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terça-feira, setembro 18, 2007

Marketing de Vinhos: Entre graça e engraçado

Dizia-me há dias o dono de uma pequena garrafeira (Entrecampus) ao almoço: “Hoje em dia os produtores têm que trabalhar bastante para nos ajudar a vender os seus vinhos.”

O Sr. António Pais, explicou-me que vários produtores tentam que a garrafeira (que faz 90% do seu negócio directamente com restaurantes) lhes fique com os seu vinhos para distribuição. Argumentava ele que, hoje em dia, com tantas marcas novas no mercado, não ganha nada em trocar uma marca que já está implantada por uma marca que ainda não provou o seu valor. Ou seja, resume-se tudo a uma questão de espaço. No conservador mercado da restauração portuguesa para entrarem novas marcas é preciso retirar outras.

Concordei eu com as suas observações pois não só me pareceram lógicas como assentes em experiência real. E acrescentei: “Tal como no futebol, existem jogadores que vendem tão bem a sua imagem que se tornam, perante os adeptos e a comunicação social, melhores jogadores do que o verdadeiro rendimento demonstra.”

Entre críticas de ambos a um jogador que, a nós particularmente (olha que coincidência!), nos põe os cabelos em franja (o Nuno Gomes do Benfica), lembrei-me de referir, a titulo de exemplo de produtores que conseguem vender bem a sua imagem perante consumidores e critica especializada, um homem que tem sido “abençoado/amaldiçoado” com o toque de Midas: Dirk Niepoort . Ultimamente tudo que toca transforma-se em ouro.


Escrever neste post sobre o Dirk Niepoort tem que ser feito com luvas de pelica. O Dirk tem sabido granjear ao longo do tempo uma unanimidade de opinião (muito positiva) entre enófilos e críticos de vinhos. Entre as várias razões, destaco a inquestionável qualidade da maioria dos seu vinhos e a projecção de uma certa imagem de “enfant-terrible” do mundo do vinho português. A lógica de contra-ciclo com as modas, o empreendedorismo constante e o discurso assente no “fazer à minha maneira contra a opinião da generalidade” ajuda a vender a ideia do pequenino no meio de gigantes, do alternativo face ao comercial , do “nosso” invés do “de toda a gente”. Quem é que dos leitores é um apaixonado, por exemplo, de cinema ou de música? Aposto que nos realizadores e músicos preferidos se encontram os considerados mais alternativos, ou de “culto”, ou de difícil conhecimento geral. É normal. Dá-nos satisfação pertencer ao grupo restrito que conhece determinado autor ou que gosta daquele músico em particular, invés de pertencer à maioria descaracterizada e inócua de opinião.

Na minha paixão pelo vinho não fujo à regra (e na música, outra grande paixão, também não). Não conheço pessoalmente o Dirk Niepoort mas ainda assim simpatizo com ele e gosto da maioria dos seus vinhos. E de alguns, gosto mesmo muito. Os Batuta’s de 2003 e 2004 foram dos pouco vinhos aos quais atribui 5 rolhas. No entanto, não posso deixar de lhe fazer alguns comentários mais críticos.

Com o lançamento do Diálogo já não se pode dizer que a Niepoort é o David no meio do Golias. O vinho vendeu muito e bem. Uma noticia bem colocada no Público (penso que foi nesse jornal), levou a que gente “anónima” (fora do meio enófilo) fosse bater, por exemplo, à porta da garrafeira, referida no início do post, à procura do vinho. O Sr. Pais disse-me que nem se teve que esforçar para vender às caixas. A Niepoort deixou de ser “nossa” para ser de “toda a gente”. :)

Mais recentemente, saiu para o mercado uma nova ideia do Dirk Niepoort. Ou melhor, duas novas ideias. Sombra e Luz. O primeiro tinto e o segundo branco. “Luz” é também o nome do novo álbum do Pedro Abrunhosa (o qual empresta o seu nome para figurar nos rótulos das respectivas garrafas). Calafrios! Confesso que o nome deste artista me provoca arrepios na espinha. Se hoje é admirado por uma suposta elite cultural e musical, é preciso não esquecer que o homem lançou-se para o sucesso com uma música denominada “Não posso mais”.

Para lá do gosto discutível dos rótulos (houve o cuidado de utilizar lâmpadas modernas economizadoras – há que ser ecologicamente correcto), a aproximação popular através do Diálogo (7/8€) com rótulos do Luís Afonso, cartoonista do jornal A Bola, e da utilização do nome do “renovado” Pedro Abrunhosa para lançar edições limitadas e relativamente caras (Luz-22/23€ e Sobra-33/34€), leva-me a recear que o produtor se preocupe mais com o “modo como vende” do que com o “produto que vende”. E isso também não é bom.

