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terça-feira, maio 20, 2008

Guias de Vinhos Portugues (3)

O primeiro e segundo post foram lançados quase em simultâneo. Faltava este para completar a trilogia. No último filme, espera-se que o bem derrote o mal, o herói fique com a moçoila de curvas bem delineadas e, antes dos crédito finais, existe um piscar de olho a uma eventual continuação da saga. Ora bem, neste caso, não há heróis, não há moçoilas curvilíneas (bolas!) e não prometo que não hajam muitos outros episódios de um tema controverso e, por isso mesmo, apetecível.

As Notas e os Gostos

Chegámos à parte mais empolgante. A hora de colocar as cartas na mesa e ver o jogo de cada um.

Como comparar as notas de cada crítico? Como referi no primeiro post, as escalas são as mesmas mas a interpretação dos valores difere. Assim, optei por olhar para os vinhos que estavam classificados no topo da escala pois a interpretação tende alinhar no limite superior (ou próximo dele, visto que a maioria não atribui a nota máxima).


Lista de Brancos Não Consensuais

Procurei encontrar uma lista de vinhos onde fossem encontradas as maiores diferenças. Dentro dos melhores brancos o consenso foi mínimo. Os nossos críticos não se entendem sobre os brancos portugueses. Apenas no Soalheiro Alvarinho, Redoma Reserva, Guru, Maritávora Reserva e Qt. Bágeira Garrafeira as notas andaram próximas com uma amplitude de apenas um valor.

Olhando para o quadro, percebemos claramente a diferença entre as duas escolas. O caso mais gritante é o Dorado (já falei dele no segundo post). Percebe-se também que o JPM “puxa” mais pelo vinho branco nacional, algo que a escola 5às8 não aceita, provavelmente ainda em fase de namoro com brancos mais frescos de outras paragens ou colheitas tardias de Sauternes.

Mas se as notas já nos mostram gostos e concepções diferentes do que é um bom branco, os textos são ainda mais elucidativos. É exemplo o Aneto, para o qual, segundo o RF, falta tudo (“corpo, alma e volume, complexidade e dimensão”) e que para o JPM, está “Muito bem, está aqui um belo Colheita Tardia, a lembrar um bom Sauternes já com uns anos.


Lista de Tintos Não Consensuais

Os tintos portugueses, em prova nos guias, são muito mais que os brancos. Logo, é normal que haja uma lista maior de vinhos não consensuais por onde pegar. Tentei fazer um apanhado pois, caso fosse a colocar a lista de todos, tinha que pedir mais espaço de alojamento à Google.

Há coisas giríssimas como é caso do Chryseia. Para o JA é o mais fresco de sempre, para o RF falta-lhe acidez (então essa frescura!) e o Tiago Teles até acaba por dar melhor nota ao P.S. de Chryseia que é a 2ª marca a um terço do preço. O PG faz outra destas com o Soberanas a levar a melhor sobre o topo da casa. Só tenho que aplaudir. Acho estatisticamente curioso isso não acontecer muito mais vezes em milhares de vinhos provados (especialmente em prova cega). A atribuição de notas em escadinha do 15,5/16 até ao 17,5/18 é tão previsível que não era muito difícil fazer o exercício de alinhar as notas em toda a gama de determinados produtores em determinados guias de 2009. Falhava pouco.

É também curioso olhar para as notas do RF relativamente à Qt. dos Roques. São todos grandes, grandes vinhos . Brancos, tintos, mais caros ou mais baratos. Relembro que o RF costuma ser, em geral, o mais “contido” na notas atribuídas. Aliás, este gosto pela Qt. dos Roques é estendido aos vinhos da Filipa Pato/Luis Pato, Qt. do Monte d’Oiro e Niepoort. Bom, para dizer a verdade, deste último, todos gostam. A NovaCrítica, junta aos dois últimos, os vinhos da Qt. do Mouro, rainha no Alentejo, e um particular afecto pela Qt. dos Cozinheiros (Utopia) nas Beiras. Eles lá sabem.

É mais difícil apontar gostos por produtores específicos à escola “clássica”, devido ao facto de terem menos amplitude nas notas atribuídas. Quando os vinhos são corridos a 17 e 17,5 é difícil perceber o que os diferencia. De qualquer maneira arrisco dizer que o JA é o que tem a maior inclinação para os vinhos do Dão e Bairrada, enquanto o JPM é dos mais benevolentes com os vinhos do centro (Estremadura, Ribatejo e Setúbal) e consegue “lidar” melhor com os excesso de calor do Alentejo.

Existe uma cisão na escola 5às8 que não resisto a partilhar. O Qt. do Lagoalva traz a nu as suas divergências. “Um belíssimo vinho português sob qualquer ângulo ou perspectiva.”, diz-nos o RF. Como comprova a nota dada pelo TT, este deve ter encontrado um outro ângulo ou outra perspectiva que escapou ao RF, pois a sua opinião não podia ser mais divergente.


