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terça-feira, abril 17, 2007

Opinião Crítica

Penso que já se falou aqui sobre a importância da crítica. Uma opinião encerra um juízo. No caso dos vinhos, uma avaliação feita porque quem, de alguma forma é considerada, mesmo por poucos, sabedora da matéria, pode ter repercussões inesperadas.


Eu, há cerca de um ano e três meses, não era nada. Agora, sou muito pouco. No entanto, porque escrevo num blog sobre vinhos e transmito a minha opinião sobre os mesmos, as pessoas que me lêem têm necessariamente uma opinião sobre mim enquanto crítico de vinhos ou “opinador” sobre a temática do vinho, como eu prefiro que me designem. É inevitável. Ora, esta opinião sobre a minha pessoa tanto pode ser boa como má. Ou as pessoas percepcionam-me como um individuo que até sabe umas coisas ou apenas como um gajo que vem para aqui dizer umas baboseiras. Mais uma vez, é inevitável. A empatia, ou a falta dela, é formada a partir da concordância ou discordância com o que a outra parte faz, diz, pensa, escreve, gesticula, ..., enfim, um psicólogo explica isto melhor do que eu.

Aqueles que, por algum motivo, vão concordando com o que nós aqui escrevemos, não raras as vezes nos mandam mails a pedir a nossa opinião sobre este ou aquele vinho. Ou então, pedem-nos sugestões e listas de vinhos. Outros ainda querem esclarecimentos sobre algo. Penso que isto não será novidade para ninguém, até porque de vez em quando este mesmo tipo de pedidos é efectuado através de comentários aos nossos posts. Nunca falei com isto com os responsáveis de outros blogs mas acredito que lhes acontecerá a mesma coisa. Ou seja, existe um certo poder de influência sobre aqueles que nos abordam mesmo que, e falo por mim, tenhamos todo o cuidado para não ser demasiado absolutistas nas respostas.


Esta lenga-lenga toda para dizer o seguinte: se nós meros blogs já temos algum poder de “subversão”, imaginem qual será o poder de uma revista especializada ou de um guia de vinhos publicado?

Esta pergunta volta a estar na ordem do dia devido a uma nota atribuída a um vinho pela revista Blue Wine. Qual o vinho? Montes Claros Reserva 2004. Qual a nota? 18 valores. E qual o espanto? Bom, esta marca não é novidade nenhuma. É um vinho barato, cerca de 6/7 €, sem grande pretensões ou, pelo menos, em versões anteriores nunca as demonstrou. Esta surpresa, a acrescer o facto da Blue Wine atribuir notas bastante baixas a vinhos muito bem considerados em outras publicações, levou a que se gerasse uma onda de provas do vinho por alguns blogs amigos (1, 2, 3, 4). Uma espécie de contra-análise após um primeiro controlo de doping positivo.

Nós aqui no blog, também curiosos, provámos o vinho. Segue a minha descrição de prova, relembrando mais uma vez que a nossa classificação reflecte uma escala de gosto.

Montes Claros Reserva 2004
Cor não muito carregada. Abertas duas garrafas pois a primeira apresentava umas notas animais (algum suor de cavalo, se preferirem) que não me agradaram. Na segunda, chamemos-lhes apenas notas de couro pois já eram mais leves e com o tempo no copo tiveram tendência a desaparecer. Depois notava-se um verde incomodativo (não sei se é do Cabernet) que não gostei e que não desapareceu. A boca é de média concentração com fruta misturada novamente com sabores verdes. Final aguerrido com leve ardor alcoólico. Um alentejano estranho que sinceramente não gostei (particularmente do nariz). Abri duas garrafas com o Nuno (aqui do vinhoacopo) e com um amigo que bebe regularmente vinho corrente (é capaz de beber mais vezes do que eu mas apenas vinho até aos 5/6 euros) de modo a ter uma opinião menos pretensiosa do que a nossa (podemos estar a ficar aburguesados). Ninguém gostou. Quer dizer, mentira! Após o jantar, chegou o sogro desse meu amigo que ainda acabou por limpar uma das garrafas. Não que fosse grande coisa, segundo ele, mas sempre era melhor que o vinho do garrafão a que está habituado.


