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segunda-feira, julho 23, 2007

Consumo de vinho, tendências mundiais

Confesso que uma das razões que ainda me faz comprar a Blue Wine são os artigos de opinião de alguns especialistas mundiais, muito em particular os artigos da Jancis Robinson.

Na edição nº 12 da revista (a do aniversário) Jancis Robinson escreve um artigo que me deixou fascinado, na medida em que me mostrou uma realidade que desconhecia. O vinho branco é o líder incontestado de vendas nos grandes mercados mundiais do consumo de vinho. Nos EUA apenas 4 em cada 10 garrafas de vinho vendidas são tintas, em Inglaterra o consumo de branco ultrapassa em larga escala o de tinto e no país Shyraz, a Austrália, também consome mais branco do que tinto.

Não fazia a mínima ideia desta realidade, e isto só vem mesmo mostrar o quão fechado tenho estado na realidade portuguesa, em que ainda se ouve a frase "vinho é tinto".

Poderíamos aqui levantar a questão de que o aquecimento global leva a que enfrentemos cada vez mais tempo de temperaturas amenas e elevadas, e que isso só por si afasta alguns consumidores dos tintos pesados e encorpados. Pode ser um factor, mas eu acredito mais num outro factor que não se reflecte tanto em Portugal, o facto de nos grande países de consumo de vinho, esse mesmo consumo ocorre muitas (se não a maioria) das vezes fora de refeições e num ambiente de convívio e de descontracção, o que leva na minha opinião, ao consumo de vinhos mais leves e frescos, algo que em Portugal é substituído por uma cerveja ou por um Gin Tónico.

Embora seja redutor (menosprezante, e até injusto) associar o vinho branco (e eventualmente o Rosé) ao consumo exclusivo em ambientes de socialização, não posso deixar de pensar que esse seja um factor importante para estes valores de consumo neste tipo de países.

A minha perspectiva para a realidade nacional é um pouco diferente, à semelhança da Alemanha com o seu Riesling, nós temos nos Vinhos Verdes Brancos um tipo de vinho que se apresenta com uma forte presença no mercado. As suas vendas serão significativas e para isso muito deverá contribuir a nossa implantação atlântica que tantas refeições de peixe e marisco nos proporciona e que nos afasta nessas alturas do consumo de vinhos tintos, naturalmente mais pesados, e tendencialmente ainda mais alcoólicos. Por exemplo, relativamente aos restantes elementos do blog, serei o maior consumidor de vinhos brancos e rosés, muito em virtude de viver bem perto do mar e com fins-de-semana normalmente contemplados com belas refeições de peixe da zona, no entanto, fui verificar a minha garrafeira e, com excepção de 4 garrafas de rosé que comprei recentemente apenas lá tenho vinho tinto...

14 comentário(s):

Anónimo disse...

Curioso...lembrei-me dessas contas quando vi o artigo da Janis Robinson.
Na altura, e se não me falha a memória, constatei que tinha cerca de 25% de vinho branco...
Tendo em conta que muitos dos tintos estão lá para serem esquecidos por uns anos, parece-me que eu tambem, e pelo menos nestas alturas, bebo mais branco que tinto...
Em relação aos Róses acaba por ser um caso diferente pois a docura da maior parte deles não me permite beber mais que meio copo...

Abraços

João de Carvalho disse...

Relembro que não faz muitos anos, no Alentejo o que mais se bebia era vinho branco... basta relembrar que por exemplo a Vidigueira sempre teve fama nos seus brancos de Antão Vaz. Na tasca o vinho branco era sempre o primeiro a esgotar...

Depois alguém inventou que o tinto é que era bom e o branco fazia mal... toca a arrancar vinha de branco e meter vinha de tinto (hoje muitos já se mordem por não ter branco).

Não vejo que a questão de morar perto do mar obrigue ou leve a consumir mais vinho branco ou mais vinho rosé. Tudo se limita a gosto pessoal e gosto por beber vinho branco ou rosé.