Pegando nos exemplos dados em cima do cinema e da música, quem é que não conhece realizadores e músicos altamente respeitados por cinéfilos, melómanos e críticos que ao embarcarem em projectos cinematográficos ou musicais mais “comerciais” e menos “pessoais” viram diminuir de forma drástica o seu capital inicial de respeito e admiração? Pode nunca vir a acontecer mas ao mínimo deslize perde-se a graça para passar a ser engraçado.

17 comentário(s):

Anónimo disse...

Infelizmente....tenho de concordar!!!!

Abracos
Pedro Guimaraes

Anónimo disse...

Concordo com o dito, com ou sem luvas. A propósito do Luz e Sombra já tinha dito no forum da Nova Crítica, (desculpem-me a citação própria): "Já me tinham contado, fontes necessariamente bem informadas, que o (ex)Luz era proveniente das melhores barricas do Redoma, quase um Redoma Reserva.

Há aqui outra versão, muito parecida, mas diferente no limite, de que o (ex)Luz é retirado de barricas que estariam destinadas ao Redoma Reserva (quais seriam dessas barricas?...) e o (ex)Sombra provém de barricas inicialmente destinadas ao Chame.

Os novos vinhos serão no entanto disponibilizados para o mercado com preços mais elevados que os Redoma. O Redoma branco 06 acabou por levar por tabela, sendo rateado ainda mais fortemente.

Ah, o Vertente 2005 também está disponível em muito poucas quantidades. A opção teria que ser Diálogo.

É muito rótulo!"

Se lhe for possível mudar: o cartoonista chama-se Luís e não José. Este é outra música!

rui disse...

Caro JMS,
obrigado pelo reparo. Já mudei.

Uma abraço,
RC

Luis Prata disse...

A crítica nos Blogs no seu melhor.

Excelente texto para se reflectir.

Quanto aos vinhos falta-me o termos de comparação.. Infelizmente sou de um campeonato diferente, e nunca tive o prazer de provar alguma dessas maravilhas mais caras...

João de Carvalho disse...

Vinho a Copo: Entre a graça e o engraçado.

Penso que o problema não seja do Dirk Niepoort nem da sua política ou a qualidade dos seus vinhos, mas sim do blog em questão. As questões colocadas mais parecem perguntas que se fazem quando se tem 5 anos.

Porque é que a lua é redonda, porque é que o céu é azul...

Depois da questão bastante pertinente sobre os vinhos sem prazo de validade, eis que agora o problema se coloca à volta de um produtor que segundo as palavras que por aqui li, parece que nos anda a enganar a todos. Noto também uma enorme preocupação sobre a forma como um produtor vende e não o que vende, passando a ser comercial e deixando de ser pessoal. Pobre consumidor, o que vale é que temos acérrimos defensores da causa e qualquer dia nem precisamos da DECO.

Ou seja, vem-se aqui criticar pelo simples facto de um produtor ter lançado dois vinhos associados a um lançamento de um disco. Vinhos esses que saem mais caros porque são uma edição limitada e exclusiva, porque o produtor vai perder quantidade nos outros vinhos da sua gama.

Mas parece que por estes lados iniciativas desta natureza são pouco ou nada conhecidas, quanto mais defendidas... Quando o mesmo produtor lançou um vinho associado a uma revista Espanhola de nome Matador não vi colocarem esta questão, já vi que é só quando convém.

O mesmo produtor lançou o FABELHAFT e nesse momento também não se disse nada, andava tudo a ver se apanhava o tal vinho. Este problema apenas se notou (ou tentou embirrar) com o aparecimento do vinho Diálogo. Agora que entrou no mercado Tuga com um vinho mais barato (parece que assim todos podem provar vinhos da casa Niepoort) alguns curiosos que se sentem de alguma forma tocados porque de alguma forma perderam a exclusividade que antes tinham. Já não podem dizer ao vizinho que provam vinhos da Niepoort pois ele ainda responde que comprou uma caixa de Diálogo.

Pergunto eu, não é bom um produtor ter vinhos em todos os segmentos de mercado ? Isso é ser comercial ? Ou vamos obrigar um produtor a fazer apenas topos de gama destinados apenas a alguns ?

É da minha opinião que um produtor como a casa Niepoort, deva manter a actual política de mercado. Que Dirk Niepoort continue a explorar e entrar em novos projectos. O consumidor só tem a ganhar com tudo isto, e acima de tudo ganha e muito o vinho em si.

Quanto a certas coisas que aqui vou lendo, deixo a última opinião do post em causa «...perde-se a graça para passar a ser engraçado.»