Lista de Vintages Menos Consensuais

Em relação aos vinhos do Porto, e especialmente aos Vintage, as diferenças são muito pequenas. Atiram todos lá para cima e portanto perto do topo as diferenças esbatem-se “amordaçadas” pelo limite da escala. Consegue-se perceber no entanto que o RF pontuou melhor a colheita de 2005 que os restantes. Vários vinhos obtiveram 18 valores enquanto no guia do JPM, por exemplo, isso foi raro e foram quase todos corridos a 17. Eventualmente, o chamado “saber de experiência feito”, percebeu que se puxasse demasiado as notas dos vintages em anos não clássicos então ficava sem escala nos anos de declaração generalizada.


Lista dos Melhores Vinhos Portugueses

Mas nem tudo são diferenças. Existem também pontos de encontro. E são muitos. Infelizmente, o consenso não vende e a esta altura os leitores já estariam a dormir ou mudado de blog. :)

De qualquer maneira, tentei sintetizar nestes dois critérios a lista abaixo.
- Os vinhos têm que ter no mínimo 3 notas atribuídas.
- Os vinhos têm que ter todas as notas acima ou igual a 17,5 valores.


Opinião Final

As diferenças existem entre críticos. As opiniões são divergentes. Por vezes, são mesmo muito divergentes. Nada de novo. Não descobri a pólvora. E também não pretendo desacreditar os críticos ao mostrar que podem estar desalinhados em relação à maioria. Isso é normal. Tem que ser normal. O contrário era concertação de “preços” (como fazem as gasolineiras).

O que falta aos nossos críticos é um assumir maior do que são. Do percurso que fizeram. Da sua concepção de vinho. Dos seu gostos. Das suas linhas orientadoras. Dizer que se analisa a acidez, os taninos, o aroma, a estrutura, não é nada. Qualquer pessoa o faz. Não há outra maneira de provar vinho. Avaliava-se o quê? A rotação do liquido no copo ou os decibéis produzidos pelo sacar da rolha?

A ideia do equilíbrio das várias componentes do vinhos só existe na cabeça do provador. Só é válida para ele. O colega do lado tem outra ideia de equilíbrio dessas mesmas componentes. E por isso é que para um falta acidez e para outro o vinho é fresco. Não existe avaliação técnica dos vinhos. Não acredito nisso. É uma falácia. Claro que são avaliadas as mesmas características do vinho mas a avaliação nunca é determinística conforme a designação “técnica” implica, pois os parâmetros de avaliação não estão quantificados. Nem podem estar. Nem quero que estejam.

O que se pode retirar destes posts é que a subjectividade das provas decorre não só de factores exógenos ao provador (condições de prova e qualidade da amostra), como está fortemente dependente do próprio provador, o seu estilo, a sua personalidade (muito importante, nomeadamente, a afeição pela diferença, pelo caminho contrário, pela polémica, pela divergência), o seu gosto, a sua experiência, a sua concepção do que deve ser um vinho, e especialmente do que deve ser um bom vinho. Todas as notas, toda a apreciação, toda a crítica resulta da comparação com essa base mental. Com essa ideia. Não pode haver opinião sem haver um inicio. Diz-me o que já provaste e eu digo-te o que vais achar do próximo vinho. Isto é válido quer para críticos quer para nós consumidores, como é evidente e inevitável.

4 comentário(s):

Luis Prata disse...

Muito boa esta sequência de "posts" e o resultado é muito interessante apesar de previsível.

No que diz respeito às notas de prova de cada provador, continuo a preferir o RF devido à maior amplitude real da escala usada.

No final, todos sabem que o gosto pessoal do provador influencia a sua nota de prova, claro que sim não é novidade, nem poderia ser de outra forma pois o provador é um ser humano.

Se a prova fosse uma ciência exacta perderia toda a sua piada e importância, não haveriam provadores pois suas notas seriam todas iguais! Nesse caso talvez até uma máquina pudesse analisar os vinhos e produzir um relatório de prova com suas notas :)

Excelente conclusão, concordo com cada palavra. Parabéns.

rui disse...

Caro Pratas,

previsivel e inevitável. :)

Um abraço,
RC

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Rui

Os meus parabens por este fantástico post que analisa bastante bem os principais criticos Portugueses

Zé Tomaz

rui disse...

Caro José,

obrigado. Tenho momentos. Bons, para quem simpatiza comigo, de arrogância, para quem não pode comigo. :)

Deu algum trabalho. Não apenas o analisar os vários guias, mas sobretudo sintetizar a informação e elaborar um texto que fosse elucidativo e, se possível, imparcial. Ou melhor, que parecesse imparcial, o que é mais dificil do que apenas ser porque existem guias que se "põem mais a jeito" para a crítica do que outros. Como disse no post, é mais dificil de perceber quem "atira para o meio".

Um abraço,
RC

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