Eu na garrafeira no Alentejo tenho umas 50 garrafas de vinho branco e umas 12 de rosé. Aqui em Lisboa tenho 10 de branco 4 de rosé e 30 de tinto.

teste disse...

Caro João Quintela,

felizmente, e tal como refere o Luís Lopes no seu editorial da Revista de Vinhos, já começam a aparecer alguns Rosés mais secos que já começam a pedir ser bebidos.

Com este post acabei por passar vergonha, até o Rui que não gosta e evita beber brancos tem mais brancos em casa do que eu.

Abraços,
RR

teste disse...

Caro João Pedro,

Não digo que o morar mais perto do mar me faz automaticamente consumir mais vinhos não tintos. O que acontece é que com a proximidade, já começam a ser raros os fins de semana que não há visita à Ericeira para comer um peixinho fresquinho no César.

rui disse...

Ricardo,

não te sintas envergonhado pois o facto de ter, há meses, três garrafas de branco no frigorífico é sinal de que os amigos que vão lá a casa são Portugueses. Porque se fossem Americanos, Ingleses ou Australianos, a fazer fé nas estatísticas, já não tinha nenhuma. :)

Falando a sério, mais do que contar garrafas lá em casa, o interessante é perceber o porquê da superioridade do branco a nível mundial. Vou enumerar uma lista de ideias que podem lançar a discussão (tenham em vista que estou a falar de um modo geral e a caracterizar a esmagadora maioria dos vinhos brancos que contribuem para o indicador em causa. Existem brancos que saem do padrão em baixo descrito mas que não chegam porventura a 1% dos brancos que são vendidos):
- O vinho branco é mais barato
- O vinho branco é mais fácil de produzir
- O vinho branco é mais fácil de beber. Não há problema de taninos nem de álcool.
- O vinho branco é mais imediato e mais fácil de compreender. As frutinhas são mais fáceis de identificar.
- É mais difícil encontrar um vinho mau e logo existe maior grau de certeza na compra
- É mais fácil de gerir a temperatura (é só colocar no frigorifico). É consensual que se deve beber fresco enquanto no tinto existe discordância da temperatura de serviço e é mais difícil arranjar maneira de servir à temperatura correcta. O facto de ser fresco ajuda a beber em vinho a copo. Nesses países é uma modalidade bastante apreciada.
- Não precisa de decantação e tempo de evolução no copo. Haja paciência!
- Não existe essa “dificuldade” ou “artificialidade criada” de ter que guardar vinho uns anos para melhorar. Diz que “agora que saiu para o mercado não está bom para beber!” Em países mais “imediatistas” e objectivos como os referidos, este conceito é incompreensível. Sai da prateleira e siga para o copo.
- Não mancha os lábios e os dentes de violeta/roxo. Para povos preocupados com a imagem este característica é importante (nomeadamente para as senhoras).
- Acompanha pratos mais leves. Neste países, não sendo tradicionais produtores, o consumo de vinho está associado a estratos económico-sociais mais elevados onde as preocupações alimentares são maiores. Os enfartas brutos de pork-ribs, e afins, normalmente bebem cerveja e não tinto. Já nos países produtores isso não se passa.
- Na Austrália faz calor como o caraças, o que é bom para fazer tinto mas não para beber.
- Os Ingleses nunca gostaram muito dos Franceses e portanto custa-lhes beber o vinho tinto deles (sim eu sei que tb têm branco). Toca de importar vinho dos amigos Americanos (lá os chardonnays deles).
- Por tudo isto e porque os Estados Unidos fazem uma Europa em número de pessoas é normal que os brancos (lá os chardonnays deles) dominem.

Eu como sou contra-corrente, raramente bebo branco. :)

Um abraço,
RC

João de Carvalho disse...

O vinho branco é mais fácil de produzir ??

Vê lá não seja ao contrário :)

É mais difícil encontrar um vinho mau e logo existe maior grau de certeza na compra.

