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quarta-feira, setembro 05, 2007

Rosés e Vinhos Sem Prazo de Validade

Eu tinha uma frase espectacular e original para começar este post sobre rosés. Uma afirmação daquelas fortes a marcar o mote para o resto do post. E digo tinha porque, como referi no post anterior, o Luís Ramos Lopes adiantou-se e utilizou-a no editorial da Revista de Vinhos de Junho. Perdida a originalidade, e parte da espectacularidade, resta-me o consolo da adaptação: “Gosto de rosés que me agradam!”

Tenho um grande amigo que, desde que o conheço, utiliza a frase “Só gosto do que me agrada!”. Sempre nos rimos desta expressão e passou a ser utilizada nas várias situações em que a explicação para o gosto não é evidente ou nem a queremos discutir. Ou seja, apesar de inicialmente estapafúrdia de sentido, hoje acredito que esta mesma frase encerra em si uma simplicidade e uma objectividade arrebatadoramente primária e óbvia: se me agrada então gosto, se não me agrada então não gosto.

É assim que analiso os rosés. Não tenho meias classificações para avaliá-los, nem tenho descritivos “subjectivos” para utilizar nas notas de prova. Bebo, dou uma golada valente e solto: “agrada-me!” e volto a encher o copo, ou, “não me agrada!” e mando vir outro. Simples e libertador.


Nestes tempos de canícula, não raras vezes a minha opção tem passado pelo rosé ao invés do branco, que não me agrada (acredito que haja quem não perceba), ou do tinto, que não se consegue beber à temperatura correcta em quase lado nenhum. Ora neste meu “devaneio” tenho bebido de tudo: Qt. Carqueijal [Seara d’Ordens] (o que mais tenho gostado e custa menos de 3€), Mateus rosa e Mateus já alaranjado/salmão, Damasceno, Qt. Cabriz, Vallado, Castelo d’Alba, Paço do Teixeiró, Fiúza Cab. Sauvignon, Monte da Peceguina, Fagote, Vinha da Defesa, Monte da Ravasqueira, etc.

Esta lista de vinhos não tem ano de colheita. E porquê? Porque na maioria dos casos não me interessou reter na memória. Já tinha decidido antes que não classificava vinhos rosés aqui no blog. No entanto, percebi que os vinhos estavam em estados de evolução diferentes. Ou seja, o facto de uns serem de 2006 e outros de 2005 reflectiu-se de forma evidente na cor e na própria vivacidade do vinho na boca. O caso do Mateus e do Paço do Teixeiró ainda é mais caricato. Mesmo que vos quisesse dizer qual a minha opinião sobre os vinhos, para algum dos leitores a tomar como input numa eventual tomada de decisão, não seria em consciência válida. Os vinhos não têm data de colheita, logo não é possível identificar aquela edição numa prateleira de supermercado ou num restaurante.


O vinho deve ser o único bem alimentar (estou a considerá-lo como tal e aos destilados não) que não tem data de validade. Assim de repente não me lembro de mais nenhum. Devia ter? Os adeptos da evolução dos vinhos dizem logo que não. Eu diria “nim”. Se a pergunta em referendo fosse: “Concorda que certo tipo de vinhos deva ter prazo de validade (de modo a ser retirado das prateleiras de supermercado e das quentes dispensas dos restaurantes)?” Então eu responderia convictamente que sim. Os rosés, alguns brancos e mesmo alguns tintos deveriam ter prazo de validade no rótulo. No caso dos vinhos de mesa o facto de ainda não ser obrigatório por lei é para mim incompreensível e inexplicável. Estes não só não tem data de validade como ninguém sabe quando é que foram produzidos.

É por estas e por outras que eu referi que já bebi o Mateus Rosa e o Mateus Laranja-Salmonado. E ambos no mesmo restaurante. A RV no painel de prova de vinhos rosés (na edição referida no início) teima em classificar vinhos sem data de colheita. Na minha opinião não o devia fazer. Como é que os seus leitores vão identificar esses vinhos? Acredito que as amostra enviadas pelos produtores sejam de uma edição recente mas quem garante aos leitores que não estão a comprar ou a beber uma edição antiga? Ou mais recente? O Mateus, por exemplo, sai para o mercado à medida das necessidades. O vinho é mistura de vinhos da UE e até de vários anos de colheita. Mesmo a Coca-Cola não sai sempre igual. Quem garante que não houve uma edição que “saiu” particularmente bem e foi enviada como amostra para os painéis de prova das revistas mas que depois é difícil apanhar essa mesma edição no mercado? As revistas da especialidade ao apregoarem rigor e máxima preocupação com o leitor (consumidor) não deveriam pactuar com esta situação. Eu nunca o farei.

p.s. Bem sei que tinha criado a expectativa de que os post iam entrar num ritmo de maior produção a partir do anterior mas, como constataram, não foi verdade. Confesso que tem-se juntado a pouca fome com a residual vontade de comer. Ou seja, tenho tido pouco tempo e ainda menos vontade de escrever. A ver se melhora!