Não pretendo com este post discutir a pessoa que deu a nota ou a revista que publicou a mesma. É irrelevante. Importa reflectir é sobre o poder que a crítica tem. Tem muito? Devia ter mais? Ou tem o poder que é natural ter? Será uma falsa questão já que é impossível dissociar o poder da crítica? Penso que não. É difícil mas não impossível. Já em outras ocasiões aqui escrevi que, e o início deste post tentou explicar isso mesmo, a crítica, enquanto acção avaliadora, só existe enquanto outros (tem que haver sempre “outros” que não o próprio) percepcionaram aquele que faz a crítica como tendo autoridade para tal. Ou seja são os “outros” que atribuem poder ao crítico. No dia que isso deixar de acontecer, deixamos de ter um crítico para passarmos a ter um autista.


P.S. Com isto, a Adega Cooperativa de Borba tem vendido mais garrafas do que aquilo que, se calhar, estava à espera. Os leitores, por favor, não se guiem na minha apreciação. Leiam as outras, comprem o vinho, provem-no e façam a vossa opinião. Essa é que interessa.

segunda-feira, abril 09, 2007

2007/1º Trimestre - Descrições RC

No post anterior foram publicadas tabelas com as notas de prova (rolhas) dos vinhos bebidos por cada um dos membros deste blog no período referido no título. Como sou o mais desavergonhado, apresento, para os leitores mais curiosos, as descrições das provas efectuadas. Como é óbvio, a introdução feita no post anterior referido é valida para as descrições que se seguem.

O texto abaixo segue o seguinte fluxo: vinho -> rolhas -> descrição de prova

Tintos

Herdade do Esporão Garrafeira Private Selection 2003 (Alentejo) - 4,5 - Aroma subtil com todos os elementos bem integrados, longe do habitual madurão Alentejano. Na boca é o Alentejano que mais gostei. Equilibrado com fruta, especiaria, complexidade e facilidade de prova. Muito bom. Falta-lhe alguma assinatura final para lhe dar a nota máxima. Ando exigente...:)

Herdade dos Grous 23 Barricas 2005 (Alentejo) - 2 - O aroma é muito efusivo com as notas de fruta madura e doce da madeira a saltarem do copo. A boca confirma o lado doce, um pouco excessivo ao nível da extracção. Muito novo. Não gostei de todo este excesso de "lantejoulas". Pode ser que o tempo lhe dê algum "bom senso".

Malhadinha 2004 (Alentejo) - 4 - Quer o aroma e depois a boca apresentam-nos muito chocolate e fruta madura. O final aguerrido e cheio confere-lhe uma projecção extra que o permite escapar da mera bomba de "fruta-ó-chocolate". A beber rigorosamente à temperatura certa para evitar enjoos.

“O Mouro” 2000 (Alentejo) - 3 - Evolução na cor e já se notam os acastanhados. A lembrar aroma de LBV com alguns anos. Frutos seco. Figo. A boca inicialmente é doce a figos secos mas rapidamente o doce desaparece para dar lugar a um final seco a mato. Uma curiosidade. Um vinho que ganhou projecção quando saiu porque segundo a "lenda" resultou de um lote de vinho da Qt. do Mouro que tinha sido desconsiderado por ser demasiado ácido mas que o Dirk Niepoort numa visita que fez à quinta considerou como um vinho digno de engarrafamento. Teve o “hype” próprio da novidade e da estória associada e depois foi esquecido. Encontrei-o numa garrafeira do Porto aquando da visita ao Jantar de Entrega dos Melhores do Ano e à Essência do Vinho 2007.

Terrenus 2004 (Alentejo) - 4 - Nariz com fruta madura mas complexa. Fruta negra e silvas. Grande estrutura de boca. Com muita fruta mas com a acidez, os taninos e a austeridade das vinhas velhas a conferirem-lhe os predicados necessários para não se tornar mais do que um vinho com muita fruta. Um alentejano com carácter. Bom. Para mim, faltam-lhe aquelas especiarias e apimentados finais que consigo apanhar nos melhores Douros e que confesso tornam esta região a minha preferida.

Calda Bordaleza 2004 (Bairrada) - 3,5 - Aroma fechado. Algumas notas verdes proveniente do Cabernet. A boca é excessiva com os 15º de nível de álcool a mostrarem-se presentes. Fruta madura, chocolate, muita estrutura e taninos poderosos. Tudo em grande. Tudo excessivo. Daí ter sido prejudicado na nota que lhe dou. Pode ser que o tempo "amanse" o excesso de álcool. Agora: opte por pratos fortes.