VinhoDaCasa disse...

Só uma coisa...
Sei que do Pedro Abrunhosa não gostam...
Mas, JÁ PROVARAM OS VINHOS???

rui disse...

Caro Frexou,

Já provei várias vezes o Diálogo e, há coisa de duas semanas, o Sombra. O gostar (ou não) dos vinhos é indiferente para a ideia transmitida no post. Daí não ter feito uma apreciação dos mesmos neste post.

Como referiu o Pratas, este post é para reflectir sobre a forma de vender vinhos. Utilizei o nome Niepoort porque o considerei um bom exemplo de Marketing. Não se pode retirar do que escrevi a ideia de que estou a dizer que os vinhos referidos são maus só porque considero que um produtor sabe vender os seus vinhos. Neste particular, acho que cada um interpreta de forma que quer e consegue ou está inconscientemente condicionado na sua interpretação pelo que pensa da minha pessoa. Eu até o estou a elogiar.

Um abraço,
RC

p.s. Eu não gosto do Pedro Abrunhosa. Quanto aos restantes membros do blog, não sei. Esta opinião apenas me vincula a mim. :)

NelsonP disse...

o dirk niepoort infelizmente não tem a imagem imaculada no seu percurso, recorde-se o caso do passadouro em que basicamente ele acabou regredindo a qualidade do vinho a ponto de ter sido necessaria outro projecto e outro enologo que restituisse novamente a qualidade do vinho. contudo julgo o senhor dirk talvez o maior responsavel pela melhoria da qualidade do vinho no douro a partir de 99 em que surge com batuta. quanto ao luz e sombra tenho os aqui no meu restaurante e nao creio tratar-se de um bluff embora censuro a falta de identidade propria destes vinhos, julgo serem discipulos directos da triologia redoma,charme, batuta.

com os melhores cumprimentos
Nelson Pena

Anónimo disse...

O Pedro Abrunhosa pode não cantar nada de jeito, e as músicas nem serem grande coisa. Mas está muito bem acompanhado pela sua banda, ou seja os Bandemónio. Exelente orquestração, e um exelente desempenho a nìvel instrumental. Agora quanto ao vinho, resumindo e concluindo, e polémicas à parte, é a globalização no seu melhor!

rui disse...

Caro Nelson,

Eu também não coloquei em causa ou critiquei as opções enológicas do Dirk Niepoort. Nem os vinhos referidos. Para a ideia que quis passar no post, os vinhos até podiam ser os melhores vinhos portugueses para o preço que apresentam. O Dirk Niepoort é inteligente, tem uma reputação de qualidade a manter e não me parece provável que faça “bluff” com estes novos vinhos pois são apenas meia-dúzia de garrafas. Não ganha nada com isso e tem tudo a perder. Acredito que sejam bons e que a maioria que os beber acabe por apreciar.

Vejamos antes coisa desta forma:
Há quem ache que fazer esta brincadeira com um amigo artista é inocente, sem nenhuns objectivos comerciais ou de marketing. Que é apenas mais uma iniciativa impetuosa do Dirk Niepoort.

Ora bem, suponhamos que o Dirk Niepoort era grande amigo do Toy ou do Emanuel. Acham que ele fazia uma edição limitada associada a um novo álbum do Toy ou do Emanuel?

Quem me disser: logicamente que não pois o homem não é parvo, pergunto: “Então onde é que está a amizade? A ideia deixa de ser interessante quando o grande amigo não é respeitado pelo consumidor alvo? Onde é que está a inocência?”

Quem me disser: logicamente que sim pois se amizade é grande então, é indiferente os artistas tocarem música pimba ou clássica, eu pergunto: “Teria a mesma aceitação por parte dos consumidores (quer ao nível de vendas, quer ao nível da imagem projectada da marca Niepoort)? Seria um sucesso ou um embaraço?”

Confesso que para mim, esta edição do Luz/Sombra foi como fazer um vinho com o Toy e Emanuel no rótulo. E o meu post, mais do que uma crítica, foi um aviso, um receio: podem haver mais pessoas que tenham pensado como eu e, se elas forem mais importantes (enquanto “opinion makers”), rapidamente o que hoje era excelente, amanhã passa a não ser grande coisa. Ou seja, tentei dar um alerta e relembrar que o mercado é muito passional e manipulável. Para ambos os lados!

Um abraço,
RC

p.s.(1) Bem vindo aos comentários aqui no blog.
p.s.(2) Desconheço as supostas atribulações no projecto Passadouro, e daí não ter comentado.