19 comentário(s):

João de Carvalho disse...

Vinhos com prazo de validade ? haha

Já agora como é que metem a data limite ? Metam no fundo da garrafa, assim um tipo quando for ver baldeia aquilo tudo, qual depósito qual que...

Enfim, eu considero isto um princípio básico, tudo o que é produto dito orgânico tem sempre prazo de validade, senão era o caminho para a imortalidade. Um chá tem prazo de validade, a farinha, o azeite, massa, arroz, enlatados, carne fumada, gelatina...
Mas em tudo temos sempre um mas... afinal nem tudo o que se come tem prazo de validade ou é de origem orgânica, por isso mesmo o SAL não tem prazo de validade, nem era preciso pensar muito.

Se o vinho não tem prazo de validade e está certificado como produto de qualidade, basta apenas investigar um bocado e a resposta estava dada.

Quanto às restantes divagações já é tudo tão rebuscado e mais que falado que nem vale a pena responder.

rui disse...

Caro João Pedro,

Eu estive vai não vai para te responder. No entanto, como acho que um blog, muitas vezes, tb se faz de picardias, cá vai:

A data de validade pode ser colocada onde uma pessoa quiser. Pode até ser colocada na cápsula da rolha. É verdade que uma pessoa que esteja a fazer o pino vai sempre necessitar de bandear o depósito para a conseguir ver. haha!

Eu não percebo nada de química mas fazendo uma pesquisa por SAL rapidamente coloco a seguinte questão:
- Se tiveres a falar de sal vulgar de cozinha (cloreto de sódio) então esse é sempre inorgânico. Existe a possibilidade de em química haver um sal orgânico se houver junção de, por exemplo, iodetos.

Assim sendo, já que este é controverso, e não precisas de pensar muito, dá-me mais dois ou três exemplos, sff.


Confesso que não percebi onde querias chegar com a ideia de que os produtos certificados com qualidade têm a validade facilmente explicada com uma rápida investigação (minha, e por conseguinte, dos muitos consumidores). Acho que nos exemplos que destes (chá, farinha, azeite, ...) existem várias marcas certificadas com qualidade que ainda assim têm que impreterivelmente colocar a data de validade na embalagem. Por favor, peço-te que me expliques melhor essa tua afirmação.

Quantos às divagações concordo contigo. Não me resta outra hipótese.

Um abraço,
RC

João de Carvalho disse...

Um blog faz-se de opiniões, e não de picardias.

Sobre a data de validade penso que tem normas onde deve ser colocada. Aqui não quero alargar muito mas é questão de me informar, se bem me recordo deve estar em lugar de fácil acesso ou caso contrário com a respectiva indicação do local.

Sobre Química desculpa mas não me vou alargar mais. Umas simples consultas e umas boas leituras são mais que suficiente para ficar a par do que é um Sal, como se forma, os iões, fórmulas, bicarbonatos etc

Sobre os exemplos que pedes, as listas de sais estão na internet.

O que eu queria dizer, é que o vinho como produto certificado por entidades COMPETENTES, por alguma razão não tem prazo de validade... não é por obra do divino que tal acontece. Com uma pesquisa bem feita vais ver que chegas lá.

rui disse...

Caro João Pedro,

Os exemplos pedidos eram de produtos (alimentares) que não têm prazo de validade, exceptuando o SAL em todas as suas variantes. Não fazia sentido eu estar a pedir-te uma lista de sais que não se encontram num supermercado. A expressão utilizada no post: “Assim de repente não me lembro de mais nenhum” reflecte a dificuldade de encontrar exemplos. Já tiveste dois dias para pensar e já vais em quantos exemplos para me dares?