Lokal Silex 2004 (Beiras) - 2 - Aroma a violetas e notas de pinheiro. Na boca, existe um rendilhado taninoso próprio dos vinhos de Baga que este não tem. Estranho! Algo cru. Ainda por domar, é um vinho estranho já que o tinha em casa à mais de ano e ainda assim me parece que está por "casar" os vários elementos, terminando mesmo com sensação alcoólica. Ou falta casamento ou já houve divórcio.

CARM Reserva 2003 (Douro) - 3,5 - No trimestre passado bebi este mesmo vinho no mesmo restaurante, com os mesmos copos e com o mesmo género de comida. Se anteriormente o considerei muito guloso com a fruta madura em evidência, desta vez, achei-o com uma muito maior acidez com um final com notas verdes e algum amargor. Baixei-lhe a nota. Ainda assim, uma boa relação qualidade preço.

CV 2004 (Douro) - 4 - Fechado no aroma. Algumas notas de frutos silvestres. A boca é elegante com uma grande estrutura mas não pesada. Frutos silvestres e bom equilíbrio com as notas da madeira. Falta-lhe uma maior definição dos elementos para se tornar “grande”. Bebe-se facilmente.

Encosta Longa Reserva 2004 (Douro) - 2 - O nariz já apresentava uma ligeira nota alcoólica incomodativa. A boca mostra-nos um vinho cru, rugoso, um pouco alcoólico com os elementos a puxarem cada um para seu lado. Estive a rever as minhas notas e é um dos raros Douros que não gostei.

Evel Grande Escolha 2003 (Douro) - 4 - Bebi este vinho uma semana depois de beber o Malhadinha 2004. Se no anterior o chocolate já era abundante, neste o chocolate é rei. Não me lembro de ter bebido nos últimos tempos um vinho tinto com tanto chocolate. Quer no aroma quer na boca. Muito guloso é vinho de agrado fácil numa mesa de consumidores "principiantes". Eu também gosto apesar de ter preferido a versão anterior (2001), tinha menos chocolate, notava-se mais fruta. É vinho um pouco monodireccional mas feito de chocolate preto dos melhores cacaueiros. :)

Ferreirinha Colheita 1998 (Douro) - 3 - Denota já grande evolução com a cor longe dos "normais" opacos. Aromas de alguma madeira, vegetal e pouco fruta. Na boca é suave, equilibrado e nada cansativo. É um vinho que não dá grande prazer beber a solo mas combina facilmente com pratos de sabor não muito intenso. Contracorrente. Foi buscar a descrição que fiz há dois trimestres atrás porque achei o vinho igual à prova anterior.

Passadouro 2003 (Douro) - 3,5 - Aroma com muita fruta vermelha e bem madura. A boca igual. Apesar de não ser um Reserva e já ter uns anitos, o vinho parecia que tinha chegado ao mercado agora tal era a vivacidade da fruta que brotava da garrafa. Parece-me que lhe falta uma certa acidez para aguentar as agruras do tempo, pois a fruta, essa, não lhe falta.

Poeira 2004 (Douro) - 3 - Sei que parece uma heresia para muitos: ainda não houve um Poeira que me tenha enchido o goto. E desta vez, este 2004 (já o tinha provado anteriormente) é capaz de ter produzido a pior prova de todos. Muito indefinido. No aroma, apesar de algo fechado, foram os fumados da madeira tostada que sobressaiam. A boca algo rude e incaracterística, apresentou um final agressivo. Uma prova que terminou positiva mas ainda assim decepcionante.

Pólvora 2004 (Douro) - 3 - Uma marca nova. É um vinho corrente agradável e fácil, com notas de alguma baunilha no aroma e fruta q.b. na boca. Uma boa opção num restaurante onde os vinhos de gama superior sejam inalcançáveis devido ao preço.

Qt. Fafide Reserva 2004 (Douro) - 3,5 - Equilibrado. Alguma madeira baunilhada no aroma. A boca equilibra fruta e acidez. Um bom vinho corrente a que recorro com regularidade nos restaurantes.

Qt. Fafide Reserva 2003 (Douro) - 3 - Em relação ao 2004 que provei pela mesma altura neste já se nota a perda da fruta e com isso um aumento da acidez. Ou seja, sendo um vinho corrente, opte pelo ano mais recente onde o vigor da fruta consegue manter o vinho mais simpático.