O pior é quando apanhas muitos vinhos maus e pensas que são bons.

rui disse...

Caro João,

estou a falar do vinho branco corrente (tive o cuidado de referir isso mesmo no início do comentário). Haverá vinho branco que terá todos os cuidados, as melhores barricas, bâtonnage e tal, mas esse é uma gota no oceano. Uma migalha nos números anunciados e aqui discutidos. Aliás, se, em média, um branco fosse mais difícil de produzir que um tinto, também em média, era mais caro que um tinto. Todas as coisas produzidas em massa têm invariavelmente essa tendência: dificuldade produção implica maior preço e vice-versa.

Quando refiro um vinho mau é um vinho difícil de beber ou estragado. Ora um vinho branco barato e simples (com os seus citrinos e ananás) é bebido fresco (mais fácil de esconder eventuais "dificuldades" ou defeitos) e geralmente é bebido no ano seguinte à produção (logo não tem tempo de passar demasiado tempo na garrafa e ganhar aromas oxidados ou evoluir de forma errada). Daí a maior certeza na compra. Se as pessoas não percebem que são maus, isso já é outra conversa.

Um abraço,
RC

João de Carvalho disse...

«Aliás, se, em média, um branco fosse mais difícil de produzir que um tinto, também em média, era mais caro que um tinto.»

Comigo os «se» não são válidos, trabalho com ciências exactas e como tal ou é ou não é.
Um branco requer mais meios, mais tecnologia e mais cuidados para fazer do que um vinho tinto... nem preciso de ir buscar os brancos em madeira, basta um branco em inox, ora por isto mesmo volto a afirmar que o vinho branco é mais difícil de fazer que o vinho tinto.


«Todas as coisas produzidas em massa têm invariavelmente essa tendência: dificuldade produção implica maior preço e vice-versa.»

Se um vinho branco requer mais cuidado, é mais difícil que fazer que um vinho tinto. Então como é que explicam que o branco seja mais barato ? Ou como explicam que o preço da uva Antão Vaz seja mais alto que por exemplo o da Castelão e o resultado final seja fruto de mais trabalho e no fim é mais barato ?

rui disse...

Caro, Joaão,

“Se um vinho branco requer mais cuidado, é mais difícil que fazer que um vinho tinto. Então como é que explicam que o branco seja mais barato ? Ou como explicam que o preço da uva Antão Vaz seja mais alto que por exemplo o da Castelão e o resultado final seja fruto de mais trabalho e no fim é mais barato ?”

Boas perguntas, pena é que assentem num pressuposto não científico, pois este começa logo por azar com “Se …” .

Deixemo-nos de fait-divers e, assumindo que o teu pressuposto está correcto, voltemos às perguntas que são boas, pertinentes e contradizentes com a premissa que lhes deu origem. E essas é que são boas!

Ora se assumirmos tb a minha afirmação anterior como lógica - dificuldade produção implica maior preço – então temos que encontrar explicações para o preço (em média) mais baixo do brancos em relação aos tintos (nisso, acho que estamos de acordo)? A razão de tal facto não está na cadeia de valor do processo de fabrico mas sim numa decisão voluntária dos produtores. E isso a ser verdade, implica que nos andam a enganar com os tintos. Não valem o preço e andam subsidiar os brancos com as vendas do tinto.

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

Caros Amigos estão a esquecer uma coisa que é fundamental. O vinho branco implica um tempo de guarda muito inferior ao tinto. Isto significa que chega ao mercado mais cedo. Logo o dinheiro tb chega mais cedo ao produtor. O empate de capital que se traduz no espaço para guarda é menor. Por isso apesar de efectivamente o vinho branco ser mais dificil de fazer do que o tinto ele é mais barato. No entanto há um "SE" e ele é que é mais fácil produzir uvas brancas de qualidade do que uvas tintas. AJS

rui disse...