Insisto que existem vários produtos (dos exemplos que destes) que são certificados por entidades COMPETENTES e que ainda assim têm prazo de validade. Ou achas que todas as entidades certificadoras são INCOMPETENTES excepto as ligadas ao vinho? Isto não faz sentido nenhum. Não existe relação lógica causa-efeito. Um produto não pára de se deteriorar só porque houve uma entidade definida como COMPETENTE que lhe deu um selo de aprovação. Pelo menos eu não conheço. E visto que eu não consigo fazer uma pesquisa bem feita, mais uma vez, agradeço que me expliques a razão porque não se pode colocar um prazo de validade em determinados vinhos? Fazias um favor a alguns leitores deste blog que podem ser igualmente incompetentes em pesquisas como eu.

Obrigado,
RC

Nuno disse...

Existem certamente alguns motivos que diferenciam o vinho de outros produtos orgânicos, que podem não estar sujeitos a um número de factores de transformação tão diversos, desde a rolha, ao engarrafamento, e a não menos importante condição de guarda.

Será que o vinho evolui de uma forma menos previsível que os outros produtos!? Não sei! Mas quem ainda não se deparou com produtos que estão estragados dentro da validade e outros que depois de finda a validade continuam inalterados?

Eu penso que a questão principais, para o vinho não ter prazo de validade, para além de questões históricas e outras, passam essencialmente por dois factores:

1 – É razoavelmente perceptível quando um vinho está deteriorado (dentro ou fora da validade). O próprio consumidor irá penalizar a marca, deixando de comprar esse vinho, o que fará com que a marca tenha algumas preocupações na sua distribuição. A não existência de muitos stocks nos pontos de venda atenua o problema, na medida em que permite um maior controle da produção/distribuição.


2 – O facto de o vinho ter oxidado em excesso ou azedado, não causa uma intoxicação na pessoa que o consome, logo não se torna uma questão de saúde pública.
A pessoa pode sempre argumentar que pagou muitos €€€€ por uma garrafa de vinagre, mas em principio terá sido feito de bom vinho!

Abraço,
Nuno

João de Carvalho disse...

Eu não estive dois dias a pensar caro Rui... estive dois dias a ver se desse lado aparecia algo de mais sério do que sempre os mesmos argumentos e a mesma conversa enrolada.

Encerro a minha participação deixando isto, pode ser que ajude um bocadinho. Se tiveres dúvidas manda mail para o MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS
Decreto-Lei n.o 560/99
de 18 de Dezembro 1999

Artigo 10.o
Data de durabilidade mínima
1 — A data de durabilidade mínima, a figurar na rotulagem,
deve ser indicada de forma clara, segundo a
ordem do dia, mês e ano, de acordo com os critérios
seguintes:
a) Quando a durabilidade do género alimentício
for inferior a 3 meses, é suficiente a indicação
do dia e do mês;
b) Quando a durabilidade do género alimentício
for de 3 a 18 meses, é suficiente a indicação
do mês e do ano;
c) Quando a durabilidade do género alimentício
for superior a 18 meses, é suficiente a indicação
do ano.
2 — A data de durabilidade mínima deve ser indicada
por uma das seguintes menções:
a) «Consumir de preferência antes de. . .», quando
a data indique o dia;
b) «Consumir de preferência antes do fim de. . .»,
nos restantes casos.
3 — As referências do dia, do mês e do ano podem
ser inscritas em local separado da respectiva menção,
desde que junto a esta se indique o local da embalagem
onde constam.
4 — A data de durabilidade mínima é estabelecida
pela entidade responsável pela rotulagem, devendo
observar, quando existam, os períodos de durabilidade
previstos em diploma legal.