Qt. Roriz Reserva 2003 (Douro) - 4,5 - Aroma subtil com notas de fruta ligeira e com madeira muito bem integrada pois não se notava (excelente!). Na boca parecia veludo. Taninos bem domesticados apesar de se notar que é um vinho com grande estrutura. É do tipo que ultimamente valorizo: fácil de beber e pouco cansativo. Ando a fazer o percurso inverso da maioria dos enófilos: a maioria procurar cada vez mais vinhos mais difíceis ou diferentes ou extremados ou originais (o que é que quer que isso seja). Eu cada vez aprecio mais os que têm menos “espinhas”, que aliam complexidade e facilidade. Se me apanho a dizer no início do copo, “Epá, gosto disto, era capaz de beber uma garrafa sozinho!”, então é garantido uma boa classificação da minha parte. Faltou-lhe apenas um maior final de boca para eu lhe dar o máximo.

Qt. Touriga Chã 2003 (Douro) - 3,5 - Aroma quente. Apresentou mesmo algumas notas animais mais “presas” que precisaram de arejamento para desaparecer. Depois, sobressaíram as notas fumadas da tosta com fruta madura. A boca também ela quente, pouco elegante, muito Douro profundo, com a fruta madura a fazer-se sentir com algum ardor alcoólico final. Um vinho forte e aguerrido.

Qt. Vale D. Maria 2004 (Douro) - 3 - Aroma fechado com notas de fruta silvestre. Agradável. Na boca é o contrário do nariz. Desconjuntado, com pouca definição, fruta com taninos aguçados e amargor final. Falta-lhe definição. Não percebi o vinho, confesso.

Hexagon 2003 (Setúbal) - 3,5 - Cor longe das bombas do Douro. Aroma com ligeiro mato e feno. Frutos Vermelhos. Na boca a presença de uma acidez viva e bem presente devido ao Tannat. Boa persistência.


Generosos

Graham's 2003 (Porto) - 3,5 - Alguns anisados. Cheiro a massa de fartura. Laranja? A boca não é tão potente como outros 2003. Algum tanino mais "ruidoso". Fruta e ligeiro chocolate. Não é daqueles que dá mais prazer beber agora pois não agrada nem a gregos nem a troianos, ou seja, nem é fácil e guloso nem é impressionante e poderoso.


terça-feira, abril 03, 2007

Provas 2007/1º Trimestre

Este post, enquanto eventual guia de provas, é uma perfeita inutilidade. As notas aqui apresentadas são tão subjectivas que podem levar ao engano do leitor que as utilize como referência para compras futuras.

Os vinhos e as notas apresentadas são assumidamente o reflexo da capacidade de prova e do gosto particular de cada um dos membros deste blog. Estes foram os vinhos que cada um quis e conseguiu beber neste período, não tendo havido qualquer intenção das provas serem temáticas, organizadas por preços ou representativas das várias regiões vinícolas portuguesas. Só são apresentados os vinhos para os quais nós considerámos ter havido condições de prova justas para os mesmos. A esmagadora maioria dos vinhos foram provados às refeições e em convívio. Uns vinhos foram decantados e outros não.

Esta divulgação deve ser encarada pelo leitor como uma partilha de consumidor para consumidor. Constitui um histórico de provas efectuadas por consumidores normais que apenas gostam muito de vinho.

As notas são apresentadas em número de rolhas (1-5) e seguem uma escala de GOSTO:
5 – Gostei Extraordinariamente. Quero beber muito mais.
4 – Gostei muito. Quero beber mais.
3 – Gostei. Há falta de melhor bebe-se com agrado.
2 – Não gostei. Só volto a beber se não houver mais nada.
1 – Não gostei mesmo nada. Não me apetece voltar a beber.

A partir da nota 3 foi criada a meia-rolha de modo a diferenciar
determinados vinhos. Como não tememos a comparação, criámos um sistema de cores que permite ficar a saber a evolução das notas de prova agora reproduzidas em relação a provas publicadas anteriormente. Assim: verde (subiu), cinzento (manteve-se), amarelo (desceu).


Brancos

Nota: RR – Ricardo; RC – Rui; NA – Nuno; CA – Cristo; JPD - João


Tintos
Quadro 01


Quadro 02


Quadro 03


Quadro 04

Nota: RR – Ricardo; RC – Rui; NA – Nuno; CA – Cristo; JPD - João

Estrangeiros

Nota: RR – Ricardo; RC – Rui; NA – Nuno; CA – Cristo; JPD - João

Generosos

Nota: RR – Ricardo; RC – Rui; NA – Nuno; CA – Cristo; JPD - João

P.S. O quadro relativo aos Generosos foi re-publicado pois continha algumas trocas de notas.

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