetal (no aroma e na boca), só que para eles essa característica não é incomodativa como eu a considerei. Nas componentes mais objectivas (se assim se pode dizer), corpo e cor, a opinião é mais ou menos unânime entre nós.
Espero então para ler a tua opinião.
Um abraço,
RC
Caro Prata,
Não digas isso muitas vezes, porque se os meus colegas de blog sabem que consigo dizer tudo em apenas três linhas, nunca mais me deixam escrever posts de duas páginas. Andam sempre a reclamar que escrevo muito.:)
Fora brincadeiras, o meu apelo à prova e formação de opinião própria, efectuado no PS, é continuamente repetido aqui no blog.
Um abraço,
RC
Pois é caro Rui, por isso é que eu digo que há críticos e críticos e revistas e revistas.
Cabe ao descernimento do leitor fazer essa triagem pessoal.
A propósito, cada vez estou a gostar mais do você escreve.
Um abraço
É verdade...
Eu também me distancio de algumas notas vossas. Parece que às vezes não se bebe o mesmo vinho!
Vocês deram 1 a este vinho:
Herdade Portocarro - 2004 - 1 - Primeira edição de um novo produtor. Notas de baunilha e tostados marcam o aroma e cobrem a fruta. Na boca volta-se a sentir a madeira com um final adstringente, extremamente herbáceo e amargo. De prova muito difícil e sem dar nenhum prazer a beber, não consigo perceber o posicionamento no mercado deste vinho: qual é o target?
Eu 16,5 o Pingas 16 e Copode3 16.
Só para citar um exemplo...
Um abraço
Caro JGR,
tal como as pessoas que lêem este blog têm uma opinião sobre a minha pessoa, eu qd leio o que os outros escrevem tb julgo. Como é óbvio já gerei a minha opinião sobre a maioria dos críticos e das revistas da nossa praça. Como os outros não são menos do que, acredito que tb o tenham feito. Esta opinião é que nem sempre coincide. Ou seja, a triagem que referes nem sempre tem o mesmo output. Mas isso, além de ser inevitável, se calhar, até é desejável.
Um abraço,
RC
Caro Frexou,
esse vinho, o Portocarro, ainda me está atravessado. A maioria da malta dos blogs gostou (dou mais valor a vocês, porque os conheço, do que à maioria dos críticos das revistas, que não conheço. É uma questão de empatia.) e eu sinceramente não gostei nada do vinho. Até fui algo violento na descrição que fiz. Não me arrependo. Fui sincero. Depois de conhecer a vossa opinião, coloquei uma nota mental para provar o vinho novamente mas isso nunca aconteceu.
Este tipo de discrepâncias vai acontecer mais vezes. Espero até que aconteça ainda mais vezes. Mostra aquilo que venho defendendo: a prova é de subjectividade extrema. Ou então, não se bebe realmente o mesmo vinho. :)
Um abraço,
RC
p.s. Essa descrição de prova é minha, tal como a nota. Ou seja, só reflecte a minha opinião e não a do resto do grupo.
Não é minha intenção provocar polémica, menos ainda ser desagradável, mas perante o post que aqui comento tenho que perguntar: se o texto do post não é para ser levado em conta para quê publicar, publicitando, expandindo o eco de uma opinião; elaborando de forma algo prolongada sobre a importância que passa a ser dada a quem publica num blog; elaborando descritivos pormenorizados sobre uma prova? Qual o propósito de, cito de memória, "com isto a Adega Coop de Borba vende mais garrafas do que as que contava? Eu gostei muito do vinho, cf. opinião emitida num forum e achei-o muito superior ao que razoavelmente se espera de um vinho deste preço!
Caro JMS,
Só eras desagradável se fosses malcriado e este não é o caso. Era só o que faltava as pessoas não poderem discordar do que eu escrevo ou não poderem colocar em causa o que afirmo. A polémica não faz mal a ninguém, bem pelo contrário.
Se as tuas questões tiveram origem no PS que fiz, então, porventura, não fui rigoroso o suficiente quando referi ”não se guiem na minha apreciação”. Passo a explicar: referia-me especificamente à minha apreciação daquele vinho em particular. E no geral, queria dizer, como tenho repetido em outros posts, não tomem a minha opinião sobre determinado vinho como uma verdade absoluta. Provem e criem a vossa própria opinião, como tu muito bem fizeste e aqui a explicitaste. Ou seja, não pretendi passar a ideia que todo o post não era para ser levado a sério.