Caro AJS,

Obrigado por nos lembrares do custo de oportunidade associado à guarda/armazenagem do vinho. Vai de encontro com o aquilo que referi de que geralmente o vinho branco é para beber durante o ano a seguir à vindima. Porventura foi impreciso ao dizer que o vinho branco é mais fácil de produzir. Deveria ter dito “o vinho branco é mais barato de produzir pois é de mais rápido retorno financeiro e causador de menos chatices logísticas para o produtor, apesar de tecnicamente ser mais difícil de produzir que um tinto”. :)

A questão de se conseguir com maior facilidade produzir melhores uvas de branco que de tinto vai de encontro à ideia que tenho que em média os vinhos baratos de branco conseguem ser melhores que os vinhos baratos tintos. Daí tb a maior certeza na compra ... e se calhar tb a maior facilidade de produzir branco ou não? A produção de vinho não começa na vinha? Se é mais fácil produzir uva branca ... hum se calhar, hum! Não, isto sou eu a esmifrar o argumento para tentar ter razão. ;)

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

Quando refiro ser mais "facil" produzir uva branca tem a ver tambem com o custo, uma vez que regra geral a videira branca pode aguentar mais carga de uvas, já que se pretende um vinho sem a concentração do tinto. No entanto com a nova tendência de vinhos brancos concentrados e com maior volume de alcool já estou a dizer uma grande asneira. De qualquer maneira estamos a falar em vinhos que são produzidos em grandes quantidades. Se formos falar de vinhos de alta qualidade, brancos, já temos preços que começam a ser semelhantes aos tintos. Talvez porque os custos estejam a apróximar-se dos tintos. No entanto, pelo menos no Douro onde o espaço é reduzido, o tempo de guarda é fundamental.

João de Carvalho disse...

Já um bom amigo me dizia que não era com o branco que ganhava dinheiro, tinha de vender muito vinho branco para ganhar dinheiro nos dias de hoje, e não falamos de topo de gama atenção.
Antigamente era com o branco que muita gente se governava no Alentejo, quem diria isso nos tempos que correm.

O caso que aqui se discute tem muito que ver com o dizer que o vinho branco é mau e fazia mal à saúde. Essa tal campanha que foi feita, onde até os médicos diziam que beba tinto que faz bem... levou a que o branco pura e simplesmente fosse colocado de lado, quase um sub-produto... branco não é vinho dizia-se.
A luta foi intensa e primeiro que o consumidor fosse abrir os olhos para o que chamamos hoje da Moda do Branco... a qualidade aumentou muito e já temos brancos de grande nível. Foram videiras arrancadas, foram vinhas mudadas, etc... hoje em dia a coisa mudou de ritmo, querem plantar branco.

Falo no Alentejo com alguns produtores que lamentam não terem plantado vinha para branco... o preço da Antão Vaz é de loucos e talvez uma das uvas mais caras no mercado por alturas das vindimas.

Mesmo assim temos vindo a subir o preço dos brancos de qualidade, hoje já facilmente se compra branco a 5 e 10€ quando antes era impensável.

O vinho em si até pode ter uma qualidade superior à do irmão tinto da mesma gama, mas um produtor nunca vai colocar o branco mais caro que o tinto... mesmo que sejam ambos de inox... e porquê ?

Anónimo disse...

O amigo Rui traz bem estudada a lição sobre os brancos, e o amigo AJS complementou ainda melhor. Pois eu vos digo que na minha singela garrafeira de 16 lugares nem existem brancos, só tintos. Isto porque a "minha" garrafeira de brancos está nas prateleiras dos hipers, e dos supermercados e garrafeiras, pois com tantas marcas e tipos de brancos a sairem anualmente, não esquecendo os verdes, não fazia sentido ter na minha pequena casa um espaço para ter brancos. Já para ter tintos é o que é, fará ainda mais os brancos. Mas sou pelos Brancos, principalmente nesta altura do ano, e cada vez mais. será que estou a ficar Anglo-saxónico? Isso assusta-me!!!
Abraços.

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