Artigo 11.o
Dispensa da indicação da data de durabilidade mínima
A indicação da data de durabilidade mínima não é
obrigatória nos seguintes casos:
a) Frutos e produtos hortícolas em natureza, incluindo
as batatas, que não tenham sido descascados,
cortados ou objecto de outros tratamentos
similares. Esta derrogação não se aplica às sementes
germináveis e produtos similares tais como os
rebentos de leguminosas;
b) Vinhos, vinhos licorosos, vinhos espumantes,
vinhos aromatizados e dos produtos similares
obtidos a partir de frutos que não sejam uvas,
bem como das bebidas dos códigos
NC 2206 00 91, 2206 00 93 e 2206 00 99 fabricadas
a partir de uvas ou de mostos de uvas;
c) Bebidas com um teor de álcool de 10 %ou mais,
em volume;
d) Refrigerantes sem álcool, sumos de frutos, néctares
de frutos e bebidas alcoolizadas em recipientes
individuais de mais de 5 l, destinados
a ser entregues às colectividades;
e) Produtos de padaria ou de pastelaria que, pela
sua natureza, sejam normalmente consumidos
no prazo de vinte e quatro horas após o fabrico;
f) Vinagres;
g) Sal de cozinha;
h) Açúcares no estado sólido;
i) Produtos de confeitaria compostos essencialmente
de açúcares aromatizados ou coloridos;
j) Pastilhas elásticas e produtos similares para
mascar;
l) Gelados alimentares em doses individuais.
Artigo 12.o
Data limite de consumo
1 — Nos géneros alimentícios microbiologicamente
muito perecíveis e que, por essa razão, sejam susceptíveis
de, após um curto período, apresentar um perigo imediato
para a saúde humana, a data de durabilidade
mínima deve ser substituída pela data limite de consumo.
2 — A data limite de consumo deve ser precedida
da expressão «Consumir até. . .», com a indicação do
dia e do mês, e eventualmente do ano, de forma não
codificada, e segundo a ordem mencionada.
3 — As referências do dia e do mês podem ser inscritas
em local separado da respectiva menção, desde
que nesta seja feita referência expressa ao local da embalagem
onde a mesma é indicada.
4 — A data limite de consumo é estabelecida pela
entidade responsável pela rotulagem, devendo observar,
quando existam, os períodos previstos em diploma legal
ou norma portuguesa obrigatória.
5 — É proibida a comercialização dos géneros alimentícios
relativamente aos quais a data limite de consumo
se encontre ultrapassada.

teste disse...

Relativamente à questão em saudável picardia, concordo com o Nuno quando diz que o máximo que o vinho pode provocar é um amargo de boca pelo dinheiro que se pagou.
Julgo que o espírito da lei da data de validade tem a ver principalmente com a saúde pública e daí que apenas apenas os produtos que, findo o prazo, possam por em risco a saúde do consumidor tenham essa data.

Do ponto de vista da proteção ao consumidor, aí sim, concordo em absoluto com a ideia de uma data de validade, data essa que os consumidores mais experimentados já aplicam, se por acaso nos passar pela cabeça beber um Borba VQPRD (não me levem a mal pelo exemplo, é apenas o primeiro que veio à cabeça, talvez por causa daquele dia há 12 anos atrás... adiante) teremos certamente o cuidado de verificar se tem no máximo uns 2 ou 3 anos, porque sabemos que mais antigo que isso é alerta vermelho para vinagre.
Não me parece também que o argumento de que as condições de guarda sejam um obstáculo, uma vez que também temos o exemplo dos medicamentos que apenas garantem o prazo de validade caso sejam cumpridos determinadas condições de conservação, e ninguém põe essas validades em causa.

Por fim queria também dizer que o Copo de 3 tem toda a razão, costumamos deixar a conversa séria e os argumentos fluentes para "esse lado", que descobri hoje que existia. Aqui "deste lado" temos uma versão enófila da conversa da treta, até porque a eloquência e os assuntos interessantes são exclusivos de alguns.

rui disse...

Caro João Pedro,

Obrigado pelo teu comentário.

Vou tentar não enrolar a conversa e ser directo:
- Ao contrário do que afirmaste no primeiro comentário, o vinho não tem data de validade por ser um produto de qualidade – existe muita zurrapa que se diz vinho e que não tem prazo de validade – certificado por entidades competentes. O vinho está dispensado de ter a referida data de validade por regulamentação do governo.
- Na lista de produtos que está dispensada de ter data de validade encontram-se os produtos de muita curta duração (diária, no caso da pastelaria, e alguns dias no caso dos frutos e hortaliças) porque qq pessoa pode visualizar, cheirar, apalpar, sentir o produto a quando da compra. Olhando para uma garrafa não consigo determinar se o vinho está em condições ou não. De qq maneira tinhas razão: são muitos os produtos sem data de validade.
- O facto de haver dispensa de tal obrigatoriedade é a razão pela qual os produtores não incluem a data de validade no rótulo. No entanto, a dispensa não impede ninguém de o fazer. Nem é explicado porque existe tal dispensa. E essa foi sempre a minha pergunta. Como é óbvio, e pensava eu que o era para todos, se o vinho não tem data de validade no rótulo é porque não é obrigatório por lei. Neste aspecto o decreto de lei não nos diz nada de novo. Se os fabricantes de corn-flakes tb estivessem dispensados por lei de o fazer, o mais provável era tb não o fazerem.