Os meus posts servem, ou eu pretendo que sirvam, para os leitores (tal como tu) poderem responder e darem as suas opiniões. Servem para discordar comigo. Servem para dizer se gostaram de um vinho ou porque não gostaram de um outro. Os meus posts servem para escrever o que me apetece. Servem para colocar em causa determinadas ideias aceites. Servem para discutir o que geralmente não se discute. Os meus posts são pretensiosos porque pretendem ser tudo aquilo que escrevi atrás.
Como é óbvio, se os meus posts deixarem de ter leitores também eu me torno autista. Como tenho consciência disso, rapidamente me retiro.
Um abraço,
RC
p.s. (1) A referência que fiz no PS, às vendas da Ad. Coop. de Borba, pretendeu gozar com o facto de eu próprio ter comprado umas quantas garrafas quando de outra maneira não o faria.
p.s. (2) Um esclarecimento em relação à nossa escala de pontuação de vinhos. É uma escala de gosto absoluto e não relativizada face ao preço do vinho. Para nós, o desapontamento apenas é maior se não gostarmos de um vinho caro porque o pagámos. Devia ser indiferente o facto do vinho custar 5 ou 50 euros, no entanto, assumo que subconscientemente este aspecto (tal como muitos outros) podem influenciar fortemente a nossa apreciação. Mas isso é assumido já que provamos todos os vinhos de rótulos à vista.
Rui,
Fui reler "com redobrada atenção" a descrição dos vários blogs. E mantenho que a dita descrição difere muito. O facto de se mencionar, aqui e ali, um toque vejetal é muito diferente (para mim), de referenciar um verde incomodativo e notas animais.
Em qualquer caso, só estava a chamar a atenção para essa divergência. Nada mais.
Como imaginas, eu próprio constato que muitas das coisas que eu escrevo não são coincidentes com as dos outros.
abraço,
N.
Nuno,
tens razão. As coisas não querem dizer o mesmo. O que quis dizer foi que em relação à descrição de prova deles ainda se conseguia ir buscar aquelas referências ao vegetal para ligar às minhas notas verdes. O “redobrada atenção” foi para tentar dizer isto mesmo: ou seja, com boa vontade e alguma interpretação mais lata conseguia-se fazer aqui uma ponte. Às vezes, o mesmo cheiro para uns pode ser caviar e para outros sardinhas em lata.:)
No entanto, como referi, apenas na questão do corpo (médio) e a cor (média), estivemos de acordo. A latitude do meio-termo dá para acertar quase sempre.:)
Um abraço,
RC
A Coop de Borba felizmente não precisa de ajudas nas notas, nem nunca precisou, para conseguir vender os seus vinhos.
Basta conhecer um pouco da realidade vinícola da Coop para conhecer os resultados, que falam por si... agora não implica que uns quantos sabichões não fiquem doidos com uma nota um quanto ou tanto absurda lançada por um especialista, basta ver a loucura que se gerou à volta de um vinho.
Carneiradas não obrigado.
João,
Não quis insinuar que isto é um cambalacho entre a Adega Coop. Borba e a Blue Wine para promover o vinho em questão. Como já referi, a referência que fiz no post até foi em jeito de brincadeira pois se não fosse esta corrida à contra-análise não tinha comprado o vinho (no teu caso, dir-me-ás se era um vinho que estavas a prever comprar num futuro próximo ou não?).
Aliás, penso até, que este tipo de nota, para vinhos que não têm “substrato” para aguentar o “hype” gerado, é contraproducente. É sempre mais marcante a desilusão do que a surpresa. Não quero com isto dar a entender que, no caso de se perceber que o vinho não tem pretensões a atingir determinada nota, se deva ajustar a nota às expectativas do produtor/mercado. Se determinado crítico acha, em consciência, que determinada nota é a que melhor representa determinado vinho, então que seja. Isto é, não acredito, neste caso particular, em cambalachos de qq espécie, pois seria imprudente fazer “bluff” com jogadores que vão sempre a jogo.
Um abraço,
RC
Por norma em minha casa e com a Coop de Borba tão perto, quase todos os vinhos acabam por passar mais cedo ou mais tarde na minha mesa... independentemente das notas que apareçam nos guias ou nas revistas.
