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quinta-feira, maio 08, 2008

Guias de Vinhos Portugueses (2)

Este segundo post, de uma série de três, deixa para trás a “guerra” conceptual das escalas de prova (que fechou o primeiro) e avança no sentido de percebermos o conteúdo dos guias.

A abrangência
Como referi no post anterior os guias escolhidos para a minha análise têm em comum o facto de pretenderem classificar o maior número de vinhos provados. Ou seja, ao contrário de outros guias, estes não são apenas uma escolha ou um top de vinhos provados.

A escola “clássica” (vou passar a chamar assim à dupla JPM/JA) assume um nacionalismo mais afincado e não apresenta vinhos estrangeiros. Porventura, chegou à conclusão que volatilidade e falta de estabilidade da oferta estrangeira em Portugal não lhes permitia efectuar uma secção de vinhos estrangeiros coerente e com significado para os consumidores.

Por contrapartida, os concorrentes apresentam ambos uma secção de vinhos estrangeiros provados. Reminiscências do guia conjunto que faziam enquanto 5às8. Se o RF consegue, ainda assim, apresentar um conjunto razoável de vinhos estrangeiros provados, no caso da NovaCrítica (NC) os vinhos apresentados pouco mais são do que a transladação dos registos apresentados nos anteriores guias dos 5às8. Principalmente nos vinhos caros e famosos, as provas chegam a ter 2 e 3 anos idade. Além de mostrar curriculum dos provadores, vejo com dificuldade que estas notas possam ajudar o leitor.

Estrangeiros às parte, nos vinhos portugueses o JPM domina. Quase não há vinho não provado (que se queira deixar provar, claro). Existem casos de produtores que, devido a apreciações anteriores não tão favoráveis (caso da Herdade da Malhadinha Nova, por exemplo), preferiram ficar de fora. O JA e o RF seguem a seguir não muito longe. No fim, aparece a NC com o número de vinhos francamente inferior. Isto também acontece um pouco com o guia do RF mas, o número de vinhos provados é “feito à conta” de produtores menos dados as estas andanças ou daqueles que “fogem” da escola “clássica”. Como referi no post anterior, sai-lhes o tiro pela culatra, porque nestes guias as notas atribuídas são em média mais baixas.


O Estilo
Podemos separar facilmente do grupo, em estilo, o JA. Mais directo, mais técnico, mais impessoal. Enfim, mais vinho e menos rótulo. Acredito que este estilo esteja directamente ligado com o facto de ser o único que prova todos os vinhos às cegas. Nos restantes autores, fica a sensação que apenas em poucos casos o fazem. Já aqui escrevi, em anteriores ocasiões, que este estilo é o que menos aprecio. Gosto de observar o cunho pessoal do autor na descrição de prova. Perceber o seu gosto ou os seus “humores” em relação aos produtores. No fundo, conhecer um pouco mais do homem provador e menos da máquina provadora.

Os outros três guias conseguem dar-se a conhecer um pouco melhor. Assume, o RF, o maior risco de todos. Apresenta para cada produtor a sua visão pessoal do mesmo. Assume, arrisca e daí o mérito. Nem sempre se tem razão, ou se é compreendido. Podem haver casos, em que o desenrolar do “campeonato” vem contrariar os nossos prognósticos como foi caso evidente do Dorado Superior 2005. O RF atribuiu-lhe uma nota de 10,5 pontos e escreveu do produtor, Qt. do Feital, o seguinte: “Por vezes a coisa resulta, outras vezes nem por isso. Provados que estão o Auratos 2006 e o Dorado Superior 2005, não tenho razões para sorrir.” Quando o “campeonato” acabou, o Dorado ganhou um dos prémios Excelência da RV e foi considerado, na maioria dos guias portugueses, um dos melhores vinhos brancos. Só quem não se compromete, e se limita a escrever o óbvio, o corriqueiro ou a atribuir sempre as mesmas notas, consegue levar uma vida descansada sem percalços pelo caminho. Como prova tudo o que já escrevi até aqui, não é o meu caso. :)

Em contrapartida, o JPM, mais experiente, consegue dar uma opinião menos comprometedora dos produtores e dos seus vinhos, “atacando” apenas pontualmente e com mais segurança, apoiando-se no facto de ser o guia que mais vende e que há mais anos está no mercado. Neste caso, também há que dar mérito, pois este "poder" traz-lhe uma maior responsabilidade e, de modo geral, as "alfinetadas" têm sido bem distribuídas, tendo mesmo, em alguns casos, os produtores arrepiado caminho.

(continua)

4 comentário(s):

pepas disse...