RC

p.s. Tal como o decreto de lei referido, nós aqui no blog, tb (há muito) dispensamos os leitores da obrigatoriedade de uma segunda visita. Eu particularmente, compreendo que nem todos gostem do que escrevo ou do modo como escrevo. É um direito que lhes assiste. Também visito os outros blogs e gosto mais de uns do que de outros. No entanto, por respeito e boa educação, nunca participei nesses blogs com comentários que tentassem escarnecer ou ridicularizar o autor das ideias contrárias . Nunca discuto as pessoas e tento sempre argumentar logicamente as suas ideias. É princípio do qual não abdico.

rui disse...

Caros Nuno e Ricardo,

Obrigado por tentar conduzir este post no sentido do debate das ideias. Já discuti com o Nuno (presencialmente) o seu comentário e não estamos de acordo em algumas coisas. E agora do que li do Ricardo, tb me parece que não estamos perfeitamente alinhados. O que é bom. Mostra que aqui no blog os vários elementos pensam por si e nem sempre estão de acordo.

Vou tentar sintetizar as ideias para depois tentar debate-las:
1. Vinhos estão sujeitos a factores de transformação diversos. Até mais do que os outros produtos.
É verdade. Mas se isso é assumido, não deveria ainda mais defensivo o prazo de validade? Aliás, é dos poucos produtos (será que devia dizer isto) que é assumido, por todos (produtores e consumidores) que o vinho pode estar estragado logo à partida ou pode não estar nas melhores condições quando é imediatamente colocado no mercado.
2. Também existem outros produtos que estão estragados dentro da validade.
É verdade. Mas geralmente têm uma linha de apoio para ligar quando isso acontece ou podem ser trocados no local de compra. Existe igual facilidade de troca ou queixa no caso do vinho?
3. Existem outros produtos que depois de finda a validade continuam inalterados.
É verdade. Mas o caso do vinho é diferente. Decorre da ideia nº1 que o vinho não continua inalterado. Transforma-se. Entra agora a questão da evolução do vinhos que é assumida por todos. Produtores e consumidores. Não só a evolução pode ser positiva ou negativa como é subjectiva essa sua caracterização (excepto se se tornar vinagre). Como referi, a data de validade faz sentido para determinado tipo de vinhos. Vinhos que sejam feitos com o propósito de serem consumidos num curto espaço de tempo. Não foram feitos para entrarem no jogo da “evolução”.
4. Questão histórica
É verdade. O vinho acompanha-nos há milhares de anos e nunca teve uma data de validade associada. Esta questão das datas de validade é coisa recente. É coisa inventada pela sociedade de consumo com a introdução das embalagens, conservantes e afins. E já se sabe que o sector do vinho não é dado a mudanças.
5. “É razoavelmente perceptível quando um vinho está deteriorado (dentro ou fora da validade)”.
É verdade, depois de aberta a garrafa e eventualmente já paga.
6. “O próprio consumidor irá penalizar a marca, deixando de comprar esse vinho.”
É verdade. Mas isso tb é válido para um iogurte, um pacote de leite, uma lata de sardinhas, etc
7. “A não existência de muitos stocks nos pontos de venda atenua o problema, na medida em que permite um maior controle da produção/distribuição.”
Se houver uma procura tal que permita ter uma rotação elevada de stocks, então o problema diminui pois supostamente o vinho nunca chegava perto da virtual data de validade. Conceptualmente, é verdade. Mas isso tb se aplica ao iogurte, ao pacote de leite, à lata de sardinhas e não é por isso que não deixam de ser obrigados a ter data de validade. Eu diria que a data de validade era uma garantia para o consumidor. Se a rotação de stock fosse elevada não chegava perto do limite, se não então garantíamos que não íamos a um restaurante e olhássemos para a carta e só encontrássemos vinhos ainda do século passado muitos deles armazenados em condições não satisfatórias. Para vinhos de grande rotação como o Monte Velho, supermercados de renome e restaurantes de qualidade raramente nos trazem problemas. Mas esses exemplos são uma minoria.
7. “Data de validade tem a ver principalmente com a saúde pública”/” O facto de o vinho ter oxidado em excesso ou azedado, não causa uma intoxicação na pessoa que o consome”.
Não posso concordar inteiramente com esta ideia. Os corn-flakes e as bolachas, por exemplo, ficam moles mas tb ninguém morre por causa disso. No entanto, tem data de validade. Também será por isso, mas a data de validade existe para protecção dos direitos do consumidor (quer sejam de saúde, financeiros, morais, etc)
8. “Não me parece também que o argumento de que as condições de guarda sejam um obstáculo”
Claro. As validades estão sempre em sintonia com as condições ideais de conservação. Se colocares um iogurte ao sol ele não te dura de certeza até à data de validade. Até nisso era feliz esta ideia, pois obrigava automaticamente os vendedores de vinho (supermercados, garrafeiras, restaurantes) a investir nas condições de conservação.