NelsonP disse...

caro rui,
obrigado pela atenção
sem querer jamais questionar a tematica,veracidade e objectividade inequivoca do teu topico, julgo que por vezes as questões publicitarias são apenas recursos de busca de notoriedade, puramente comercial... quando a piper heidisieck criou a garrafa jean paul gautier, tambem foi alvo de questões deontologicas, contudo a questão QUALIDADE deverá ser sempre a primeira a ser abordada, ou seja o conteúdo deverá falar por si só, se a isso se aliar uma boa imagem, as suas possibilidades de sucesso aumentam consideravelmente.
Com isto, nao discordo da tua abordagem que no fundo se baseia na ética dos recursos de publicidade ( nas outras actividades é usada de forma ainda mais ousada).

P.S eu ja ando por cá a muito... :) a ler só...
cumprimentos
Nelson Pena

VinhoDaCasa disse...

"Leva-me a recear que o produtor se preocupe mais com o “modo como vende” do que com o “produto que vende”."

Passados estes dias todos ainda não percebi esta frase...
Com que base é que afirmas isto?

Se há alguém que se preocupe com o produto que vende são as casas de excelência do panorama vínico nacional. E sabes bem que no Douro fazer vinho é difícil, portanto convém que eles andem preocupados com o produto...


Outra coisa, depois de falar com o Luis Seabra:

O Redoma e o Redoma Reserva são feitos de igual forma, apenas há uma selecção natural para o Reserva. Ou seja, o enólogo sabe que há algumas parcelas das várias vinhas que são melhores para o Reserva. Curiosamente são sempre as mesmas, portanto não houve aqui nenhum selecção de barricas. A escolha é feita na vindima.

rui disse...

Caro Frexou,

penso que me expliquei no último comentário que fiz.

Não considerei esta a melhor maneira de vender um vinho. Não teci qualquer comentário sobre a qualidade do mesmo.E referi que é um medo meu (logo, baseio-me no que sinto, claro) que ao enveredar por este caminho a Niepoort descure a qualidade (que tem sido quase sempre alta). Todos conhecemos marcas em que tal aconteceu e eu sinceramente não gostava que acontecesse com a Niepoort, pois como também referi, gosto bastante da maioria dos seus vinhos.

Um abraço,
RC

p.s. Pegando no exemplo dado pelo Nelson Pena (flashhhmoments), quem é que ao ver a garrafa de champagne desenhada pelo Jean Paul Gautier não faz logo à partida um juízo de valor em relação ao conteúdo do mesmo. Aposto que a maioria dos enófilos, apreciadores de espumante, ainda sem beber e já estão a dizer que aquilo deve ser uma zurrapa a imitar champagne. E a maioria dos críticos invés de avaliarem o conteúdo tb devem passar as 3 linhas que dura a descrição de prova a referir o engraçado da coisa.

No fundo o que eu disse foi: se não quiser "apanhar", não se ponha a jeito.

Anónimo disse...

errr... era só para dizer que eu não gosto do charme!!!

e a mim parece-me que se aquilo for provado em prova cega á seria teremos muitas supresas.

VinhoDaCasa disse...

"errr... era só para dizer que eu não gosto do charme!!!

e a mim parece-me que se aquilo for provado em prova cega á seria teremos muitas supresas."

No Lo Creo

Ainda há uns tempos, numa prova cega em que só se provou grandes e bem caros tintos da Borgonha ( cerca de 30 ), o Charme 2004 foi metido lá no meio e ficou em terceiro lugar.

Não estou a defender ninguém, mas parece-me que o nariz do Charme e a persitência de boca não me parece que passe ao lado de algum entendido na matéria. Aliás, por todo o mundo, o vinho é sempre bem pontuado. Inclusivé em provas cegas. Até no Elmundovino... :D

João de Carvalho disse...

"errr... era só para dizer que eu não gosto do charme!!!


Ainda bem, mais sobra.

Pumadas disse...

Viva,

Realmente a sugestão do rótulo pode levar em que algumas vezes se possam cometer excessos, no entanto e desde que o provador seja isento, uma prova "às claras" pode até prejudicar determinados vinhos, aqueles que mais fogem do eixo.
No caso do Charme, acho realmente difícil não se gostar e não se considerar um vinho do melhor que se tem feito pelo nosso país. As surpresas às cegas não são assim muitas visto onde quer que ele seja provado, fica sempre nos topos.
Quanto à questão do marketing, sempre disse e repito. O Dirk é provavelmente o melhor "vendedor" de ideias e vinhos em Portugal. Mas uma coisa é certa...se os vinhos dele não fossem bons, não havia técnica que lhe valesse.
Caro Paulo, se tiver ai algumas grfs de charme que não queira, eu não me importo de ficar com elas :)

Cumps

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