Cada provador dá a nota que muito bem entende ao vinho, mas a partir do principio que o Cinquentenário aparece na BW com 14,5 e este Montes Claros Reserva 2004 com 18, está tudo dito...
Para quem não conhece os vinhos da Cooperativa admito que seja um assombro, um 18, e vai tudo correr a comprar.
Ou não é de estranhar que se fosse um vinho de topo, não tivesse sido descoberto antes ?
Caros
Todos nós, que escrevemos nos blogs, somos de certa forma (passe o pretensiosismo) "opinion makers". O que nos diferencia sobretudo dos comentadores que falam na rádio e na tv e escrevem nos jornais é que a nós ninguém nos paga paradarmos a nossa opinião e não chegamos a milhões de espectadores/ouvintes/leitores como eles chegam. Aliás, o facto de ter começado a escrever num blog, do qual depois viria a resultar um 2º blog sobre vinhos, deveu-se precisamente ao facto de não dispor duma tribuna pública onde pudesse dar a minha opinião sobre o que me apetecesse. Ao fazê-lo, todos nós estamos a passar a nossa mensagem para os que nos lêem. Inevitavelmente, o que escrevemos não se destina exclusivamente a nós próprios, pois para isso bastava escrever num diário.
No caso vertente, há dias o Pingos escrevia sobre o preconceito. Claro que ele existe, nos vinhos também. Esta discussão é disso exemplo. Ao correr a comprar o vinho em causa devido à nota duma revista, toda a gente está com um preconceito resultante da expectativa criada. Ou para cima ou para baixo, mas uma apreciação não é inócua, não é neutra. Só que ninguém é obrigado a gostar do que outros gostam. Não vejo onde é que está o problema de valorar de modo diferente o lado vegetal do vinho. Pode ser apenas uma questão de gosto, e daí? Se eu não gostar de pimentos verdes, porque é que hei-de achar bom um vinho em que esse aroma seja predominante? Porque é que hei-de ter que gostar de caviar ou lagosta, só porque é caro?
No fim de contas, o que estes blogs nos permitem é ir aprendendo um pouco uns com os outros e enriquecer os nossos conhecimentos na matéria com a troca de opiniões. Depois, tal como aqueles que nos lêem devem fazer (e foi esse claramente o sentido do "PS" no post), cabe a cada um de nós ir fazendo o seu próprio juízo daquilo que leu e daquilo que provou. Concordando ou não com o que os outros acharam e com o que as revistas escreveram. Se virem o que eu tenho escrito sobre os Chardonnay portugueses percebem onde quero chegar: ninguém me pode fazer gostar dos Chardonnay portugueses se eu os acho pesados, gordurosos e enjoativos. O mal é meu? Talvez seja, mas não é por isso que passo a gostar de tais vinhos, simplesmente porque... não me calham bem no paladar. E contra isto, venham os blogs todos mais a Revista de Vinhos e a Blue Wine dizer que são muito bons, só que eu vou continuar a não gostar. E daqui não podemos fugir. É como não gostar de borrego, de peixe ou de arroz doce, sem tirar nem pôr. Há quem faça excursões para comer lampreia, e a mim dá-me vómitos.
Caro Kroniketas,
assino por baixo (sem tirar nem por).
Um abraço,
RC
p.s. Tb já tinha lido o post do Pingus sobre a questão dos preconceitos. Também assino por baixo. Aliás, eu não tenho UNS preconceitos, tenho MUITOS preconceitos. E não acredito em "chapéus" milagrosos da imparcialidade que, quando colocados, retiram qq espécie de preconceito aquando da prova. Pelo contrário: acredito, simpatizo, respeito, quem assume a partida os seus gostos, dificuldades, tendências, mais valias e preconceitos. Demonstra uma pessoa que se conhece, que não tem complexos de inferioridade, que é honesta consigo e com os outros. E isso, para mim, isso é o mais importante.
É claro. No fundo, é a chamda "delcaração de interesses". Ninguém é imparcial, porque tem sempre preferências que condicionam as suas opiniões. O que importa, depois, é que sejam devidamente fundamentadas.
"declaração de interesses". Ninguém é imparcial!
Esta é uma afirmação muito importante! É sinal de crescimento, de maturidade.
Sempre me irritou ouvir dizer que "A é mais parcial, honesto que B".
Todo o ser é influênciado por inúmeros factores, inúmeros.
Quem os assume?
Abraços para todos
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