Não se pode desculpar o vinho, com o argumento “ah, é muito difícil!” Também ninguém garante que no dia seguinte à expiração da data de consumo de uma Coca-Cola a mesma esteja estragada. Provavelmente, aguenta meses ou mesmo anos. Estamos a falar de tempos médios. E para os vinhos tb se podia arranjar um tempo médio por tipo vinho. O melhor disto é que ninguém era obrigado a não consumir o vinho depois da data de validade. Quem é adepto da evolução (mesmo em vinhos corrente) pode guardar os vinhos à vontade que ninguém o vai chatear por causa disso. Apenas não existiam para venda em supermercados ou para consumo em restaurantes. Do ponto vista técnico não existe limitação para não o fazer. Do ponto de vista político-social, já é outra história.

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

Caros, não me querendo alongar muito nesta matéria só queria deixar um pequeno contributo.
Para mim não faz sentido o vinho possuir data de validade. As questões da evolução do vinho são extremamente subjectivas havendo sempre defensores de vinhos velhos e de vinhos novos.
Confio nas autoridades certificadoras e portanto não tenho desconfiança relativamente a isso.
Percebo também a posição do Rui. Mas sinceramente acho que haveria uma solução mais eficaz do que a data de validade. Esta solução seria no mínimo a indicação da data de engarrafamento aquando de vinhos de diferentes anos ou do ano de colheita no caso de vinhos de um só ano.
A data de validade tornaria o mercado muito redutor e não acho que vale a pena dizer que seria só nos vinhos de mesa porque mesmo aí existem Dados, Duradueros, Piões ou Uvas Castas. Eu sei que alguns tentam contornar esta obrigação de fata de data de colheita. Não é por serem vnhos de mesa que são obrigatoriamente maus.
Assim se nos vinhos de mesa onde não existe data de colheita passasse a haver no mínimo data de engarrafamento estes problemas seriam resolvidos porque aí o consumidor estaria informado quando foi elaborado o vinho e poderia avaliar se quer arriscar ou não.

Boas provas! Acho mesmo que a solução passaria por aí.

Anónimo disse...

Só acrescentar que acho que nos vinhos onde existe data de colheita (ano) esta situação não se põe. Qualquer pessoa deve avaliar o que está a comprar da mesma forma que compra um queijo ou um bolo.

E más experiências acontecem a todos e com diferentes produtos

Boas provas!!

joaorosé disse...

dear a Copo,

o gotaepinga.blogspot.com deitou unas gotitas.

ainda não dá para 1 a Copo ...

saludos, joão rosé

João de Carvalho disse...

II Encontro de Eno-Blogs
Caros amigos, penso que está na altura indicada para começar a pensar no II Encontro de Eno-Blogs.
Porque estas iniciativas fazem falta, porque nós precisamos e gostamos delas, e acima de tudo porque é sempre bom juntar amigos à volta do vinho.
Como ainda muita gente está a chegar de férias e a actividade anda um pouco em baixo, nada como animar com um novo encontro, sendo sempre de manter a prova seguida de jantar.

Gostaria de deixar a discussão em aberto, acrescentando apenas que muito me agradou a forma como decorreu o primeiro. A meu ver alguns pequenos detalhes podem ser melhorados, mas fica lançada a ideia.

A minha proposta seria finais de Outubro, que têm a dizer ?

http://copod3.blogspot.com/2007/09/ii-encontro-de-eno-blogs.html

rui disse...

Caro Chapim,

No caso dos vinhos de mesa, a data de engarrafamento, parece-me o mínimo exigido. Os exemplos que deste, são excepções perfeitamente identificadas e insignificantes no meio dos milhões de litros de vinho de mesa produzidos. Esses são casos que estão perfeitamente identificados no tempo, pois são edições comemorativas ou limitadas, e que só alguns têm acesso. E geralmente os que têm acesso estão informados. No entanto, por exemplo no caso, do Mateus isso não acontece e a RV continua a dar nota de prova a um vinho que não se consegue identificar no acto da compra. Daí a crítica que fiz.