Ola Rui

Eu sou um pequeno produtor... Gravato...
Fui penalizado por um guia de vinhos, pode ver toda a historia on meu site www.gravatoqb.pt,
e fiquei sem saber porque....
o meu tinto foi bem cotado para todos os sitios para onde enviei amostras e só num guia foi dada uma má critica porque?
Porque será que enologos que o provam da concorrencia me procuram para me dar os parabens, e as minhas uvas são cobiçadas por todas as grandes marcas?
Será que um critico de vinhos não sabe o que é um palhete e o que o diferencia de um rosé?
Tudo começou pelos palhetes, misturando se as uvas ainda hoje este processo existe em alguns vinhos do Porto e de mesa neste caso nunca ultrapassando os 10%.
Mas é assim procuro ainda hoje respostas para algumas questões...
Tchim tchim Luis Roboredo

rui disse...

Caro Luis,

a justiça das notas atribuídas pelos críticos de vinhos dava um outro post (ou vários recorrentes). Houve um crítico no outro dia na televisão quando lhe perguntaram se já tinha sido injusto para com um vinho respondeu que não.

Não me querendo comparar (mas fazendo-o :)), se me perguntassem a mim, tinha respondido: "ui, quantas vezes, nem sei!" A crítica é por natureza injusta. A única coisa que eu tento ser é coerente e honesto.

Isto para explicar que se o autor desse guia de vinhos tiver sido coerente consigo mesmo e honesto, nunca vai ter resposta para as suas perguntas.

Aqui no blog, apesar da nossa escala classificativa ser de GOSTO (o que nos defende um pouco, sejamos francos), quando faço as descrições de prova não estou constantemente a medir as palavras. À minha pequena escala, se um produtor não considerar justo o que eu escrevi sobre um vinho, apenas lhe posso dizer "que foi aquela a minha percepção do vinho", mesmo que isto não apazigue o sentimento de injustiça que este tenha.

Um abraço
RC

pepas disse...

Ola Rui

Obrigado pela resposta, a sua imparcialidade não é a mesma de outros que por vezes necessitam de escrever criticas positivas ou negativas, independentemente daquilo a que o vinho lhes possa saber, mas aqui o problema não foi bem esse, quando um critico que eu não conheço de lado algum AFIRMA numa critica que embora no rotulo esteja escrito palhete mas aquele vinho é um rosé, não está a criticar, mas sim a difamar. Este senhor alem de nunca ter visitado a minha adega, para ver aquilo que eu faço insulta de vigaristas o pessoal que comigo trabalha, a c.v.b.i que o analisa e o classifica como um DOC raro sendo um palhete, e pior uma região, e faz tudo isto numa critica de um anuario de vinhos, e pior do que tudo colabora comigo dando-lhe um 14, quando não devia dar qualquer nota, porque se não é um palhete não haveria nota. Eu não faço frente á concorrencia nem nunca vou fazer a minha produção é de 20.000 garrafas, 10.000 de palhet e 10.000 de tinto, um nicho de mercado, vendo uvas para uma das maiores e melhores marcas de vinho, comecei com o tinto 2004 e por brincadeira enviei uma amostra para a revista Blue Wine que utiliza um sistema de prova cega com 4 provadores que classificam o vinho individualmente, e tive uma grande surpresa quando vi um 17,5 foi isto que me deu força para continuar, este hobbie é um vicio que me ajuda a manter a quinta em poder da familia, e a ser vivida.
Fica aqui o convite quando passar na Meda ligue-me 91 9110502, e vai provar aquilo que nos fazemos...
www.gravatoqb.pt
tchim tchim Luis
(para se saber o que é um bom vinho temos que provar muitos vinhos, bons e maus...neste campo sou um aprendiz). Abraço...

rui disse...

Caro Luis,
realmente não tinha percebido o problema (o site que indicou não esteve disponível durante o dia de ontem). No entanto, já consultei os vários guias e encontrei o "caso" que refere. Bom, neste caso perece-me claro que houve algum desconhecimento do autor e o assumir erradamente, por parte deste, que "Palhete" significava rosé.

Uma da mais valias dos blogs é podermos emendar facilmente a mão sempre que nos enganamos. No caso dos guias isso não é possivel. Foi um erro grave pq estes guias têm uma dimensão que os nossos blogs não têm. Acredito que se for informado do facto, o autor dará nota de destaque à errata na próxima edição. Eu pelo menos fazia-o.

Um abraço e obrigado pelo convite,
RC

p.s. confesso que gostei da expressão "é um vinho todo o terreno". :)

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