Guias de Vinhos Portugueses (1)
Fiz há tempos um post sobre uma crítica que a Revista de Vinhos efectuou a um guia de vinhos que tinham acabado aparecer no mercado. Elogiei a RV pela forma, conteúdo e amplitude da análise efectuada. No entanto, deixei na altura um “reminder” para monitorizar posteriormente qual seria a crítica que a RV faria aos guias de vinhos efectuados pelos críticos de vinhos que colaboram com a revista.
Infelizmente, chegada a crítica, comprovou-se que o texto mais não é do que referências ao nº de páginas de cada guia, o nº de vinhos provados, a existência de um índice assim ou assado, ficando longe daquilo que elogiei no post que referi.
Como considero que uma das mais valias dos blogs é o poder escrever sobre os temas que as publicações “responsáveis” não podem ou não querem, fiz minha a intenção escrever sobre os guias de vinhos existentes no mercado. Já lá vão uns meses. Por isto ou por aquilo, o post foi sendo adiado e se hoje, porventura, o sentido de oportunidade do post não é o melhor, é certo que este distanciamento permite efectuar uma análise mais calma sem a possibilidade de me acusarem de influência nas vendas dos mesmos. Só por engano, ou numa oferta de aniversário, se vende hoje em dia algum exemplar.
Em que guias pegar? Utilizei dois critérios: o guia tinha que ser o mais abrangente possível do mercado português (nada de tops ou escolhas) e tinha que ser assinado pelo crítico responsável (excluí assim o guia da RV). Por ordem de antiguidade no mercado, fiquei assim com os guias do João Paulo Martins (JPM), João Afonso (JA), Pedro Gomes(PG)/Tiago Teles (TT) [NovaCrítica] e Rui Falcão (RF).
As Escalas de Pontuação de Vinhos
Lembro-me que um dos primeiros posts que fiz sobre a temática dos guias existentes no mercado desancava no facto dos vários guias assumirem escalas de pontuação diferentes, tornado o exercício de comparação (para alguns irrelevante ou mesmo blasfémico) muito difícil. Hoje em dia isso acabou, ou assim pensamos, visto que todos os autores utilizam a escala de 0-20 valores. Uma análise mais aturada rapidamente descortina que a escala pode ser a mesma mas a interpretação dos valores não o é. Assim, dividem-se em duas escolas de raciocínio: a escola RV, à qual pertencem o JPM e o JA, “puxa” as notas para cima pois mesmo os vinhos pobres com pequenos defeitos apresentam notas positivas, enquanto a escola 5às8, da qual fizeram parte os restantes, “puxa” as notas para baixo pois utiliza a metade inferior da escala para classificar esses vinhos. Elogio os últimos. Discordo dos primeiros. Já em outras ocasiões aqui no blog defendi que as notas dos vinhos de “meio da tabela” na RV estão todas puxadas para cima dois/três valores.
Resulta deste facto, além da dificuldade de comparação se manter (parece a lei portuguesa onde existe sempre maneira de contornar a mesma através de interpretação criativa), que o leitor mais habituado à escola “clássica” vigente da RV acaba por estranhar o anormal e elevado número de notas baixas atribuídas. Estranha o leitor/consumidor e “estranha”, com certeza, o leitor/produtor. Percebendo também que os pequenos produtores são os mais activos no envio de amostras para prova em novos guias de novos autores (é um meio de divulgação do seu produto, os grandes e de nome feito são mais “preguiçosos”), chegamos à conclusão que são estes quem mais “sofre” com esta interpretação da escala. Ou seja, é normal ponderarem o envio de amostras numa próxima edição. Reforço o elogio pela coragem e apelo à determinação na caminhada do caminho escolhido pois não será fácil resistir à tentação se o número de amostras começar a diminuir.
(continua)
2 comentário(s):
Também concordo mais com a 2ª "escola"...
A escala deve ser usada na sua totalidade.
Cá espero a continuação.
Caro Luis,
já seguiu continuação :)
Está um pouco atrasada pq era minha intenção fazer um post por dia (2ª,3ª e 4ª feira) mas não consegui na 3ª, pelo que isto já vai tudo atrasado. Eventualmente no fds acabo.
Hoje temos o evento e já não vou conseguir escrever nada.
Um abraço,
RC
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