Eu quando escrevi sobre a data de validade foi a pensar no consumidor não informado. O que consome o tipo de vinhos para os quais advoguei a ideia (se lerem o post com atenção não defendi a ideia para todos os vinhos). Tu és um consumidor informado, no entanto é provável que tenhas amigos que não têm presente, por exemplo, o conceito de colheita, das diferenças de anos que existem numa mesma marca de vinho. A mim acontece-me várias vezes estar na situação de ter que explicar que a marca que determinada pessoa está habituada tem variação de qualidade conforme os anos de colheita e conforme as alterações provocadas pela oxidação com o passar do tempo em prateleiras mal acondicionado. Só depois é que as pessoas percebem porque é que não gostaram da última vez que beberam determinada marca quando foi sempre a marca que beberam e gostaram. A ideia que advoguei tenta proteger essas pessoas e não pessoas como tu ou como eu. Essas, em princípio, não precisam de defesa. Acredito que a maioria dos leitores que achou ridícula esta ideia (e não digo que o tenhas feito), o fez porque não percebeu como é que esta medida o podia ajudar, defender ou proteger. Acharam que não os afectava a eles (é-lhes indiferente) e não reflectiram como poderia ser benéfica para a esmagadora maioria dos consumidores. Nós não somos a maioria. Nunca se esqueçam disso!

Pelo contrário, tal como referiste, provavelmente acharam esta medida limitativa de um acto de compra futuro. Ora quem é que (de nós, informados) compra um branco banal e corrente com mais de dois anos num restaurante de carácter duvidoso? Provavelmente ninguém. No entanto, acham que seria limitativo não poder exercer o direito de comprar esse vinho mesmo sabendo que nunca o fariam. Curioso o ser humano, não?

O vinho é um produto que todos adoramos e por isso é difícil de o discutirmos como se tratasse de um outro produto qualquer. Um produto com o qual não tivéssemos uma relação sentimental que nos impedisse de pensar esta questão de uma forma fria, objectiva e distante. Por isso, tomemos como exemplo o queijo ou bolo referido.

Se comprarmos um queijo ou bolo não embalado, estes não têm data de validade formalmente escrita. Como dizes, vamos gerindo a coisa até o queijo ou bolo estar duro ou bolorento. No entanto, se comprarmos o mesmo queijo ou bolo embalado, estes já trazem data de embalagem e data de validade. Ou seja, alguém encontrou sentido nesta informação. Se esses mesmo produtos passarem para lá da data de consumo são retirados das prateleiras e ninguém se importa que nos tenham tirado o direito de comprar esses produtos depois da data de expiração. E porquê? Queremos lá saber de bolos e de queijos. No entanto, no acto da compra olhámos para as datas e trouxemos os que tinham data de validade maior. Foi-nos útil essa informação.

Ora o vinho tb nos chega embalado. Quer seja em vidro, bag-in-box, etc. Porque é que neste caso já não faz sentido? O que é que o torna diferente dos outros exemplos apresentado durante estes comentários? A Teoria da Evolução! Eu relembro que não defendi esta ideia para todos os vinhos e, pegando no exemplo do branco em cima, quem é que de nós (os informados) compra o tal vinho banal e corrente, passados dois anos de uma prateleira de supermercado de carácter duvidoso e o guarda na garrafeira com esperanças de grandes melhoras futuras? Esta ideia não impedia que as pessoas comprassem esse mesmo vinho aquando da sua saída para o mercado e o guardassem (bem acondicionado) nas suas garrafeiras para lá da data de validade.

Como referi no post, respondia sim à questão: “Concorda que certo tipo de vinhos deva ter prazo de validade (de modo a ser retirado das prateleiras de supermercado e das quentes dispensas dos restaurantes)?” E foi sempre neste espírito que discuti esta ideia.

Um abraço,
RC

p.s. Aliás, tenho para mim, que os bag-in-box irão ter data de validade num futuro próximo. A UE encarregar-se-á disso.

Anónimo disse...

Caro Rui,
andei um bocado afastado e só há pouco vi a resposta.

Não posso dizer que não perceba a tua resposta. Mas não consigo estar de acordo a 100%.

Acho que se houvesse uma indicação obrigatória de data de engarrafamento ou de saída para o mercado já era um grande passo que se dava e já ajudava.

O problema para mim ao impor datas de validade passa por seleccionar quais os vinhos que teriam de a ter. Como tu dizes não seria para todos os vinhos, mas como distingui-los? seria só para os vinhos de mesa, ou também para os vinhos regionais, para os vinhos DOC?
Esta fronteira é cada vez mais ténue, há cada vez mais excepções...

Acho que este vai ser um daqueles temas em que não se chegará a consenso (e ainda bem!!), mas importante é debater o vinho e as suas vertentes, imperfeições e particularidades.

Boas provas

rui disse...

Caro Chapim,

realmente o consenso é impossível. Basta seguir os comentários para ver que fui eu contra o "mundo". :) Agora, tb não sou um homem de consensos nem de impor certezas. Sempre defendi o pensamento livre dos temas apresentados por mim. Aliás, alguns dos post foram exactamente apelos ao pensamento destituído de tabus e de certezas feitas. Portanto, se tu debateste de forma franca comigo e ao pensares sobre o assunto concluis-te que não estavas de acordo comigo então tenho que te dar os parabéns e o meu respeito. Fui sempre isso que pretendi. A recusa imediata, e ridicularização da ideia (ou do autor da mesma)logo à partida (sem se ter colocado a possibilidade contrária), é que eu crítico veementemente.

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

O exemplo dos queijos merece, na minha opinião, que se volte a ele. Com excepção dos chamados queijos frescos, a que propósito é que um queijo há-de ter prazo de validade? Se eu quiser comprar um queijo da serra da estrela "duro", com mais de um ano sobre a data de produção por que é que não posso? O queijo está estragado? É atentatório da saúde pública?

Como nota de rodapé: sobre os consumidores desinteressaados do mundo do vinho ou muito distraídos: em que é que o estar a data de colheita numa garrafa o torna mais conhecedor para além da marca? Parece-me que qualquer pessoa tem noção, ainda que não dê a mínima importância a isso, de que um Martini é sempre igual, um Moscatel de Favaios é sempre igual, um Lancers ou Mateus rosé são sempre iguais. Considere-se, por favor, as palavras 'sempre' e 'igual' como algo redutoras.

rui disse...

Caro JMS,

Em relação aos queijos, a verdade é que se for a um supermercado qq e comprar um queijo (não fresco) que esteja embalado, esse queijo tem data de validade (ou “consumir de preferência antes de” ...). Não vou discutir qual o propósito de haver essa informação nos queijos, pois nos vinhos já me está a dar água pelas barbas convencer alguém do sentido da coisa. :)

Claro que pode comprar um queijo “duro” com mais de um ano. Nunca disse que não. Se o queijo não estiver embalado, pode cheirar, apalpar, sentir o queijo antes de comprar. Já o vinho não. Já tinha exposto esta ideia antes. Daí estarem dispensados de data de validade os produtos frescos e não embalados. O consumidor pode aferir da sua condição e decidir em consciência.

A questão da saúde pública não se coloca pq tb já demonstrei que a maioria dos produtos que têm data de validade, no dia seguinte, ao fim da data, não passam a matar gente e nem sequer causam qualquer má disposição (exº bolachas, corn-flakes, queijo “duro embalado, etc).

Confesso que não percebi bem a ideia da data de colheita. Mas se a ideia era: o Mateus Rose, por exemplo, não precisa de data de colheita pq é sempre igual? Eu respondo: assumindo a tradução redutora, aceito que seja esse o objectivo da marca. Agora, isso só é verdade no momento que sai para o mercado. Provavelmente 1 ano depois de estar na prateleira de um supermercado ou restaurante, essa garrafa já não é igual a uma nova garrafa de Mateus que entrou nesse dia. E qd você pede um Mateus num restaurante não sabe se a garrafa tem um 1 ano ou tem um 1 dia pois os rótulos são iguais. Como já expliquei, no mesmo almoço e no mesmo restaurante já tive a versão laranjada e rosada do Mateus. Não tendo data de colheita que ao menos tivesse data de engarrafamento.

De qq forma, acho que o sentido (ou a falta dele) das ideias defendidas neste posts resume-se a uma pergunta (que cada leitor tem que responder em consciência):

- Considera a possibilidade de estas ideias poderem defender, ajudar, proteger ou elucidar o consumidor*?

* não precisa de ser o leitor destas linhas em particular pois já percebi que há quem não precise de ajuda - pensem num outro consumidor qualquer.

Um abraço,
RC

Anónimo disse...

A discussão vai animada, mas eu vou deixar a minha opinião no meu. Passem por lá.

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